30 de Abril de 2012 / 6 anos depois
Avô, há seis anos que nos despedimos, em família, do azul dos teus olhos e da luz do teu sorriso! Às vezes parece que passou uma eternidade e foi tudo numa outra vida, outras vezes olho para aquele tempo como se tivesse sido ainda ontem. Tudo aconteceu naquele ano que me (nos) ficou marcado a ferros. Em Abril estava (estávamos?) muito longe ainda de imaginar tudo o que aconteceria depois. Aquela Ju que se despediu de ti era uma Ju triste mas uma Ju cheia de sonhos e objetivos - todos quantos os que podem caber no mundo de uma menina de 17 anos para quem a vida é (era?) tudo aquilo que ela queria. Estava longe - muito longe mesmo - de imaginar que algum dia os meus pais iriam para fora. Ainda mais longe de imaginar que com a decisão deles de irem viver para o outro lado do mundo eu perderia o chão, os sonhos e o mundo em que vivia. Foi tudo demasiado repentino, abrupto e demolidor para mim. Só com tempo - muito tempo - muita psicoterapia, muita lágrima, muito drama de fim de mundo e uma força do tamanho do mundo fui começando a reconstruir o meu caminho. Não tem sido fácil, olha para o meu caos atual quando já passaram seis anos?!, mas a verdade é que tenho sido mestre na arte de sobreviver. As feridas que vem da família são sempre as mais profundas e difíceis (perto do impossível) de curar, talvez seja por isso. Seis anos depois eles continuam lá, eu estou a ter novamente um ano de que não me quero sequer lembrar e às vezes tudo me parece demasiado nublado e cinzento. São demasiados os dias em que a vida e o amor me parecem caminhos separados, tem sido demasiados ao longo destes anos. Mas hoje tinha de relembrar aquele tempo e aquele espaço em cresci e relembrar isso é relembrar-te. É sorrir e estar genuinamente grata por ter tido dezoito anos em que tudo aconteceu da forma certa no sítio certo, e isso deve-se também a ti. Onde quer que estejas sei que estarás a olhar por nós. Quanto a mim resta-me continuar a ser mestre na nobre arte de sobreviver. E acreditar que eles voltarão num qualquer destes dias com a naturalidade com que a chuva cai e aí eu farei as pazes com estes seis anos que me tem sido marcados a ferro a fogo. E acreditar que, também com a naturalidade com que a chuva cai, a vida me guiará até aos braços de alguém que me seja colo e abrigo de amor. É isto. Há seis anos não poderia imaginar a vida de hoje - nunca imaginaria a quantidade de desafios, provações e privações. Espero não imaginar hoje a vida que terei daqui a series anos, mas desta vez quero não imaginar a quantidade de cosias boas que os próximos anos trarão. Um beijinho. Hoje e sempre.