"Às vezes, tenho medo de estar a criar uma distância insuperável entre mim e as pessoas que me são queridas. O perigo não é a distância física, os milhares de quilómetros que muitas vezes nos separam, o perigo é deixarmos de nos entender. Mesmo ausentes, continuamos a existir em todos os momentos. Calculo a diferença horária e lembro-me das pessoas que me são queridas (...)mas os lugares onde estou, aquilo que ouço e aprendo é muito diferente dos lugares onde eles estão, daquilo que ouvem e aprendem. A experiência que temos do mundo diverge...".
José Luís Peixoto
"One day, you simply look back and realize that so much has happened in your absence, that so much has changed. You find it harder and harder to start conversations with people who used to be some of your best friends, and in-jokes become increasingly foreign — you have become an outsider. There are those who stay so long that they can never go back...".
http://thoughtcatalog.com/2012/what-happens-when-you-live-abroad/
É isto. É isto que me mata, que dói, que mói, que destrói. Como um cilindro que nos embate no peito a toda a velocidade e nos derruba. Um murro no estômago, um nó na garganta. Muito mais do que estar longe, muito mais que tudo. É a possibilidade de perder os laços que existiam. É um oceano inteiro e um par de horas de diferença a separar tudo. São dias e dias que passam e não estou lá. Não estou onde devia estar com quem devia estar. É um pânico insuportável. É um dos meus maiores pânicos. Não me falem na internet, não me digam o nome do facebook, não mencionem o Skype. Não. Isso não é nada. Ser é estar, é ouvir, é partilhar, é contar, é mandar mensagens a combinar saídas, passeios e lanches. É olhar na cara, nos olhos, ouvir gargalhadas, ver sorrisos, partilhar momentos. É ver o mundo a acontecer lado a lado com a "nossa gente". É viver e tê-los cara a cara, face a face, todos o dias. É partilhar almoços, jantares, conversas e sorrisos. É estar presente. E nada substitui isso. Nada. Nunca, jamais. E quando isso falta, os laços começam a desvanecer-se. Por mais que lutemos contra isso, por mais lágrimas que caiam, por mais pedaços desfeitos em que o coração que se possa encontrar, por mais tristeza que caiba na nossa alma. É a mais demolidora das verdades. Mas é isso mesmo, é verdade. É insuportavelmente verdade. Estamos num sítio, num fuso horário, mas vivemos do outro lado. O coração e a alma não estão aqui. Não conseguem estar aqui. Estão, sempre, do outro lado.