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Manga Lima

Manga Lima

22
Out19

Guarda (pouco) partilhada

Manga Meia-Loira

Convém dizer, para começar, que sempre tive e tenho uma relação muito forte, bonita e feliz com o meu pai. Ele é um dos grandes amores da minha vida e um dos meus pilares, se não o maior. Convém referir também que os meus pais estiveram e estão juntos, daí que sempre tive o privilégio de conviver com ambos. É talvez por isto que não consigo entender - e não consigo mesmo, de todo - como é que é possível haver quem questione tanto o regime de residência alternada dos menores (ou guarda partilhada). Isto é uma coisa muito minha e uma opinião muito pessoal, mas não sei como é que é possível alguém considerar que uma criança tem um desenvolvimento mais saudável e mais feliz num regime em que só pode conviver com o pai ao fim de semana de quinze em quinze dias (e jantar com o pai uma vez por semana, geralmente). Não sei como é que, numa situação normal, alguém acha que isso é mais saudável do que um regime em que a criança pode viver um período de tempo com cada um dos pais. Compreendo menos ainda que, numa situação normal em que ambos os pais acordam em fixar o regime de guarda partilhada, o Ministério Público, dizendo que não tem nada a opor, venha afirmar que o regime de guarda partilhada pode criar ansiedade e instabilidade e prejudicar o desenvolvimento futuro da criança. A sério que é mais prejudicial à criança viver em duas casas do que ser (quase) privada de conviver com o pai? É que, para mim, a tranquilidade e a estabilidade emocianal de uma criança dependem muito da existência de vínculos sólidos, seguros e felizes com ambos os pais. E não consigo conceber algo mais prejudicial ao desenvolvimento de uma criança do que ver-se privada durante largos dias de conviver com o pai, ainda mais quando tem uma relação segura e feliz com ele e quando viveu sempre com ele. É claro que não é uma situação ideal viver em duas, está muito longe disso, mas não consigo entender de maneira nenhuma que seja melhor a criança viver só com a mãe e realizar "visitas" (sim, é isto que a lei lhe chama) ao pai. É óbvio que é necessário que a criança se adapte, e que é preciso flexibilidade e esforço da parte dela, mas não consigo conceber nada mais triste do que perder o convívio corrente com o pai (e não, um fim de semana de quinze em quinze dias não é nada) E depois, se o problema é estar em duas casas, diga-se que a criança quando passa o fim-de-semana com o pai, no regime em que vive com a mãe e faz visitas ao pai, também tem de mudar de casa e levar roupas e tudo. Além de que, no regime de guarda partilhada, a criança pode ter roupas e demais pertences em ambas as casas de forma a não ter de andar a levar "malas" de uma casa para a outra. Acho que, entre duas situações que não são ideais (porque o ideal é sempre poder viver com ambos os pais), a guarda partilhada será sempre o regime que pertimirá mais equilibrío e estabilidade emocional à criança. E aquele que, ao contrário do que muitos acham, menos será prejudicial e menos deixará marcas negativas na criança. Não sei, talvez eu esteja a romantizar demasiado, mas não consigo imaginar nada mais triste do que perder assim o convívio corrente com o pai. Eu não tenho formação em psicologia, mas acho que o tanto que se perde ao conviver tão pouco com o pai deve deixar mágoas e marcas para a vida e deve criar muita insegurança e desequílibrio emocional. Nós sobrevivemos a tudo, é um facto, mas só a ideia de quebrar assim uma relação que devia ser a base da nossa vida custa-me. E custa-me ainda mais que haja pessoas, no próprio Ministério Público, a escrever que a guarda partilhada necessita de ser muito bem pensada e pode criar ansiedade, instabilidade e ser prejudicial ao desenvolvimento. Caramba, prejudicial ao desenvolvimento é perder uma parte tão importante e tão bonita da nossa vida como deve ser a relação com o nosso pai. Não sei como é que em Portugal, em 2019, com tanta formação e informação, ainda temos uma cultura tão reticente à guarda partilhada. Não sei como é que isso ainda não é a regra na maior parte dos casos, e como é que há tanta dificuldade em estabelcer esse regime, inclusivamente por parte dos tribunais. Espero que a tendência se vá alterando e que daqui a uns anos a regra seja a guarda partilhada. E acredito que sim, ou pelo menos vai havendo um sinal ou outro nesse sentido.

 

(Obviamente que isto é a minha opinião quando se trate de uma situação normal e não exista nada em contrário, assim como acho que isto também só faz sentido se os pais viverem a pouca distância um do outro. Se a capacidade de um dos pais estiver em causa ou se ambos viverem a grande distância, a solução terá de ser outra.

Tudo isto se aplica, igual e integralmente, ao caso em a criança vive com o pai e apenas faz "visitas" à mãe: também não consigo conceber nada mais prejudicial do que a criança ser privada assim do convívio corrente com a mãe. Simplesmente falo no pai porque, em grande parte dos casos, a criança fica a viver com a mãe. Mas é tudo igualmente válido para a situação oposta: a estabilidade e o equilíbrio da criança está sempre no vínculo e no convívio que mantem com ambos)

16
Out19

15 de Outubro de 2012 - 7 anos depois

Manga Meia-Loira

Foi há sete anos. Eu estava anestesiada e não sabia o que se seguiria nem poderia fazer ideia. Nestes sete anos a vida continuou a girar: eu fui, voltei, fiz a licenciatura, fiz o mestrado, comecei a estagiar, fiz amigos para lá de especiais, fui infinitamente feliz na universidade, sonhei muito com tudo, apaixonei-me, fiquei emocionalmente arrasada, tive sempre a força e a resiliência necessárias para continuar e levar tudo à frente acontecesse o que acontecesse, consegui que o apartamento fosse vendido, consegui que o negócio do café se concretizasse, consegui que eles traçassem um plano para voltar e vi nascer o sonho que os vai trazer de volta. Quis todos os dias, antes e para lá de qualquer coisa, que eles voltassem. Sempre. Não sei se aquilo que coube dentro destes sete anos foi o que eu queria naquele dia. Sei, de forma absoluta, que fui até ao limite do impossível para que tudo o que eu quero se concretize. Muita coisa já se concretizou, falta o resto. E que eu tenha sempre a força e a resiliência necessárias para insistir, persistir e voltar a insistir até conseguir o que eu quero. Quanto ao resto, tenho de prometer a mim que me vou lembrar sempre de todos os sonhos que ainda tenho por realizar. E sei, como sempre soube e como o soube há sete anos, que esses sonhos estão todos aqui: no sítio que me viu nascer, crescer e que faço questão de pisar todos os dias.

"Sem esta terra funda e fundo rio,
Que ergue as asas e sobe, em claro voo,
Sem estes ermos montes e arvoredos,
Eu não era o que sou." 

(Teixeira de Pascoaes)

Há sete anos, hoje e sempre. Porque eu sou feita de terra: da terra onde pertenço e que me fez ser o que sou. Da terra onde estiveram, estão e vão estar todos os sonhos. Esta é uma das maiores certezas que tenho na vida.

11
Out19

"Um dia escrevo uma tese" - Já escrevi!

8 de outubro de 2019 - 14:40h

Manga Meia-Loira

No dia 12 de março de 2019 escrevi aqui um post que se chamava "Um dia escrevo uma tese". Fui agora relê-lo e ri-me, ri-me muito. Eu achava mesmo impossível, na altura, fazer e entregar a tese a tempo. Acontece que a tese já está escrita, entregue, e ainda nem acabou o prazo normal. Imprimi-a há uma semana e fui entregá-la terça. Está feito. Não há muito a dizer sobre o dia em que se entrega uma tese: faltam-nos palavras e sobram emoções. Tenho a dizer que fui muito feliz durante a escrita da tese, fui mesmo. Foi um caminho muito mais leve, tranquilo e bonito do que eu poderia ter esperado. Só me senti cansada na parte final, quando tive de rever e reler tudo. Percebo que o caminho foi feliz e traquilo porque foram muito poucas as vezes em que me apeteceu bater com a porta e largar tudo. Aliás, foi tudo tão leve e tão bonito que isso nem me passou pela cabeça. E ainda bem. Está feito e fico para sempre infinitamente grata a mim, aos meus, à Vida e a Deus por isto.

Tenho só de deixar aqui aquela que foi a banda sonora de grande parte da tese. Houve mais, e poderia ir buscar a música de Jorge Palma que nos diz que "Enquanto houver estrada para andar a gente vai continuar", ou a música da Ana Vilela que nos diz que "Não é sobre chegar no topo do mundo e saber que venceu, É sobre escalar e sentir que o caminho te fortaleceu", mas esta foi a principal.

"E a vida não vai parar,
Vai como vento,
Tens tudo a dar
Não percas tempo.
Podes saber, que vais chegar
Onde Deus te levar" 

in "Onde Deus te levar".

07
Out19

Quando a abstenção supera tudo

Manga Meia-Loira

Acho que as eleições de ontem não trouxeram assim tão grandes surpresas. O PS ganha sem maioria, o PSD perde e encara isso como uma vitória porque esperava que fosse pior, o CDS espalha-se à grande, o BE continua e a CDU perde bastante. Depois há os pequenos e pronto, não houve assim grandes surpresas.

Para lá dos paridos e dos seus resultados, há que olhar para a abstenção e pensar nela de forma séria. É assustador e preocupante que, depois de tantos terem lutado pelo direito ao voto, haja tantos que o ignorem e assobiem para o lado. É ainda mais assustador porque acho que grande parte dessa abstenção vem dos jovens: jovens que deveriam ser os mais interessados em escolher aquilo que querem, em escolher o país em que querem viver, em escolher o futuro que querem para o país e para si. Não consigo conceber a ideia de se ficar assim, numa inércia gritante e a assobiar para o lado, num desinteresse que é inqualificável. É deixar que os outros tracem o caminho e escolham o futuro por nós... será que é assim tão difiícil e tão exigente andar uns metros e votar? E ainda há outro fator: acredito que muitas das pessoas que ontem não se dignaram a ir votar são depois as primeiras a reclamar de tudo.

Li hoje um texto em que a autora dizia que liberdade significa ter o direito de não querer votar. Dizia ela que o voto é um direito e, por isso, é possível escolher não o exercer. O que ela disse está, pelo menos do ponto de vista legal, correto: não tendo nós um sistema de voto obrigatório, as pessoas podem de facto não ir votar (e fazem-no sem qualquer problema, como se vê). Acrescentava a autora que essas pessoas, depois, tinham toda a legitimidade para reclamar. Não acho que tenham. Não posso achar e não podia discordar mais dessa opinião. Não consigo atribuir qualquer legitimidade nem qualquer valor a quem vem reclamar, depois de ter assobiado para o lado e ter deixado que fossem os outros a escolher, numa inércia e num não querer saber que são inqualificáveis. Acho mesmo que, quando a abstenção chega aos (quase) 50% - quando metade dos eleitores simplesmente não vai votar e não quer saber - é importante começar a equacionar o voto obrigatório. Não é normal nem aceitável que metade das pessoas não se dignem a ir votar. Aliás, e mais importante que isso, as próprias eleições e os eleitos deixam de ter a legitimidade que sempre deveriam ter. Por isso sim, nunca me tinha passado pela cabeça mas ontem comecei a achar que caminhamos para um sistema de voto obrigatório. Se vivemos em sociedade, não nos podemos demitir simplesmente de esolher aquilo que queremos para nós e para o país. As pessoas tem de ser chamadas à sua responsabilidade. Mais importante ainda que isso é a legitmidade: umas eleições onde metade não vota (no futuro talvez mais de metade) deixam de ter a legitimidade que a democracia exige. Não me lixem, mas houve demasiadas pessoas a lutar por este direito para que tantos se demitam de o exercer.

03
Out19

Gratidão também é...

Manga Meia-Loira

Esta que aqui escreve tem andado um bocadinho fora do planeta Terra e tem andado a passar grande parte dos últimos dias a viver num planeta chamado "Acabar e entregar a tese". Ainda assim, esta que aqui escreve vai passando pelo Sapo e tem percebido que se tem falado muito em gratidão. Nos entretantos, esta pessoa escreveu os agradecimentos da tese (só podia, não é?! ahahahha) e lembrou-se que está lá muito daquilo por que é grata. Desde a família aos amigos, aquilo espelha muito daquilo que eu sou e daquilo que tenho de bom, e por isso achei por bem deixar aqui registado. 

 

" Quando concluímos uma etapa ou alcançamos uma meta, devemos sempre fazer uma retrospetiva do caminho que percorremos e lembrar todos aqueles que nos ajudaram a chegar lá. Esta dissertação, embora seja um trabalho meu, só se concretizou porque houve um conjunto de pessoas que fizeram parte do caminho e contribuíram de várias formas para que ela acontecesse. Assim, tenho de dizer que me sentirei sempre grata pelo contributo que cada um deu.

 

            Ao meu orientador, tenho de agradecer todas as sugestões, críticas e correções, que muito contribuíram para melhorar este trabalho, assim como o apoio e incentivo.

 

            À (minha) Universidade e a todas as pessoas que fazem parte dela, tenho de agradecer o facto de me ter sentido em casa durante todos os dias deste caminho e de dizer que me sinto muito feliz por isso.

 

            Aos meus pais, à minha irmã, aos meus tios e aos meus primos, tenho de agradecer o amor incondicional, o suporte em todos os momentos e o facto de acreditarem tanto em mim. Eles serão sempre a minha raiz, a minha base e a minha maior fonte de vida e de energia.

 

            Às minhas amigas de curso, tenho de agradecer o facto de terem sido as melhores companheiras que poderia ter desejado para percorrer este caminho. Estarei sempre grata por toda a amizade, por todas as partilhas, por todas as conversas, por todos os projetos em que embarcamos juntas e por todos os momentos. Esta passagem foi infinitamente mais bonita, mais completa e mais fácil graças a elas.

 

            Aos meus amigos de sempre, e são de sempre porque já perdi a conta aos anos de amizade, tenho de agradecer a presença em todos os momentos, a amizade, o apoio constante e o facto de acreditarem tanto em mim. É muito bom perceber que crescemos juntos e vamos partilhando as etapas da vida uns com os outros. Lembrar-me-ei sempre de todas as vezes em que eles me fizeram sorrir, passear, conversar e entrar noutros mundos para além do Direito. Isso tornou este caminho ainda mais bonito e mais leve.

 

            À minha patrona, tenho de agradecer a amizade, as conversas, as partilhas, os ensinamentos, o apoio e o incentivo. Ela deu-me tempo e espaço para que esta dissertação se realizasse e estou muito grata por isso.

 

            A todas as outras pessoas amigas, amigas da minha família e conhecidas, tenho de agradecer pelas palavras de apoio e incentivo que tantas vezes recebi e por todas as conversas e momentos bonitos que partilhamos.

 

À Vida e a Deus, porque este percurso foi ainda mais bonito, mais completo, mais feliz e mais enriquecedor do que eu poderia ter imaginado."

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