Hoje voltei a entrar na Frondosa. Estava de coração pesado (quão difícil e interminável consegue ser Agosto quando nos falta a família, o amor é dor e tudo nos magoa?) e entrei. Fui à parte de cima para voltar a pisar a terra que tem nela todos os nossos sonhos e um futuro à espera de acontecer. Era fim de tarde e a mistura entre o sol e a sombra à volta da nossa casa velha de pedra, que em breve há-de ser reconstruída e materializará sonhos, era demasiado bonita. Antes de entrar e enquanto estive por lá a mistura de emoções fez-me largar uma série de lágrimas: a vossa ausência a doer-me, numa dor multiplicada por estarmos num mês que devia ser dos mais bonitos e especiais para nós; a quantidade de sonhos à espera de acontecer que aquilo significa; a vontade gigante e inexplicável de que tudo aquile fique (re)construído rapidamente e esteja pronto; o medo do tamanho do mundo de que algo possa correr mal ou demorar; a minha necessidade profunda de vos ter por perto, sempre; a certeza de que o nosso e vosso lugar é aquele e era lá que vocês já deviam estar; a vontade profunda, intensa e indizível que tenho de vender o café e o medo de que possa não acontecer; a vontade de vender a casa de baixo; a vontade de mudar tudo e tão pouco depender de mim e das minhas ações; o (des)amor que tenho por ele e as dúvidas, angústias, incertezas, tristezas, dúvidas, esperanças e desesperanças que isso me traz; os sentimentos que ele fez nascer e crescer em mim sem, talvez, ter grande ideia disso e a dor que isso me provoca, ou a dor que me provoca não o ter; eu ali e ele sempre perto demais e longe ao mesmo tempo, eu ali e a sensação constante que tenho de estar nos braços dele sem nunca ter estado nos braços dele; eu ali e ele com um lugar cravado na minha cabeça e, por isso, no coração (ou no coração e, por isso, na cabeça); Andei à volta da casa, pisei e repisei a terra, subi as escadas, fui pelo terreno e todos aqueles sentimentos tornaram aquele momento intenso. Era eu e a ausência deles a moer-me o coração, era eu e a esperança que aquelas paredes à espera de serem reconstruídas transmitem, era eu e a vontade profunda e intensa de que eles voltem, era eu e a necessidade de vender o café e a vontade de vender a casa, era eu e o medo que me corta a respiração de que aquele projeto-sonho não se materialize, era eu e o medo que me deixa sem chão de que o café não seja vendido. Era eu e, sobretudo, o meu coração às voltas, por este (des)amor que insiste em não desaparecer. O meu coração tonto e a cabeça às voltas sempre a pensar nele... e na (im)possibilidade de percorrermos um dia aquele chão e aquele caminho de mãos dadas e corações afinal ligados... na (im)possibilidade de um dia lhe dizer que, quando o outro dia o projetista me disse que um dia podia casar ali, sorri e só me consegui lembrar dele (a acontecer, acho que só seria capaz de verbalizar isto depois de já termos as alianças nos dedos). Depois fui para a parte de baixo e andei até ir para a mesa de pedra. Sentei-me na mesa de pedra e percebi muita coisa. Percebi acima de tudo que aquela casa de baixo devia ser vendida e que ela e tudo o que de incrível ali existe perdeu o encanto à custa destes anos de ausência deles. Percebi que aquilo que supostamente será um "paraíso" para qualquer pessoa tem sido o lugar que me marca a ausência deles. Tem sido o lugar onde a vida (e a minha vida) devia acontecer e não, é apenas o lugar onde um dia houve vida, amor e família. Percebi que aquilo que o meu pai sonhou quando pensou a casa perdeu todo e qualquer encanto. Perdeu valor e perdeu tudo. Foi a casa onde um dia fomos vida, família e amor. Tem sido, nestes últimos seis anos, a casa que marca a falta de vida e de família, numa lembrança dolorosa. Eles voltarão e, dependendo de mim, aquela casa terá outras vidas nas mãos de outras pessoas. Posso estar errada ou não, mas aquele projeto de casa falhou... falhou redondamente quando ontem me sentei na mesa de pedra e as lágrimas me mostraram que não foi para chorar a ausência deles que aquela pedra foi lá colocada; que o meu pai deve ter mandado colocar lá aquela mesa de pedra para partilhar refeições e sorrisos em família, não para que uma Ju chegasse aos quase 24 anos e se deitasse lá em lágrimas e de coração desfeito. A casa poderá ou não continuar a ser nossa, mas merecerá de certeza quem a encha de vida, amor e sorrisos. É uma casa com demasiada luz para que ninguém viva lá. Poderá continuar a ser nossa, e ver-me um dia a subir as escadas com um filho meu e de sorriso-milagre no rosto. Poderá não ser nossa, e eu subirei outras escadas lá perto com o filho e o sorriso. No meio de tantas nuvens só posso ter uma certeza: temos de mudar de casa e (re)começar, temos de mudar de casa e (re)aprender a ser família, temos de mudar de casa e (re)ordenar as nossas vidas. Eu não pertenço à casa onde estou, por mais amor que haja lá, e eles não pertencem àquele país nem àquela casa. É hora de (re)fazer as malas e voltarmos ao nosso círculo de luz!