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Manga Lima

Manga Lima

26
Mar17

Pólos opostos

Manga Meia-Loira

Sim, é verdade que os opostos se atraem. Muito infelizmente acontece, deve ser alguma lei da física e eu nunca fui lá muito boa nisso. Antes não fosse verdade, meu caro, antes não fosse e eu tinha uma parte dos problemas resolvidos. [Sobre ontem, sobre aquilo que ouço e fica a martelar, sobre a vida. Caramba.]

21
Mar17

(Des)arrumações

Manga Meia-Loira

Sim, preciso muito (tanto) de acreditar, todos os dias, que vai haver um tempo para levar tudo o que está dentro deste quarto e voltar a pousar em casa. Que vai haver um tempo para levar o coração de volta àquilo que ficou naquela casa. De a voltar a encher de roupa, vida, sorrisos e sapatos. Às vezes não conseguimos pensar além porque o presente dói. Às vezes temos mesmo de tentar viajar para o futuro para recuperar energias. Vai haver um tempo para largar estes últimos anos neste quarto e nesta casa e para voltar para lá. Vai haver um tempo de pegar em tudo a sorrir e levar o melhor comigo. Tem de haver.

19
Mar17

(Mais um) Dia do Pai

Manga Meia-Loira

Há ausências forçadas que nos marcam. Muito mais quando se sucedem ano após ano. Muito mais quando sabemos que temos realmente o melhor pai do mundo. Há ausências que nos doem todos os dias, nos almoços que não partilhamos, nos jantares em que não o tenho para rir comigo, no final de cada dia quando abro a porta e ele não está para me ouvir a falar do dia e de tudo. Há ausências que nos doem e doem muito e sempre. Doem quando não tenho a voz dele para me acalmar, quando não tenho o abraço de que preciso, quando não tenho a voz da razão sempre presente para me orientar, quando não tenho a presença dele e tanto preciso, quando não o tenho para dar passeios a pé ou para ver a vista sobre a cidade, quando não o tenho no meu aniversário ou quando não o tenho para viver o natal. E os anos vão passando, e o tempo vai correndo, e não, nada melhora. Não melhora porque o tempo ainda nos marca mais. Não sei até quando, só sei que o quero de volta e espero recuperar muito de tudo o que estamos a perder por entre estes anos. Estou cansada e não sei até quando ele vai estar a um oceano de distância. Não é fácil viver na esperança de que tudo estará bem quando acabar bem e de que nunca é tarde demais. Tenho saudades, sou outra vez a menina que precisa do colo dele e quero-o de volta. Surpresas boas precisam-se.

15
Mar17

(Falta de) Tempo

Manga Meia-Loira

O tempo, sempre o tempo. O tempo que se esgota e que me falta todos os dias. O tempo sempre perdido entre salas, aulas, códigos, horários, cadernos, folhas e estudo. O tempo roubado à família e aos amigos. O tempo roubado a todas as outras coisas boas da vida. Não tenho tempo: não tenho tempo para parar, pensar ou escrever. Não tenho tempo para me sentar simplesmente a conversar ou a almoçar ou a jantar. Não tenho tempo para descobrir músicas ou ler um livro. Não tenho tempo para ir ao cinema. Não tenho tempo para ficar simplesmente deitada na cama a pensar. Não tenho tempo para pausar a vida e respirar. Não tenho tempo para olhar a vista da varanda ou para cheirar o ar mais quente das noites de primavera. Não tenho tempo para espreitar o mar, cheirar as flores do jardim ou tomar o pequeno-almoço sossegada. Não tenho tempo para ver a cidade aos meus pés, passear por ela ou comer um gelado. Não tenho tempo para a Amorosa nem para nada. Não tenho tempo e, bolas, isto ainda nem começou. Quando escolhi este caminho sabia que não era fácil, também não queria que fosse fácil nem queria um caminho fácil... mas entretanto houve uma vida inteira que mudou e houve uma Ju nova. E esta Ju tem um orgulho e gratidão infinitos para com ela pelo percurso que está a fazer, mas também já viu que tem de haver muito mais na vida. Há coisas que não tem preço: ter tempo para jantar, conversar, rir, ler ou ir ao cinema, ter tempo para aproveitar a família e as pessoas que gostam de nós. Nada paga isso. Não sei o que os percursos do futuro me reservam, mas sei que em tudo o que depender de mim e me for possível, privilegiarei as escolhas que me permitirem ter mais tempo. Não tenho perfil para não dar tudo de mim e estou numa área em que as profissões são exigentes em tempo e dedicação, mas já estou a fazer escolhas que a Ju que existia antes nunca faria e isso deixa-me tranquila a um nível que nunca imaginei ser possível. Imagino-me sinceramente, um dia, a trocar tudo isto por outra coisa que me permita mais tempo e uma vida mais vivida.. sem qualquer problema ou dúvida. Ainda bem que penso assim, ainda bem que escrevo isto e ainda bem que já percebi algo tão simples. E sim, se um dia tiver que me arrepender, prefiro mil vezes que seja com a consciência de que tentei. Tentei viver, tentei ter tempo, tentei aproveitar e tentei lutar pelos vários sonhos que tenho e não apenas por um ou alguns.

14
Mar17

2017, Março

Manga Meia-Loira

Março corre. Março e a certeza de que até ao apito final (feliz) é jogo. Março e a vontade de que haja surpresas ao virar da esquina. Março e o cansaço de uma vida repetida à espera do novo. Março e a vontade de um futuro feliz de tão desejado. Março e a profunda vontade de que a vida floresça com a primavera. Março e um resto de ano inteiro por viver. Março e a vontade de ver a vida a rodar. Março e a vontade, sempre, do regresso final feliz. Até ao apito final é jogo. Março e eu mereço.

05
Mar17

Barcos de Domingo

Manga Meia-Loira

Não, não sei para onde vão os barcos que construímos quando estamos tristes mas a vida às vezes é tão longa e repetida que até gostava de navegar com eles. É tão chuvosa, cinzenta, repetitiva e repetida que os barcos se fazem mais presentes. E bastava uma luz, bastava um telefonema a qualquer hora, uma mensagem a meio de uma aula, uma chamada perdida e não vista, uma frase dita por entre uma refeição ou uma entrada pela porta com um sorriso e uma notícia. Bastava esse contrato de compra e venda de uma vida nova, e os termos e condições já são o que menos me preocupa. O que me preocupa é não saber dos barcos que construímos quando estamos tristes por entre domingos longos e chuvosos e mais ainda não saber até quando terei de continuar a construí-los. A Ju que existia antes de 2012 leu um poema que hoje faz todo o sentido, cincos anos e uma vida inteira depois. Porque na vida, no amor e em tudo o resto o que mais dói é o quase e o ficar aquém. " Quási Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse àquem... Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído Num baixo mar enganador de espuma; E o grande sonho despertado em bruma, O grande sonho - ó dôr! - quási vivido... Quási o amor, quási o triunfo e a chama, Quási o princípio e o fim - quási a expansão... Mas na minh'alma tudo se derrama... Entanto nada foi só ilusão! De tudo houve um começo... e tudo errou... - Ai a dôr de ser-quási, dor sem fim... - Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim, Asa que se elançou mas não voou... Momentos d'alma que desbaratei... Templos aonde nunca pus um altar... Rios que perdi sem os levar ao mar... Ansias que foram mas que não fixei... Se me vagueio, encontro só indicios... Ogivas para o sol - vejo-as cerradas; E mãos de herói, sem fé, acobardadas, Puseram grades sôbre os precipícios... Num impeto difuso de quebranto, Tudo encetei e nada possuí... Hoje, de mim, só resta o desencanto Das coisas que beijei mas não vivi... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Um pouco mais de sol - e fôra brasa, Um pouco mais de azul - e fôra além. Para atingir, faltou-me um golpe de aza... Se ao menos eu permanecesse àquem... Mário de Sá-Carneiro,

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