Não sei o que escrever ou como escrever. Aliás, a minha expressão em relação a ti é "não sei". Não sei mesmo nada. Não sei como ou quando é que isto começou. Não sei porquê nem sei o que isto é para ti, se é que é alguma coisa. Já nos conhecemos há tantos mas tantos anos, caramba! Nem sei desde quando, só me lembro de te conhecer da escola básica e de no nono ano nos termos cruzado uma vez ou outra. Depois estávamos a fazer a matrícula e descobrimos que estávamos a escolher a mesma área na mesma escola para o ensino secundário. E calhou de estarmos na mesma turma. Mal eu imaginava (acho que não imaginava, não sei) que dali ia sair um grupo de amigos no verdadeiro sentido de grupo e de amigos, e que tantos anos depois continuaríamos a ser amigos. E sempre fomos amigos e sempre conversamos e era só isto e estava tudo bem, acho. Sempre fomos tão diferentes em tudo! Íamos estando juntos e conversando, sempre em grupo, mas só isto. Sempre tivemos cada um a sua vida. Duarante o secundário e depois. Seguiu-se a universidade e continuamos a ter cada um a sua vida e a ser só amigos, e esteve sempre tudo bem. Tudo muito claro na minha cabeça, como sempre. Até porque podíamos estar semanas sem nos vermos ou falarmos e sem problema algum. Depois há a vida de cada um: eu nunca fui muito rapariga de namorar ou de pensar em ter uma relação. Sempre fui tendo coisas mais importantes para fazer e isso foi ficando (fica?) sempre para trás. Tu sempre foste exatamente o contrário, e para além das relações mais sérias que tiveste foram muitas as outras raparigas com quem andaste, e isto falando só daquelas que eu sei. E sempre vivi bem com tudo isto: éramos amigos, parte de um grupo de amigos, e tudo muito bem. Até que depois não sei o que foi acontecendo. Não sei como nem quando nem porquê. Sei que houve um aniversário teu em que íamos pela rua e acho que foi aí, já eu estava no segundo ano, que fizeste o primeiro comentário que me deixou a pensar duas vezes. Sim, foi aquele "és uma gata" de que não estava à espera. Mas isso passou-me quase logo e tudo continuou. Depois há aquele "se ele é parecido comigo devias casar com ele". E aquele "ai agora vamos sozinhos". Sei também que foi nessa altura que me disseste que o nosso amigo tinha razão quando dizia que nos dávamos muito bem.. e eu disse que isso era muito fixe. Depois há o momento em que assumes que tens uma namorada. E fiquei a pensar duas vezes mas acho que fui sempre ultrapassando tudo. Na verdade não sei, as coisas foram simplesmente acontecendo e passando e tiveste (e tens) sempre a capacidade me deixares aparvalhada. Pouco depois de teres começado a namorar voltaste a ter atitudes que me baralharam. Estávamos de férias e disseste "não sei porque é que não te declaras a mim", "encaixamos perfeitamente, sabes?" ou o facto de teres deitado a tua cabaça no meu colo. Depois há o jantar de natal do ano passado, lembras-te? Devias, porque eu não me esqueço da tua atitude quando te sentaste na minha cadeira ou daquela foto. E há o meu jantar, e o momento em que eu andei à roda. E há, e aqui é que eu caí na realidade, aquele fim-de-semana na praia. Sabes, cinco meses depois ainda não sei nada.. não sei o que aquilo significou para ti, o que aqilo significou para nós, o que foi aquilo. Sei que quando percebeste que eu tinha bebido vinho quiseste muito testar se eu queria alguma coisa contigo mas não sei porquê nem o que querias fazer com isso. Sei tudo: sei que saíste comigo do prédio, fomos ter com dois amigos que já tinham saído, e continuamos pelo passeio. Tu a quereres ir sempre comigo à frente dos nossos amigos, tu a íres já a meio da rua e a dizer que íamos dormir juntos (a sério? porquê quando sabias que não?), tu a insistires nisso e a dizer que íamos acabar juntos. Depois, já perto da piscina, tu a insistires e a perguntar se eu queria ter alguma coisa contigo.. não percebi. Querias o quê? Que eu dissesse que sim? E se eu tivesse dito que sim? E se eu, na loucura, te tivesse espetado com um beijo? O que é que tu ias fazer? O que é que tu ias dizer? E a tua vida e a tua namorada? E sabes o que é que foi pior em toda aquela noite? Foi depois antes de virarmos para o prédio eu a dizer que já devíamos estar a dormir há muito e tu a dizeres que só de me ouvir dizer isso o teu coração até saltava. A sério? Agora que escrevo isto só me apetece dar-te um estalo.. ou torcer-te o pescoço. Porquê aquilo? Porquê aquilo quando somos amigos há tantos anos? Porquê aquilo quando tens namorada e sabes que não aconteceu nem ia acontecer abslutamente nada entre nós? Todos os momentos daquela noite me estão atravessados porque não tenho respostas. Sim, tenho vontade de me zangar contigo só de pensar nisto e na forma como consegues criar este tipo de situações. Se o objetivo é deixar-me a pensar ou fazer-me sentir louca então parabéns, consegues sempre. Mas não, isto não acabou ali.. nem por eu ter ficado aparvalhada com tudo e ter dito que não queria nada contigo. Depois vem o meu aniversário e lembras-te de me dizer que podíamos ter um filho e que até ias comigo para outra cidade qualquer viver... ou começar uma vida a dois. E não ficamos por aqui porque há sempre algo que fazes ou dizes que me deixa a pensar.. e sempre diferente para me apanhar de surpresa. E sempre que os nossos amigos falam do fim-de-semana na praia e tu foges da questão a brincar? Não sei. É sempre esta a expressão, "não sei". Não sei como nem quando começou, sei que nos últimos tempos isto me deixa completamente confusa e baralhada. E a somar a isto, ainda há aquela tua mania de insistir que eu não sei cozinhar e não sei fazer tarefas domésticas e não sei fazer nada disso. E tu a dizeres que não querias ter uma mulher assim (a sério que achas normal dizer-se isso entre amigos?) E tu a insistir que eu devia arranjar namorado, e tu a perguntares se te ando a trair e esse tipo de coisas. E sabes o que mais me irrita? Não conseguir confrontar-te, não conseguir ser assertiva como consigo ser em tudo o resto, não conseguir fazer, pelo menos, o que tu fazes. Porque fico sempre só abananada. Se tens namorada e gostas dela, sê feliz, a sério, mas deixa-me em paz. Se está tudo bem, deixa-me em paz, deixa-me viver a minha vida e seguir o meu caminho. Não brinques, não interfiras, não testes, não faças nada. Não sei o que queres, não sei o que sentes, não sei o que quero, não sei o que sinto. Sei o que queria: que nada disto tivesse acontecido e eu estivesse em paz contigo. E sabes o que é pior? É que isto só tem duas explicações: ou têm sido uma brincadeira de muito mau gosto, e não mereces nada de mim e és uma pessoa horrível se isso for verdade, ou então sentes alguma coisa e tens feito tudo errado, até porque tens namorada. Até posso perceber que seja muito difícil ter alguém e achar que se pode gostar de outra pessoa, muito mais quando até há um grupo de amigos pelo meio, mas eu não precisava de mais isto a chatear-me. Não precisava mesmo. E nesse sentido, já me tens magoado muito mais que aquilo que eu algum dia imaginava. Muito para lá de tudo. Já magoaste, já magoas.. mesmo que não queiras. Magoas com a tua presença, magoas com tudo o que dizes, magoas com tudo o que fazes. Magoas mesmo que não faças ou não digas nada. O que mais me irrita é que não me consigo zangar contigo... ou pelo menos ainda não consegui... e na verdade também não queria. Só queria que isto se resolvesse em paz, seja como for que se resolva.