365 dias. 365 dias e as saudades deles, todos os dias. 365 dias e o vazio e a tristeza de não os ter aqui. 365 dias e a falta deles, de manhã, à tarde e à noite, todos os dias. 365 dias a abrir a porta e eles nunca estão, estão demasiado longe e nunca podem estar. 365 dias e as saudades das conversas únicas que só os dois conseguimos ter. 365 dias e as saudades de a ouvir resmungar com as arrumações e as limpezas. 365 dias e a bebé grande a crescer longe. 365 dias sem conseguir ser filha ou irmã e a desejar sê-lo todos os dias. 365 dias e um vazio que vai muito para além de uma casa fria em todos os sentidos. 365 dias em que o passado doeu por ter sido tão bom. 365 dias e não houve luz, sol, amor de família, almoços, jantares, fins-de-semana. 365 dias e não houve passeios, conversas, reflexões, visitas aos sítios bonitos. 365 dias e não houve Amorosa. 365 dias e não houve o abraço de celebração ou o colo de conforto de que precisei tantas (mas tantas) vezes. 365 dias em que me doeu não conseguir ser filha. 365 dias em que me doeu não conseguir ser irmã. 365 dias em que os quis ter ao lado a todas as horas. Em que quis luz, amor, sol, partilhas, sorrisos, Amorosa e tudo. 365 dias e as saudades a desfazerem o coração. 365 dias a estudar. Estudar sempre. 365 dias a estudar: de manhã, à tarde, à noite, ao fim-de-semana, ao almoço, ao jantar. 365 dias a estudar: na sala, no quarto, na cozinha, na biblioteca, no sofá, na cama, no chão, sentada, deitada. 365 dias em que estudar foi, tantas vezes, o único pedaço de futuro que tive. 365 dias em que estudar foi, muito mais que o que queria, o que me ligou à vida e ao futuro. 365 dias a encher cadernos e páginas e páginas em branco. 365 dias a ter aulas. 365 dias a apreender, a crescer e ter nisso uma força para continuar. 365 dias de partilhas e sorrisos entre aulas e testes. 365 dias de testes e notas e boas surpresas. 365 dias em que estudar foi, acima de tudo, a força que me fez caminhar e acreditar. 365 dias e a família possível. 365 dias e uma família que foi, tantas vezes, o melhor e o menos bom. 365 dias em que recebi amor. 365 dias em que me senti o mais triste que alguém pode sentir por perceber que os desejos das pessoas não são aquilo que eu quero. 365 dias em que estive, sempre, naquilo que já foi deles e nunca devia deixar de ter sido. 365 dias em que chorei, chorei, chorei. 365 em que chorei o passado, o presente e o futuro. 365 dias em que me revoltei profundamente com certas atitudes. 365 dias em que achei que a vida era injusta. 365 dias em que quis, todos os dias, celebrar um Contrato de Compra e Venda que me (nos) desse uma nova vida. 365 dias em que desejei com todas as forças que algo mudasse. 365 dias em que me senti, tantas vezes, incompreendida. 365 dias em que doeu intensamente não poderem ser eles a estar cá. 365 dias em que doeu ainda mais não poder ser ele a ter continuado a fazer o que melhor sabe fazer. 365 dias em que me doeu por saber o quanto isso lhe dói. 365 dias em que me senti esquecida pela vida e pelo destino. 365 dias e um início de ano relativamente calmo. 365 dias e eles não poderem vir cá. 365 dias e um início de semestre normal. 365 dias e uma primavera que doeu tanto. 365 dias e uma primavera que sendo tudo, não foi nada. 365 dias e estar sentada na última mesa do café a chorar uma dor tão minha e tão infinita. 365 dias e o sol de fim de dia a magoar ainda mais aquela dor destruidora. 365 dias e uma primavera que doeu na alma e no coração. 365 dias e uma primavera em que achei que não ia conseguir fazer os testes. 365 dias e um início de verão mais calmo. 365 dias e fui uma tesoureira feliz. 365 dias e fui uma tesoureira sempre cheia de trabalho e sempre com uma piada para aliviar o cansaço. 365 dias e a sensação única de ter conseguido quando terminou o mandato. 365 dias e sentir que ser tesoureira me fez crescer tanto. 365 e uma viagem que nunca queria que tivesse acontecido. 365 dias em que quis ser filha e quis ser eu a ficar e a estar com ele. 365 dias e um mês de férias que foi tudo menos sol e amor. 365 dias e um mês de opressão. Um mês em que não houve paz, sorrisos, amor, conversas e partilha. 365 dias e não conseguir ouvir uma gargalhada dele. 365 dias e um mês para esquecer com uma viagem que foi pior que a encomenda. 365 dias e ele magoou-se e doeu-me tanto ou mais a mim que a ele. 365 dias e ser finalista. 365 dias e voltar às aulas. 365 dias e ter saudades de algo que ainda nem acabou. 365 dias e mais estudo e mais testes. 365 dias de bons amigos. 365 dias em que as minhas meninas estiveram lá sempre, nas aulas, nos intervalos, no riso, nas piadas, nos testes, nos almoços, na conversa. 365 dias e sentir que afinal a universidade pode significar também amizade boa, sorrisos e partilhas. 365 dias e saber que lá estou acompanhada. 365 dias e os amigos de sempre a continuarem a ser o que são e a estar sempre lá, é tão bom! 365 dias em que continuamos, de certa forma, a crescer juntos e a rir juntos. 365 dias de cafés, de jantares, de algumas noitadas, de férias e de muito mais. 365 dias de partilhas e conversas. 365 dias e um coração sem se acertar com a cabeça. 365 dias e o coração a escolher sempre os piores caminhos, ainda bem que a cabaça vai mandando. 365 dias sem saber o que o coração quer (ou não). 365 dias e perceber que se calhar até há qualquer coisa. 365 dias e não querer (ou querer) que essa coisa exista. 365 dias e afinal não disfarço assim tão bem quanto isso. 365 dias e querer muito mais que aquilo que poderia ter. 365 dias a tentar que a cabeça ponha algum bom senso no coração. 365 dias e deixar, todos os dias, que seja a vida a decidir. 365 dias e acreditar, sempre, que o que tiver de ser será e o que não tiver de ser não será. 365 dias e não aguentar o peso de ter de ser eu a decidir. 365 dias em que doeu saber que se calhar perdi. 365 dias em que vi e ouvi o que queria e, também, o que não queria. 365 dias em que doeu não conseguir que o coração e a cabeça acertem em alguém decente de uma vez por todas. 365 dias e o medo, todos os dias. 365 dias e não querer que seja o medo a impedir de viver. 365 dias e o medo de perder por não dar um passo nesse sentido. 365 dias e não querer perder, não querer que haja alguém. 365 dias e acreditar, sempre, que a escolha será também da vida e o que tiver de ser será. 365 dias em que chorei, também, isto. 365 dias que começaram com lágrimas, muitas, e que terminam também com lágrimas. 365 dias de estudo, saudades e bons amigos. 365 dias em que não houve Páscoa, Natal ou aniversários. 365 dias em que doeu que o aniversário fosse tão triste. 365 dias em que doeu não haver natal mas ser natal no mundo. 365 dias em que, sim, doeu ver pais e filhos e doeu ver irmãos. 365 dias em que doeu ver celebrações de familia. 365 dias em que tentei que tudo fosse mais leve. 365 dias em que quebrei mas não parti. 365 dias em que resistir foi a meta. Agora sim, venha a família e o amor.