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Por aqui a vida rola, muitas vezes mais torta que direita. A cabeça precisa de férias, o coração de colo e a alma de paz. Ele continua a deixar-me completamente à toa com as palavras e os gestos que tem, e eu fraca que sou não consigo fazer nada. Não imaginava eu como isto ia ser difícil - quanto mais tempo até algo acontecer é isto se resolver, meu Deus, quanto mais tempo? Se for para ser que seja, se não for para ser já devia ter passado há muito! As férias estão quase quase, e a chegada deles há-de trazer alguma paz e algum colo. Espero eu que sim (preciso mesmo muito muito que sim). Falta tratar do estágio (Oh vida, e ter disposição e paciência para isso?). Falta o regresso final (sim, o final.. que ainda não é este). Falta tanto... mas eles para a semana estão cá e eu já sou feita de lágrimas só de imaginar o quanto esperei por este momento - o quanto precisei disto e deles todos os dias deste ano letivo e o quanto chorei por eles. Daqui a uma semana eles estão cá e tudo vai ter que bater certo no mundo ainda que por um só segundo.
A vida às vezes (muitas!) gosta de brincar com o nosso coração.
E eu tento contrariar como posso e até onde consigo, mas depois sento-me na mesa e ele faz questão de me lembrar da cumplicidade que temos, de ir buscar assuntos que sabe que eu gosto, de me fazer falar e brincar, de me fazer rir perdidamente, e eu volto a ter um novelo de sentimentos que não se desenlaça nunca. E eu, assertiva, inteligente, racional, fria e desligada que sou, viro uma fraca, uma menina que se deixa levar e não se consegue impôr. E eu, fraca que sou, não consigo conversar sobre isto nem mostrar-lhe que não é assim que funciona. E eu, fraca que sou, não lhe consigo bater o pé e dizer que ou quer e conversamos sobre isso, ou não quer e deixa-se destas brincadeiras.
A sério, eu ainda não acredito como é que é possível eu ser tão racional, prática e pragmática em tudo e tão poética e sentimental nisto dos amores. Não sei. E sei ainda menos como é que ele me consegue tocar assim o coração por inteiro, sem pedir licença e sem que eu possa fazer nada.
Há-de passar. Haja o que houver, seja de que forma for.
Uma pessoa anda com uma dor de cabeça do tamanho do mundo, entre um cérebro lento e nublado e um coração magoado e desfeito em pedaços. Uma pessoa anda descrente em tudo e com uma fé e esperança na vida assim em níveis para lá de negativos. E uma pessoa tem de abrir um manual de Dirieito para um projeto, e, sem esperar nada, bate assim de frente (ou de chapa) com um texto destes. Caramba, fiquei completamente abananada e de coração dormente.
"E as lágrimas?
Haverá sempre lágrimas, mesmo que não sejam para analisar.
Haverá sempre lágrimas, porque sempre haverá razões para chorar.
Haverá sempre lágrimas. Mas ao menos haja a liberdade de tentar,
de tentar ser marido ou mulher, de tentar ser companheiro ou
companheira, de tentar ser pai ou mãe. A liberdade de tentar ser feliz,
constituíndo família, a liberdade de tentar ser.
(Maringá, 12 de Abril de 2012)"
In PINHEIRO, Jorge Duarte, O Direito da Família Contemporâneo, Coimbra, Almedina, 2016
E este texto bateu-me de chapa no coração por duas razões: pela família que me falta todos os dias e está a viver demasiado longe de mim, e pelo sonho gigante que é para mim um dia construir família e ser mulher e mãe (ainda que negue terminante e absolutamente que tenho esse sonho em frente a toda a gente... por medo e por descrença de que um dia poderá acontecer).
Não, os livros de Direito não falam só de Dirieito.. nem o Direito é desligado de sentimentos e sensibilidades. E eu já levo cinco anos disto!
De Santo António em Santo António a vida marca um ano. Não poderia imaginar há um ano, naquela noite na vila, quão difícil a vida conseguiria ser até hoje, nestes 365 dias. Esta fase final de ano letivo e de planear o próximo está a deixar-me esgotada e completamente exausta. Nunca tive um ano de tantas lutas e de lutas em tantas frentes. Quase nada se salvou. Foi desde a família longe quando eu precisava que estivesse perto, a uma mistura de sentimentos de paixão por alguém que conheço há tantos anos que me deixou de coração desfeito, passando pelo mestrado que foi uma decepção em toda a linha. Tive dias (muitos) em que me apetecia levantar os braços, mãos-no-ar para coa vida, e dizer "Pronto, vida, venceste e eu rendo-me aqui e agora porque já não tenho coração para mais" mas não. Tive de ter uma força maior que o mundo para engolir em seco, respirar fundo e deixar as lágrimas caírem e secarem sem nunca parar e sem nunca me estender no chão. Há um ano eu, não tendo uma vida cor-de-rosa, via um futuro a muitas cores. Hoje, quero seguir em paz. Não preciso de cores nem de um arco-íris, só de paz e de força para seguir sem parar. Daqui a um ano não sei, só espero que a vida seja o que tiver que ser. E se der para descontar a quantidade de pancadas a sangue frio que este coração levou melhor.
Hoje lembrei-me disto Para onde vão os barcos que construimos quando estamos tristes? e continuo sem saber a resposta.
Junho chegou e chegou a chuva. Chuva fora de casa e (ainda mais) dentro do coração. De uma tristeza profunda e acho que acumulada. E agora? Continuo sem saber para onde vão os barcos que construímos quando estamos tristes (profundamente tristes) e a vida é uma mistura de nevoeiro na mente e chuva no coração (e nos olhos). Agora como quando escrevi aquele texto... mas ainda mais agora.
A vida brindou-me, durante os meus primeiros dezoito anos, com o melhor do mundo. Olho para lá e estava lá tudo: amor, família, amigos, sonhos e futuro. A partir daí, e com a ida dos meus pais para o outro lado do oceano, quase todos os dias são uma luta. Quase seis anos depois, e ainda que eles tenham planos para regressar, não consigo ver nada de bonito à volta. Felizmente também nunca imaginei o quanto me poderia custar gostar de alguém, ou de como esta mistura de sentimentos por ele se iria juntar a tudo o que já tinha de ultrapassar. Se, por magia, pudesse pedir um desejo, esse desejo seria concerteza deixar de ter estes sentimentos e voltar a ter o coração em paz e livre para quem viesse por bem. Assim, sou só um coração cansado e desgastado de tanta pancada que tem levado, à beira da exaustão. Ainda bem que a Ju de há seis anos era tão incrivelmente feliz e estava tão longe de imaginar tudo o que se seguiria. Só me resta um desejo: quando crescer quero muito (mesmo muito) ser criança outra vez. Com todas as minhas forças (e sonhos).
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