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Manga Lima

Manga Lima

30
Abr19

30 de Abril de 2012 - 7 anos depois

Manga Meia-Loira

7 anos. Faz hoje sete anos que nos despedimos daquele olhar azul céu para sempre. Já não sei como estava o tempo mas hoje esteve sol. Já não sei muito bem como aconteceu, mas estas datas obrigam-me a voltar atrás e pensar naquilo que foram estes sete anos. Nunca me cansarei de dizer que aquela Ju de 2012 era feita de sonhos e de magia da ponta do cabelo à ponta dos pés, e que bom que era. Também nunca me cansarei de dizer que foi depois daquele ano que tudo mudou... e que com a vossa despedida, ou com a vossa morte, tudo começava a mudar sem que eu imaginasse. O que veio depois daquele Julho foi tudo o que a Ju dos sonhos nunca poderia ter imaginado e a minha memória fica um bocadinho enevoada. Em Janeiro a avó morreu, em Abril morreste tu, e em Julho os meus pais decidiam largar tudo de um dia para o outro e partir para uma nova vida do outro lado do mundo. E eu... bem, eu era a Ju dos sonhos e da magia e passei a ser a Ju dos pesadelos e da dor, exatamente na mesma proporção dos sonhos que tinha, porque uma coisa deu dolorosamente lugar a outra. Eu era a Ju sonhadora à beira de entrar na universidade e passei a ser a Ju perdida da vida... que ou vivia o sonho da universidade e perdia os pais, ou seguia com os pais e perdia o sonho da universidade. O que se seguiu foi uma ferida para vida que está perto de ficar fechada mas deixará para sempre uma cicatriz. Acabei por ir com eles, muito (mas muito) mais por arrasto e perdida do que por vontade. Acabei por perceber muito rapidamente que nunca na vida me seria possível respirar ou viver noutro sítio que não o meu, e que tinha de voltar urgentemente para casa... para aqui, para o meu lugar, para este pedaço de céu que me viu nascer e crescer e será sempre A minha casa. E vim. Numa dor para a qual não tenho palavras porque isso significava deixar de ter os meus pais mas voltei... era o único ato que me restava fazer para tentar sobreviver e não desistir de mim e voltei. Doeu, doeu profundamente durante muito tempo mas sobrevivi. E por aqui e por ali fui reaprendendo a viver e a respirar e às vezes até a sorrir. E depois... bem, depois vem tudo o que me trouxe até aqui e até hoje. Vem a universidade, que começa em lágrimas e num vazio infinito para o qual nunca terei palavras e depois se torna no meu lugar feliz, na minha segunda casa e na realização de um sonho de vida meu. Vem a arte de reaprender a sonhar e a realizar. Vem as notas e os testes e o sonho de ter o curso feito cada vez mais perto. Vem o fim do curso e aquela alegria que me inundava por todos os lados e me fazia brilhar cheia de sonhos. E depois... e depois disso quase que voltamos outra vez ao zero. Porque eles não voltaram, nunca mais voltavam nem planeavam voltar e a ausência doía. A ausência deles voltou a ter um peso do tamanho do mundo e arrancar-me o chão dos pés. Voltou a fazer-me chorar desalmadamente e jurar que trocava tudo, mas tudo mesmo, pela ausência deles. E eles não vinham. E a vida doía. E pelo meio havia a paixão. Essa coisa que me fez brilhar e ao mesmo tempo me foi destruindo o coração. Essa coisa que me fazia sonhar e ao mesmo tempo me desmoronava o sonhos. E vieram as dúvidas, e as perguntas, e os milhares de pensamentos, e o querer sem saber que queria, e o querer sem querer. E vieram semanas e meses e meses que em levaram ao limite dos desgaste e me levaram o coração por vales de dor que nunca queria dia algum ter conhecido. E veio o cansaço, sempre o cansaço... e depois há um dia em que alguém me empurra - graças a Deus e à vida - e em que eu consigo finalmente bater o pé e ter a conversa de todas as conversas sobre o (des)amor. A conversa que já devia ter tido há muito e que nunca tinha sido capaz de ter. E o (des)amor acaba, felizmente, naquela noite: acaba porque ouvi aquilo que devia ter ouvido há muito, e porque percebi que afinal, de forma mais ou menos consciente, eu fui só uma espécie de brincadeira, ou de tentativa de conquista, ou de flirt estúpido ou de qualquer coisa que nunca vou perceber bem. As pessoas só vão até onde as deixarmos ir.... e eu, por uma espécie de coisa que achei que era amor, deixei que me levassem o coração por aí. Acabou ali. E pelo meio entrei no mestrado, tive o ano letivo mais horrível e frustrante de sempre porque tudo o que podia ter corrido mal na universidade correu (e o que não podia também). E acabei esse primeiro ano viva e inteira.... e fiz as cadeiras todas, o que foi uma vitória. E comecei a estagiar, e tenho de estar grata à vida por me ter levado até aquele lugar de paz e tranquilidade. E inscrevi-me na ordem. E fiz as aulas da ordem. E pelo meio os meus pais decidiram voltar, ou iniciaram o projeto que os ha-de fazer voltar. E é por isso que estou hoje aqui sentada, aqui nesta (quase) casa reconstruída que será o sonho que os fará voltar. E não podia ter escrito este texto noutro sítio: tinha de o fazer aqui. Tinha de falar de morte e tinha de falar deste passado tão doloroso, mas ia fazê-lo neste lugar onde um sonho está a nascer e a crescer. E hoje,sete anos depois, tenho de me sentar aqui e pensar também no que é a minha vida hoje e no que quero que seja. Hoje... bem, hoje estou a estagiar num lugar de paz, estou inscrita na Ordem, estou cheia de vontade de chegar ao fim da Ordem e concluir esse caminho com sucesso. Hoje estou a escrever a tese de Mestrado, que foi uma das grandes promessas que me obriguei a fazer a mim própria para 2019, aqui mesmo neste lugar no final de 2018... e quero muito mas mesmo muito chegar ao fim deste 2019 com a tese escrita. Hoje estou a querer todos os dias, como ao longo destes sete anos, que eles voltem. Hoje quero muito que esta casa fique finalizada o mais rapidamente possível e que eles voltem o mais rapidamente possível. Hoje quero, assim muito mas mesmo muito, voltar a ser filha e voltar a ser irmã. E hoje quero, acima de tudo, ter o coração em paz e encontrar um amor. Quero e preciso, assim muito, de alguém que eu ame e que me ame, de alguém que me dê colo, que me faça sorrir e que eu faça sorrir, de alguém que me faça sonhar e sonhe comigo, de alguém que entre de mão dada comigo nos meus sítios, de alguém que seja amor, ternura, doçura, colo e abraços, de alguém que seja vida, alma, amor e alegria em mim, de alguém que em faça viver essa dimensão que a vida ainda não me permitiu viver. Hoje... quero que os meus pais voltem e quero encontrar esse amor-doçura. Há sete anos não poderia sonhar naquilo que seria vida ao longo deste tempo... ou a projeção que fazia da vida há sete anos era tudo menos o que aconteceu neste tempo. A vida doeu, e doeu muitas vezes muito, mas eu cresci e, até ver, sobrevivi. Agora estou aqui, sentada nestas pedras que tem a marca dos sonhos e do futuro por todo o lado, e só posso acreditar e esperar. Acreditar que temos uma vida de partilhas e de sorrisos para recomeçar em família. Acreditar que tenho um amor à espreita que será vida, amor e alegria em mim e fará sonhar e sorrir. Acreditar que um dia, daqui a uns anos, me sentarei aqui novamente e terei histórias bonitas e doces para contar sobre esse recomeço em família e sobre esse amor. A ti, querido avô, só posso fazer a promessa que mais feliz me fará na vida se um dia a puder cumprir: prometo que um dia, daqui a uns anos, hei-de estar à espera de bebé e depois com o(s) teu(s) bisneto(s) sentada nesta pedra, hei-de falar-lhes do avô Zé, dos olhos azul-céu do avô Zé e do sorriso luminoso é brilhante que tinha sempre que nos via. E nesse momento os meus pais vão ouvir-me falar do meu avô ao(s) meu(s) filho(s), e haverá uma corrente de vida, amor e família que se estenderá e nos lembrará qual é, afinal e a final, o sentido da vida.

29
Abr19

A meia loira escreve a tese #5 - O primeiro capítulo

Manga Meia-Loira

Hoje foi o dia. Hoje acabei e enviei o primeiro capítulo da tese ao orientador. Por entre ventos e tempestades, por entre a falta da família e o coração sem norte, consegui. Ainda falta muito, mesmo muito. Ainda falta continuar e fazer a segunda parte, ainda falta corrigir tudo o que fiz, ainda falta corrigir tudo o que ainda tenho de fazer. Mas hoje acabei o primeiro capítulo e só eu sei o que isto significa e o quanto vale para mim. No meio de tanta descrença é quase um milagre. E por tudo isto tenho direito a, pelo menos, 2 minutos de glória... e tenho direito a sentir-me a maior. Falta continuar e falta ainda um longo caminho até à meta, mas hoje senti-me infinitamente mais perto dela. Oxalá o que falta seja tão bonito, tão leve e tão breve como foi escrever estas páginas que hoje conclui. Agora... agora é continuar a agarrar o fio condutor com todas as forças até ao fim.. até esse dia que já este muito mais longe do que está agora :) Que as forças estejam connosco :)

25
Abr19

A meia-loira escreve a tese #4

Manga Meia-Loira

O primeiro capítulo da tese está quase pronto a enviar para o orientador. 52 páginas. Mais uns toques e envio. E eu só posso estar imensamente grata a mim, aos meus e à vida por isso. Para lá do estágio e das aulas da Ordem. Para lá da falta que a família me faz e que tantas vezes me deixa sem chão e sem forças; para lá do coração desnorteado e descompassado e perdido, tantas vezes como se estivesse disperso em pedaços; para lá dos momentos de picos de ansiedade; para lá dos momentos em que parece que nada vai mudar e nada de bom acontece nunca; para lá do desânimo e da descrença... eu fiz, eu estou a fazer. E isso para mim vale mais do que tudo. É um trabalho solitário, muito solitário, e implica um longo caminho de motivação e frustração e motivação e frustração. Sempre o soube e isso sempre me assustou. Demorei muito, mesmo muito, a começar. Foi dificílimo conseguir começar. Para lá da vida que acontecia todos os dias, e que nestes meses tem sido dura, aos tropeções e muitas vezes com momentos de dor e frustração, a ideia de começar e a força de continuar são sempre coisas díficeis. Tinha de o fazer. Tenho de o fazer, antes e para lá de qualquer outra coisa. Esta tese tem de continuar a desenvolver-se e tem de nascer e ser entregue. É verdade que pensei que ia ser pior... até tenho medo de dizer isto, mas a escrita tem corrido dentro do normal, tem sido horas tranquilas, e só tive um dia em que atingi o pico da frustração e tive vontade de chorar, e gritar, e atirar o tapete o chão, e jurar que acabava ali tudo e não fazia mais nada. Foi só um dia, o que é incrível, e em todos os outros dias foi tudo muito tranquilo. É verdade que eu adoro o tema, e dentro do tema estava a escrever sobre a parte de que gosto mais, mas só queria mesmo que fosse assim até ao fim. Ainda falta muita coisa: falta a sugunda parte, falta desenvolver a parte crítica, falta a introdução, falta a conclusão, falta o índice, falta mesmo muita coisa. Mas eu, por entre ventos e tempestades internas, e ainda que tarde, tive a força de a começar e ir continuando. E caramba, tenho, pelo menos por agora, direito a 10 segundos de glória (Antes de receber as correções e ter votade de atirar tudo ao ar e chorar ahahah). E hoje reecontrei isto... isto que eu encontrei na licenciatura e tive vontade de espetar no teto do quarto para ser a última coisa a ler antes de dormir e a primeira coisa a ler ao acordar e começar o dia. Isto... que me relembra, afinal, porque é que tenho de fazer nascer esta tese.... isto.... que me relembra, a final, a essência de que sou feita.

 

25
Abr19

A vida (pouco ou nada) amorosa também é...

Manga Meia-Loira

É sobre respirar

E continuar

E respirar

E continuar

E sorrir com aquele sorriso amarelo que leva um esforço gigante

E fingir que está tudo bem

E atropelar o coração e as feridas e os sentimentos

E fingir que está tudo bem

E ouvir palavras que nos marcam e magoam mais que um estalo dado com toda a força

Porque já não queremos nem gostamos mas temos de nos perguntar se não é de propósito ou se não há ali um bocadinho de malvadez... se não há ali um bocadinho de vontade de pisar e repisar feridas

E respirar

E continuar

E fingir que está tudo bem

E sorrir com aquele sorriso amarelo que é o possível

E pensar no que virá

E pensar como será... ou quão mau será

E pensar quanto tempo demorará

E esperar que um dia

Um dia

Nos braços de um amor verdadeiro, vivido e sentido

Tudo faça sentido

E os caminhos sombrios e infinitamnete duros e dolorosos sejam só uma lembrança indiferente

E respirar

E continuar

E fingir que está tudo bem

E esperar que um dia

Um dia

O coração volte a viver inteiro e por inteiro no meu peito

E desacreditar e fazer um esforço gigante para acreditar que um dia

Um dia

Tudo terá valido a pena

E repirar 

E continuar

E perguntar quanto mais tempo será preciso fingir que está tudo bem

E respirar

E continuar

E esperar que um dia

Um dia

A vida seja justa e nos faça bater palmas por dentro porque há lágrimas e rasgões de alma que terão de ser pagos

Um dia

Nunca mais terei de perguntar até quando esta dor será sentida

Um dia

Nunca mais terei de perguntar quando encontrarei um amor 

Um dia

Um dia conto que tenho um amor, ou O amor

Um dia vivo esse amor verdadeiro

Um dia estarei nos braços desse amor e nada mais importará

E um dia

Nos braços desse amor 

Poderei dizer que a vida, afinal, é justa, e o amor também é justo

Numa premissa repetida até à exaustão que se tornará verdade enfim 

Um dia

Farei questão de me lembrar das fotografias naquele sábado de dor

E da praia naquela ilusão de verão

E da repetição da ideia de casamento de ontem

E numa equação cujo resultado me dará sempre vitória

Sorrirei e terei só uma ponta de pena

E como estarei inteira e feliz e sairei vencedora

Sorrirei e ficarei calada, porque a vida há-de ter falado e ajustado contas por mim

E serei amor, daquele real, vivido e sentido

E nada mais, muito menos isto, importará

E eu estarei feliz

E saberei que a vida é justa e o amor também

Enfim

 

20
Abr19

Músicas que (me) tocam - "Era uma vez"

Manga Meia-Loira
Hoje foi isto. Já tinha descoberto a música há algum tempo mas nunca mais tinha voltado a ela, e hoje voltei-me a lembrar de toda a beleza e toda a verdade que estes versos contém. Está cá tudo: o querer crescer e depois querer voltar ao início e aos dias da infância, a infância infinitamente feliz e colorida, os dias bonitos e deliciosos quando se era pequeno, a inocência e a ingenuidade da felicidade pura, a chegada à idade adulta, o (des)amor e desobrir o que é deixarem-nos o coração desfeito em pedaços, as dores e lágrimas do (des)amor e a certeza de que é tão mais fácil curar um (ou dois, ou três, ou dez, ou cem) joelho(s) esfolado(s), a procura da paz e, enfim, chegar à conclusão de que dá (e dá mesmo) para viver depois de descobrir que o mundo não é (ou quase nunca é) colorido, e descobrir que a maldade do mundo nunca nos deve parecer normal, e recusarmo-nos terminantemente a perder a magia de acreditar na felicidade real, e viver na certeza de que a felicidade estará sempre no caminho e não necessariamente no final... até porque o caminho se faz caminhando e a ideia é sorrir por dentro e por fora enquanto se caminha.
 
"Era uma vez,
O dia em que todo dia era bom
Delicioso gosto e o bom gosto
Das nuvens serem feitas de algodão
Dava pra ser herói
No mesmo dia em que escolhia ser vilão
E acabava tudo em lanche, um banho quente
E talvez um arranhão


Dava pra ver
A ingenuidade e a inocência cantando no tom
Milhões de mundos e universos tão reais
Quanto à nossa imaginação
Bastava um colo, um carinho
E o remédio era beijo e proteção
Tudo voltava a ser novo no outro dia
Sem muita preocupação

É que a gente quer crescer
E quando cresce, quer voltar do início
Porque um joelho ralado
Dói bem menos que um coração partido

É que a gente quer crescer
E quando cresce quer voltar do início
Porque um joelho ralado
Dói bem menos que um coração partido

 
Dá pra viver
Mesmo depois de descobrir que o mundo ficou mau
É só não permitir que a maldade do mundo
Te pareça normal
Pra não perder a magia de acreditar
Na felicidade real
E entender que ela mora no caminho
E não no final

É que a gente quer crescer
E quando cresce quer voltar do início
Porque um joelho ralado
Dói bem menos que um coração partido

É que a gente quer crescer
E quando cresce quer voltar do início
Porque um joelho ralado
Dói bem menos que um coração partido

Era uma vez..."
 

 

 
18
Abr19

Quando nos despedimos a dizer "Fui tão feliz!"

Manga Meia-Loira

A semana passada despedi-me do sítio onde tive aulas da Ordem. Podia escolher entre duas cidades para ter aulas, e demorei muito a escolher. Precisei de pedir opinião ao meu pai e de pensar e repensar, e no fim lá escolhi Guimarães. Guimarães não era minha, não me pertencia e não tinha grande significado para mim. A outra cidade muito menos. Entre uma e outra escolhi Guimarães porque era o sítio mais perto, embora não gostasse do horário, e quanto mais perto de casa mais felizes seremos... e quanto mais pequeno for o ambiente mais felizes seremos (um obrigada ao meu pai, que me diz isto desde os 10 anos e cada vez me faz mais sentido). Escolhi Guimarães mas estive sempre apreensiva com esta coisa das aulas. Nós já estagiamos todos os dias, o trabalho já não é propriamente fácil, e ainda íamos ter aulas.... aulas todos os dias, três horas por dia, desde o ínicio do ano até agora. Não pensei muito, mas torci o nariz desde o início. Para juntar à festa, eu estou também a escrever a tese de mestrado. E isto tinha, portanto, tudo para correr mal... ou pelo menos para ser uma coisa chata e não trazer nada de bom.. mas não. Muito pelo contrário, Guimarães foi assim uma espécie de nuvem colorida e doce durante estes últimos meses. Levei logo com uma surpresa daquelas que nos fazem sorrir por dentro e por fora quando percebi que, afinal, estava a voltar a ser feliz sentada numa sala de aulas... e isso era tudo o que eu mais precisava sem o saber, depois daquele ano horrível de mestrado. E continuei a ter motivos para sorrir muito quando percebi que os professores e os funcionários nos tratavam com o maior cuidado e carinho do mundo. Tenho de lhes tirar o chapéu e dizer que foram todos, especialmente os funcionários, inexcedíveis. Cederam números de telefone, perguntaram-nos todos os dias à chegada e à saída se estava tudo bem, preocuparam-se sempre com o que se ia passando, estavam atentos a tudo, disponibilizaram-se desde o primeiro momento a ajudar em tudo o que fizesse falta, sobretudo sabendo que muitos de nós éramos de fora... e por isso sim, a Delegação de Guimarães da Ordem dos Advogados merece um enorme aplauso. Fizeram por nós tudo o que lhes foi possível, ao contrário daquilo a que estamos habituados no que diz respeito à Ordem dos Advogados. De uma Ordem que não nos esclarece as dúvidas, que demora a responder, que falha, que faz muita coisa e falha tanto na defesa dos seus (que devia ser a sua missão), que muitas das vezes parece que anda à espera das nossa falhas para nos dificultar a vida, que recebe o nosso dinheiro e parece querer sempre pregar-nos rasteiras.... vimos uma Delegação que foi exatamente o contrário de tudo isto, uma Delegação que esteve do nosso lado e nos acompanhou em tudo com disponibilidade e com cuidado, que se preocupou e esteve presente desde o primeiro momento para nos ajudar em tudo, e que foi tudo o que a Ordem deveria ser (e quase nunca é). Mas não foi só isto. Guimarães foi também o sítio onde a minha vida começou a mudar: foi o sítio onde decidimos fazer uma venda que será o início da mudança das nossa vidas... e eu fiquei tão feliz! Foi lá, por entre aqueles corredores e aquelas ruas, que eu corri, e telefonei, e perguntei, e disse que sim. E fui tão feliz! Esta venda feliz será sempre associada àqueles corredores. Guimarães foi a S. e foi varrer quilómetros de auto-estrada todos os dias. Guimarães foi a S., foi as conversas intermináveis sobre o trabalho, a vida e o futuro com a Sofs, foram os sorrisos e as brincadeiras com a S. Foram os lanches sempre à pressa e engolidos à pressão, e o tempo sempre contado ao segundo. Foram os casos mais giros de sempre de Processo Penal. Foi o professor mais espetacular de sempre a dar Processo Penal. Guimarães foi também o período em que tive uma conversa difícil sobre (des)amor, do mais díficil que pode haver e daquelas que se tem uma vez na vida... e Guimarães salvou-me, naqueles que foram dias que nunca quis viver na vida. E por isso sim, quando na semana passada saí pela porta... a única coisa que me ocorria dizer era "Fui tão feliz!". Guimarães foi voltar a ser feliz numa sala de aulas, Guimarães foi a venda e o princípio da mudança que mais quero na vida, Guimarães foram os momentos bonitos com a S., Guimarães foram as aulas mais espetaculares de sempre de Processo Penal, Guimarães foi o cuidado e o carinho da Delgação, Guimarães foi sobreviver e (continuar a) sorrir por entre a conversa que nunca queria ter tido. Guimarães foi tudo isto e foi muito mais. Foi, muitas vezes, recordar-me de quem sou e do valor que tenho. Foi (re)descobrir a felicidade numa sala de aulas. Foi muitas das vezes (re)acreditar neste caminho que estou a traçar na Ordem. Foi, muito mais do que tudo isto, um pedaço do dia e da vida que me fazia sorrir. E isso não tem preço. Ainda vamos lá voltar para as aulas facultativas, mas a despedida foi a semana passada. E eu estou infinitamente grata a Guimarães por tudo isto e por me ter, muitas vezes, colorido os dias. Agora sim, Guimarães tem um pedaço de mim. E eu tenho Guimarães guardado numa parte bonita do coração e da memória. Guimarães agora também é minha... e está naquele sítio bonito onde guardamos os sítios que nos pertencem e de que gostamos. Voltarei e prometo um dia explicar ao(s) filho(s) que tiver que a mãe teve aulas da Ordem em Guimarães...e foi muito feliz lá.

17
Abr19

Quando alguém perde um pai - Repost

Manga Meia-Loira

 Hoje acordei com a mensagem que não queria receber. Sabia que ia acontecer, mas não a queria receber nem queria imaginar a dor da minha amiga...Essa super mulher que por entre esta perda gigante está a preparar o exame da Ordem dos Advogados. Só espero, e espero mesmo muito, que ela tenha a força necessária para continuar a caminhar, a sonhar e a lutar pelos sonhos. E voltei a isto https://mangalima.blogs.sapo.pt/quando-alguem-perde-um-pai-91404?tc=5499273224. E voltei a agradecer mil vezes, como sempre mas especialmente hoje, por ter um pai que conto poder abraçar por muitos e muitos anos... por ter um pai com quem conto continuar a partilhar vida, sonhos e caminhos... por ter um pai que me é amor incondicional, casa, raiz, abraço e suporte... por ter um pai que é, sempre e para sempre, o meu primeiro e último reduto. É tão fácil, mas tão fácil, esquecer isto por entre os dias que passam e o tempo contado ao segundo, que às vezes temos de nos lembrar de parar e agradecer. E por isso, apesar de tudo e para além de tudo, tenho de estar infinitamente grata à vida por esta benção de ter um pai. Que nunca devia ser uma benção, na nossa idade devia ser um dado adquirido, mas infelizmente começa a deixar de ser. Hoje estou triste pela minha amiga mas estou grata. Infinitamente grata. E a contar o tempo para voltar a abraçar o meu pai. E volto aos versos que me tem acompanhado e volto a lembrar-me do (verdadeiro) sentido da vida " Segura teu filho no colo / Sorria e abrace teus pais enquanto estão aqui / Que a vida é trem-bala, parceiro / E a gente é só passageiro prestes a partir". 

14
Abr19

Outra vez os barcos e os domingos

Manga Meia-Loira

Tenho um texto por escrever sobre o fim das minhas aulas e o quão bonitos e especiais foram estes meses naquele espaço mas ainda não o consegui fazer. A vida tem andado a testar-me e tem escolhido a dedo os domingos. E é a tese e as voltas e voltas e voltas da tese, e são os meus e as dores de cabeça deles e minhas, e é a viagem que o meu pai tem de marcar, e é o café e as milhentas dores de alma e de cabeça que ele significa.. e raios, eu fico assim https://mangalima.blogs.sapo.pt/para-onde-vao-os-barcos-que-construimos-35190....e assim https://mangalima.blogs.sapo.pt/barcos-de-domingo-38730 sem saber para onde vão os barcos que construímos quando estamos tristes, profundamente tristes, e a vida nos parece uma sucessão de obstáculos e testes e desafios e dores de alma e coração. Fico assim, sem saber para onde vão os barcos que construímos quando estamos tristes.. e continuo a ter de passar aquela porta branca e aquele portão verde... e mais de dois anos depois continuo a atravessar aquele espaço e as lágrimas continuam a dizer-me que aquele já não devia ser o meu (o nosso) lugar há muito, muito tempo. E o cansaço já é tanto, e a sensibilidade já é tanta (e se calhar as hormonas e os ciclos e esta coisa de se ser mulher também não ajuda muito) que pronto, qualquer coisinha ou às vezes até nada, é o suficiente para desabar. E pronto, e depois uma pessoa tem de se tentar salvar sem saber muito bem como.. e tem voltar a respirar e respirar fundo... e tem de conversar com calma e ver o que se pode fazer... e tem de ser racional... e tem de ter um raio de uma força maior que o mundo para levar com tudo e ainda assim ser racional e analisar as coisas e ver o que pode ser feito... Caramba, fico exausta. À falta de melhor, fui. Conduzi e conversei e falei e chorei e parei o carro no meio daquela estrada tão especial e tão mística entre as duas igrejas e acho que no fim da conversa fiquei um bocadinho melhor. E depois parei. E depois subi até à igreja e nunca o tinha feito, nunca tinha subido a pé, e lá fui respirando. Há dias assim... hoje parei o carro entre as duas igrejas e tive a conversa possível e chegamos às soluções possíveis, e nunca o tinha feito. E caramba, estava tudo tão difícil e tão doloroso... e caramba, é tanta coisa e tantos novelos e tantos fogos para apagar e tantos assuntos urgentes a resolver. Hoje subi a pé até à igreja e nunca o tinha feito. Hoje o mundo acabou e recomeçou algumas vezes e nem as minhas lágrimas eram suficientes para exprimir o cansaço, o desgaste, o desânimo, o desalento.... a vontade imensa e profunda de que tudo seja diferente. Há-de ser. Eu gosto de barcos mas, caramba!, já chega de não saber para onde vão os barcos que construímos quando estamos tristes... já chega de passar a porta branca e o portão verde... é tempo de mudar tudo. 

13
Abr19

A meia-loira escreve a tese #3

Manga Meia-Loira

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Hoje de manhã abri o famoso documento do word (que só por acaso até já tem 30 páginas, ahahahah) e apareceu-me isto. É que uma pessoa até fica logo com vontade de trabalhar... ou então não mas vamos fingir que sim. É logo outro ânimo! (Não foi porque tinha um almoço e saí quase logo mas isso não interessa nada). Vamos só ultrapassar a parte em que se calhar o word acha que estamos a trabalhar demasiado.. é que aquele “de volta” dá a ideia que sim mas na verdade ontem e hoje não fiz quase nada.

09
Abr19

O casamento e os sogros.. ou o que as estrelas dizem

Manga Meia-Loira

A pessoa pode ter uma vida amorosa difícil, daquelas que doem na alma. A pessoa até pode ter o coração constantemente destroçado, e magoado, e tudo e tudo. Mas depois uma pessoa brinca com as amigas, e as amigas brincam também com uma pessoa, e descobrimos que no nosso mapa de nascimento está escrito que uma pessoa se vai dar muito bem com os sogros. Pronto, é o que interessa. Uma pessoa tem uma vida amorosa mais melodramática que Romeu ou Julieta. Uma pessoa sofre, e sofre, e duvida que um dia o altar da sua igreja a veja a trocar alianças e fazer promessas a dois. Uma pessoa até vê no mapa que, casando, o seu casamento terá muito melodrama (e mel, supostamente também terá muito mel). Mas depois o mapa diz que os sogros vão gostar muito de uma pessoa, e uma pessoa vai gostar dos sogros, e então está tudo bem. Já não é preciso andar a controlar feridas no coração, nem enxaguar lágrimas, nem contar os pedaços em que o coração se pode desfazer. Os sogros vão ser "da team" de uma pessoa e, oh pá, há lá melhor que isto?! Já me imagino, como boa nora que serei, a sentar-me ao lado da sogra ao domingo à tarde a dizer mal (muito mal, de preferência) do filho, sob o olhar pasmado dele e com muitos sorrisos à mistura. E eu, que nunca me projetei muito como pessoa que gostará dos sogros, ou que nunca me imaginei propriamente a ter uma relação de amiga com sogros porque sempre me pareceu que "quanto mais distância melhor", até me ri. Sempre é melhor ter um futuro em que me sento ao lado da sogra a "cascar" no filho do que um futuro em que a sogra me dará dores de cabeça. Ao menos que sirva para rir! Ahaahah!

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