M-E-D-O
Tenho medo e petrifico quando penso que posso ser obrigada a continuar a viver com uma faca no coração. Tenho mesmo muito medo de ter que me habituar e conformar com as dores que sinto. Tenho medo que isto vá para além do razoável e eu me resigne. Tenho medo de me tornar uma dessas pessoas ácidas e azedas que se cingiram às irremediáveis amarguras da vida. Tenho medo de um dia olhar para a minha vida e pensar que ela me passou pelos dedos e eu não fui capaz de a agarrar por causa da faca no coração. Tenho medo de pensar que cada dia que passa são só mais 24 horas que passam por mim e que nunca mais vou ter oportunidade de as viver. Tenho medo de pensar que estou a perder vida na idade em que, ironicamente, mais a devia sentir. Tenho medo de pensar que isto não tem data de acabar e eu posso ser obrigada a lidar com isso. Tenho medo de algum dia deixar que esta dor entranhe, e nesse dia aceitar que a infelicidade vai ficar. Tenho medo de um dia olhar para trás e perceber que da vida que desenhei àquela que vivi vai mais de um oceano de distância. Sei que será sempre diferente, mas quero que a base não fique muito longe do que penso. Tenho medo disto tudo. E mais a cada dia que passa. E mais a cada dia que passa sem que nada aconteça. Tenho medo, sobretudo, que tudo continue assim. Tenho medo que não apareça outro tornado para repôr o que o primeiro levou. Tenho medo de apanhar a(s) maiore(s) decepções da minha vida. Tenho medo de achar que sou estupidamente crente e sentir-me mais decepcionada que o espaço que vai daqui à lua. Tenho medo do agora. Tenho ainda mais medo do que pode estar à espreita. Tenho tanto medo como ir daqui à lua e voltar. Mil vezes.