Há sete anos a Ju tinha dezassete anos, o mundo aos pés e uma vida cheia de sonhos. Foi esta Ju que se despediu da avó naquele dia de Janeiro, uma Ju triste mas com a família junta, unida e de mãos dadas. Naquele ano marcado a ferros tudo mudou e a Ju começou a mudar também (profundamente). A minha avó morreu, o avô morreu depois e os meu pais foram embora viver para o outro lado do oceano em Outubro. Já fiquei sem chão e vi o mundo desabar, já me reencontrei e refiz (e consegui colar alguns dos estilhaços da vida) na universidade e já fiquei novamente sem chão e a ver o mundo desabar. Tem sido um longo, muito longo caminho. Tenho em mim que, sem eu saber nem poder imaginar, tudo começou naquele dia. A vida como eu a tinha e conhecia começou a acabar ali e seis meses depois tinha os meus pais a dizerem que iam embora.
Sete anos depois, o que mudou? Mudou tudo. Chorei desalmadente a ausência e o vazio que os meus pais me deixaram, fiz anos de psicoterapia e continuo e acho que é para continuar, fiz a licenciatura em Direito e fui imensamente e infinitamente feliz durante esse caminho, fiz a pós-graduação que há-de virar mestrado e fui profundamente infeliz em todos os dias desse ano, fiz um projeto de tese, fui parte da direção de uma associação de estudantes e trabalhei muito e diverti-me ainda mais, criei um grupo de amigos para lá de espetacular na universidade, continuei a ter o grupo de amigos que já tinha, fui-me apaixonando profundamente por um amigo e tem sido uma constante dor de coração e de alma que não sei explicar, inscrevi-me na Ordem, comecei a estagiar e chegamos ao dia de hoje.
Se me tivessem há sete anos pedido para imaginar a vida hoje, diria que tudo seria diferente: os meus pais nunca teriam ido embora, eu teria um namorado que me fizesse feliz e o resto poderia bem ter sido como foi. Sete anos depois... a verdade é que eles foram e a verdade é que tenho uma paixão que me desfaz o coração todos os dias. É tudo o que nunca poderia ter acontecido comigo mas aconteceu. Voltei nos últimos tempos a sentir (muito) que não sei o que fazer ou para onde ir. Voltei a sentir-me sem chão como naquela manhã de Julho em que eles me disseram que iam embora. Há uma coisa boa no meio de tudo isto: tenho desejado profundamente todos os dias ter um amor que me faça feliz e ser mãe. Aprendi que a família é o centro da nossa vida e por isso quero tanto encontrar um colo que seja casa para mim e que me permita sonhar com uma família e fazer planos a dois. Não sei o que vem por aí. Sei que gostava e precisava, mais do que tudo, que daqui a um ano tudo fosse completamente diferente. Um beijo, estrelinha!