1. Ter a benção de nascer numa família perfeitamente (im)perfeita. Nascer num núcleo duro de família que é tudo aquilo que verdadeiramente a palavra pode significar. Ter os melhores pais do mundo. Crescer em amor, por amor e com amor. A família ser base, raíz e força.
2. Gostar de ler, ler e ler. Gostar de conversar e comunicar. Crescer no meio de livros, conversas e palavras.
3. Crescer com uma saúde frágil e isso ser algo que não nos afeta. Dar preocupações sérias à família por causa da saúde sem ter idade para ter noção dos problemas. Agir e viver como se nada fosse, haja médicos e tratamentos e tudo está bem.
4. Crescer, literalmente, no negócio da família e dentro dele. Comer, estudar, estar, conviver e ser por entre trabalho, clientes, conversas e risos. Saber que temos uma vida inteira neste sítio que é a nossa verdadeira casa.
5. Gostar da escola, de estudar e de tudo o que se relacione com isso. Gostar muito de ter boas notas e de ser boa. Querer sempre dar o nosso melhor independentemente de tudo o resto.
6. Criar um grupo de amigos para lá de fantástico no ensino secundário e continuar os laços para lá dos anos, já la vão sete anos. Querer muito continuar a crescer com eles e a vê-los crescer. Agradecer isso sempre.
7. Praticar natação, odiar desporto e adorar água. Parar a natação por falta de tempo e agora poder volta (ainda bem).
8. Saber que "Eu tenho um lugar. Por isso nunca me perco no mundo imenso", como diz José Luís Peixoto. Perceber perfeitamente que preciso desse lugar onde nasci, cresci e vivo para estar segura, tranquila e poder ser verdadeiramente eu.
9. Ter dúvidas e escolher estudar Direito. Odiar a primeira impressão e ver esse ódio transformar-se em amor. Gostar, muito, de tudo o que se aprende e cresce. Dedicar-se ao curso e gostar ainda mais de tudo.
10. Encontrar na universidade pessoas espetaculares que se tornam bons amigos e nos acompanham e influenciam positivamente.
11. Ter uma irmã. E ela ser um amor e o oposto de tudo o que somos.
12. Viver uma fase negra por volta dos 18 anos, não saber quem somos nem para onde vamos e (re)construir aos poucos o caminho da vida. Passo a passo recuperar e deixar as feridas no lugar.
13. Ser filha à distância durante (até agora) cinco anos. Sentir, todos os dias, a falta do abraço e das palavras deles. Viver "em saudades". Sentir-me pequenina e sozinha com a dor desta ausência que me marca e se mantém no tempo.
14. Ser irmã à distância. Não saber o que é ser irmã de colo, de abraços e de cheiro. Não saber o que é ser a irmã que todos os dias sorri, resmunga, chateia, pergunta e está presente. Ser "irmã" de férias. Não relevar demasiado esta ausência porque a dos pais se sobrepõe a tudo o resto.
15. Querer, todos os dias, ser filha e irmã presente. Querer palavras, conselhos, abraços e sorrisos. Querer segurança e certeza na família e tê-los e sabê-los perto e bem. Viver a projetar um futuro onde nos vamos sentar sempre todos à mesa as vezes que quisermos e onde eles vão estar a uma porta de distância, basta abrir.
16. Ter a melhor recordação possível de uns avós maravilhosos que foram tudo o que os avós devem ser. Ter saudades e sorrir por sabê-los bem, só podem estar bem. Sabê-los a zelar por nós e em paz.
17. Fugir do amor. Ter medo, ter o maior medo do mundo do amor e evitá-lo. Não querer entregar o coração. Ter receio de que nos roubem o coração e não o tratem bem, ter pavor de que nos magoem o coração e destruam os sonhos.
18. Descobrir que o coração só nos prega partidas e faz más escolhas. Ter uma paixão (perto de impossível por várias razões) por um amigo. Tentar negar, forçar a negação, evitar a todo o custo os sentimentos. Admitir gradualmente, a medo e só para nós que há uma paixão. Saber que racionalmente não a queremos viver. Mas nisto de sentir a razão não manda nada.
19. Evitar a paixão que se tem, perceber que a outra pessoa também tem nela esta mistura de sentimentos, ter vontade de conversar sobre isto e não conseguir e sentir angústia. Ter vontade de chorar, de lhe contar tudo às vezes e ignorar tudo outras vezes e deixar que a vida, o destino, o tempo ou o quer que seja ajude e tudo se resolva como tiver de se resolver.
20. Passar férias com amigos. Férias, dias, fins-de-semana e isso tudo. Uma, duas, três vezes. Levá-los para a nossa casa de férias e ser inacreditável de tão bom.
21. Querer muito, assim mesmo muito, viver um amor para a vida toda. Daqueles resistentes, fortes e bons. Doces, melosos, ternurentos e lamechas. Querer muito, assim mesmo muito, planear o casamento, viver a conjugalidade e a parentalidade. Querer, enfim, casar e ser mãe e não ter qualquer problema em admiti-lo para comigo própria. (Conseguir isto será outra história, mas havemos de lá chegar.)
22. Chegar aos quase 23 e ser-se nostalgia. Não ter grande vontade de fazer anos pela primeira vez na vida. Sentir que ainda se tem tanto por fazer e por conseguir. Sentir que nos falta a esperança e paz que só o amor dá. Sentir que o tempo passa demasiado rápido. Sentir que a vida é curta e são tantos os abraços que ficam por dar e receber. "É a vida que segue e não espera pela gente..." como diz a música.
Para o ano há mais. E melhor, espero.