E depois?
E depois... e depois há sempre aqueles dias todos, aquelas tantas horas, em que nem todos os oceanos juntos chegariam para me levar até à realidade que um dia, que tantos dias, que tanto tempo, que com tanta força desenhei, pintei e colori. É aí (aqui) que me salta do coração, dos olhos e da boca toda a acidez, toda a mágoa, toda a revolta, toda a dor por tudo não ter sido diferente. É aí que ainda mais acidez me vem quando realizo que cada dia que passa é mais um pedaço, um buraco negro, um fosso que sou estoicamente obrigada a cavar entre essa distância. É aí (aqui) que me sinto completamente desabada, abandonada e sozinha por tudo e por todos (quase todos). É aí que sinto que nada poderia ter acontecido.. que tudo tinha que ter sido tão perfeito, que tudo foi tão perfeitamente desenhado por mim tanto tampo, que nada podia ter corrido mal, por mais insignificante que ele pudesse ser. É aí (aqui) que sinto e percebo que tudo isto me deixou, deixa, deixará, uma marca e uma acidez e uma revolta e uma senção de que nada poderia ter sido nem pode ser assim que não sei se algum dia passará. É aí que vejo que há marcas e feridas que talvez ficarão mal resolvidas para sempre. É aí que sinto que houve um momento muito claro em que, não sei como nem porquê, tudo quebrou. Tudo desabou, desapareceu, caiu, desfez. Que houve uma espécie de ruptura numa corrente de vida e pretecção que era sagrada. Uma ruptura que me fez perder essa corrente e me desfez, me desfaz todos os dias. Uma quebra de tudo tão rápida, tão abrupta, tão agressiva e tão inesperada, que toda a revolta e acidez são ainda maiores. É aí que sinto que tudo falhou em toda a linha. É aí que sinto que não pode haver nada pior que o não poder voltar atrás e quando penso isto ainda é pior porque ainda que assim fosse nada poderia ter feito. Assim como nada pude nem posso fazer. O tempo passou e as coisas (não) aconteceram. E é, será sempre impossível, viver algum dia aquilo que deveria ter vivido desde essa ruptura. Será sempre impossível voltar lá e essa é a dor maior. Nunca mais voltarei a ter os momentos de ouro que essa ruptura me arrancou da vida. Não posso tê-los agora e não sei se algum dia poderei ter algum. Não faço ideia de quando nem como. Só eu sei tudo o que me vem desde que tudo isto conteceu. Só eu sei o que é atravessar isto sozinha. Só eu senti e sei tudo o que me veio naquele maldito dia e nos restantes durante aquela segunda metade daquele tão maquiavelicamente irónico Verão. E depois dele. E agora. E até ao infinito, talvez. Só eu soube e sei o que isto é. E é também aí que deixo de ver caminho à frente. Que deixo de ver luz. Que fica tudo vazio, morto, apagado. É também aí (aqui) que não me posso sentir mais defraudada e decepcionada.. comigo, com todos, com a vida, com o destino. É aí (aqui) que acaba tudo e acabo eu tabém. São demasiadas feridas e demasiadas dores maiores. São demasiadas marcas mal resolvidas. São demasiadas feridas a doer. É um demasiado em tudo o que de pior a vida nos pode dar. E um nada em tudo o que minimamente poderia apaziguar isso. A vida abandonou-me, desistiu de mim, de tudo o que eu era e tinha, e estou sozinha quando toda a força do mundo seria insuficiente. É tudo isto e toda a dor negra com que tudo isto me brinda todos os dias, a todas as horas.