Hoje fez cinco anos que entrei na universidade. Na verdade não entrei, fui colocada e inscrevi-me mas só "entrei" no ano seguinte porque estive do outro lado do mundo. Ainda assim fez hoje cinco anos e dei por mim de boca aberta a pensar que já passou este tempo todo. Lembro-me da ansiedade, lembro-me de como vivi este fim-de-semana na altura e os dias anteriores, lembro-me daquele sábado, lembro-me de estar no café e correr constantemente para o computador, lembro-me de não receber logo o e-mail e lembro-me de ir à página da minha candidatura e confirmar que tinha ficado naquilo que queria. Lembro-me da reacção do meu pai e da mistura e mescla de sentimentos que tinha em mim por aqueles tempos. Era tudo o que mais queria e, no entanto, era um sonho que me estava a ser arrancado aos pedaços. Era "viver o sonho" na hora errada e no tempo errado. A ferida de ter ido para longe e não ter ficado a viver o que era meu (tão meu) foi enorme. Doeu-me no fundo da alma durante demasiados dias, semanas e anos. Mesmo com mais de um ano de psicoterapia acho que há sensações daquela fase que nunca consegui explicar. Felizmente, e à distância de cinco anos e muito crescimento, a ferida está mais que cicatrizada (esquecida é impossível) e estou mais virada para o que virá do que para o que já lá vai.
Aquilo que posso pensar destes cinco anos? Que passou uma vida inteira. Pelo meio estive do outro lado do oceano, foi a pior experiência da minha vida, ganhei traumas que nem uma vida de terapia conseguiria deslindar e resolver, percebi que tinha de voltar, voltei e doeu-me viver em todos os dias daquele recomeço, senti-me perdida e sem caminho, fui construindo um caminho muito meu e do qual tenho o maior orgulho do mundo, fiz o curso, correu mais que bem quando tinha tudo para correr mal, mudei (tanto) a perspetiva que tenho da vida, percebi o quanto preciso da família e das pessoas de quem gosto, realizei que quero casar e ser mãe e isso vai ser sempre muito mais importante que qualquer carreira ou cargo, quero todos os dias voltar a tê-los perto, desejo profundamente todos os dias que haja um tempo em que vamos estar sempre por perto e desejo ainda mais viver a conjugalidade e a parentalidade com eles ao lado e por perto. O maior presente de tudo isto é esse: a Ju que só via profissão/carreira/sucesso profissional à frente é hoje uma Ju que quer, muito mais que qualquer outra coisa na vida, ter o coração e o colo cheio e realizar-se como filha, mulher e mãe. Uma Ju que quer ser a filha presente e que ver os pais no papel de avós. Uma Ju que, Deus o queira e eu o possa, há-de conseguir tudo isso e também uma carreira de sucesso. Uma Ju que, cinco anos depois, conseguiu aquilo que naquela noite de sábado era uma incerteza e um desejo. Uma Ju que, ainda que tenha alguns dias sem sol e um coração entre o confuso e o "confusado" há-de lá chegar. A vida não é uma corrida e o mar é já aqui. E daqui a cinco e/ou dez anos hei-de sentar-me nalgum sofá aqui perto a escrever que consegui aquilo que nesta noite é uma incerteza e um desejo. (A)mar e o mar serão já aqui.