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Manga Lima

Manga Lima

31
Mar20

Este março

Manga Meia-Loira

Este mês foi tão longo e tão rápido, tão repentino e tão diferente, que nem sei bem o que dizer. Comecei o mês convicta de que o ia terminar com uma belíssima viagem a Barcelona e convicta de que ia estudar a sério para o exame da Ordem, de forma a ter tudo terminado em junho. Termino o mês com a certeza de que não vou fazer o exame nas datas previstas e com a viagem naturalmente cancelada. Pelo meio parei: há mais de duas semanas que estou em casa e é para continuar. Os tribunais pararam, eu parei, tudo parou. Nos primeiros dias em casa estudei. Depois decidi que eu própria precisava de descansar e precisava de ter uma decisão definitiva da parte da Ordem. Tive-a há pouco e foi um alívio imenso: ficou tudo adiado. Quanto a estes dias em casa, tenho a dizer que me tenho sentido muito tranquila. Estar em casa é algo que me é natural. Tenho é de admitir que me custa muito não poder estar com as pessoas. Não poder dar beijos nem abraços, não pode sair para passear ou para jantar fora, não me sentir segura em lado algum. Isso custa-me e é um peso. Tirando isso, não me posso queixar: acho que até que vou ter algumas saudades deste tempo em casa, embora a felicidade de voltar a estar com aqueles de quem gosto e de voltar a ser livre vá esbater isso. Tenho mesmo saudades das pessoas.

Acho que março foi assim um mês que nos virou a vida do avesso. Foi tudo muito rápido e estamos todos a aprender a viver assim. Não sabemos quando isto vai passar, mas estou certa de que passará. É nisso que nos devemos concentrar. Até ver, ainda não tive vontade de fugir de casa nem de torcer o pescoço às pessoas que vivem comigo, o que é bastante positivo (estou a brincar ahahah). Nos entretantos vou tentando sonhar, e vou acreditar que em breve vamos poder fazer a viagem e em breve vou fazer a Ordem. Vai tudo ficar bem. Vai mesmo, até porque (como diz a canção) não poderia ser de outra maneira.

27
Mar20

O "depois" da quarentena

Porque há-de haver um depois e há-de ser maravilhoso

Manga Meia-Loira

Agora estamos isolados, estamos em quarentena e temos medo. Não podemos abraçar os nossos, beijar ou sorrir em conjunto e bem de perto. Não sabemos quando vai passar, mas temos de saber que há-de passar e há-de haver um "depois". Um depois onde cada reencontro será maravilhoso, onde cada beijo será mil vezes mais sentido e onde cada abraço será de uma emoção profunda. Onde cada olhar será um sorriso gigante e profundo daqueles que vão até aos olhos. Um "depois" onde vamos reaprender o valor da liberdade, onde vamos sentir a felicidade de poder passear pela rua, onde vamos reviver o bom que é poder reunir a família ou os amigos a uma mesa, onde vamos poder partilhar sonhos e fazer planos em conjunto. Um "depois" onde vamos poder marcar férias, almoços, cafés, lanches, jantares, aniversários e fins-de-semana. Um "depois" onde vamos poder voltar a ver o pôr-do-sol na praia e o nascer-do-sol na montanha. Um "depois" feito de arco-irís: porque o arco-irís é sempre o que a vida nos dá depois da chuva (da tempestade, neste caso). Um "depois" onde vamos saber ainda mais e melhor aquilo que verdadeiramente importa - que é o amor, sempre o amor (e os sonhos).

A gente.jpg

 

 

25
Mar20

Crónica de uma quarentena não anunciada

Manga Meia-Loira

Ao fim de mais de uma semana e meia de quarentena acontecem coisas giras que tenho de registar. Ontem consegui enfardar seis pães de queijo assim de seguida, e ainda era capaz de comer mais. Voltei a calçar-me sem ser com chinelos de quarto porque tinha de ir à farmácia e, mesmo com sapatilhas, os pés já estranharam. É também muito estranho conduzir (ou voltar a conduzir) depois de tanto tempo de paragem e parece que já nem tenho tanta noção das distâncias e do tamanho do carro (sim, eu fazia muitos quilómetros por dia). Isto e outras coisas giras que estão sempre a acontecer, como ter um cão cheio de mimo que pedincha ainda mais para brincar porque tem a família toda em casa. 

 

Constatei, para lá de tudo isto, algo que já queria ter escrito aqui: como é que é possível conseguirmos estudar a sério e de forma concentrada quando o mundo à nossa volta está de pernas para o ar? Como é que é possível esquecer o que se passa lá fora e focar simplesmente no estudo e nas tarefas? Tenho o exame da Ordem na primeira semna de junho, e mais uma entrevista em maio e as entregas de relatórios em abril. Desde aquele dia em que os tribunais fecharam que nunca mais me consegui concentrar como precisava. A vida lá fora está assustadora, tenho medo até de ir ao supermercado e à farmácia, e foi tudo tão rápido que ainda não recuperei - lá está, estamos numa quarentena não anunciada. Pelo meio não consigo nem sou capaz de me enfiar nos relatórios que tenho que fazer ou de estudar simplesmente um dia inteiro de forma tranquila. Não quando estão a morrer pessoas todos os dias por causa deste vírus. Não quando sabemos que o pior ainda não chegou. Não quando sabemos que podemos ser obrigados a escolher quem podemos salvar. Não quando não sabemos se nós ou um dos nossos pode ser afetado. Não sei como é que se consegue arranjar concentração e desligar o botão da vida lá fora - e, caramba, eu já estudei de forma intensiva em épocas muito difíceis a nível familiar e emocional. Já consegui passar por cima de coisas que me doíam profundamente e fazer tudo o que tinha para fazer com um foco enorme. Mas agora está a ser diferente. E não, ainda não descobri como é que se desliga o botão desta vez... porque este botão já não é só meu nem da minha vida ou da minha família. Este botão agora diz respeito a mim, a todos, ao país e ao mundo.

E depois, para ajudar à festa numa época que já não é tranquila para ninguém, ainda tenho uma Ordem profissional espetacular (só que não). Uma Ordem profissional que abre as inscrições para entrega dos relatórios à meia noite, que me deixa acordada até à uma da manhã para ver se havia vagas, que me faz telefonar logo de manhã cedo a tirar dúvidas para confirmar que me podia inscrever em segurança, e que depois cancela as inscrições todas dez minutos depois do telefonema. Isto porque alguém lá dentro, num laivo de lucidez e racionalidade, deve ter percebido que era completamente impossível manter o calendário. Ao menos isso. Mas abriram inscrições sem dar explicações, cancelaram sem dizer nada e deixaram-nos mais uma vez à deriva. À tarde lá veio um comunicado que não dizia basicamente nada, assim a muito custo e porque muitos lhes devem ter entupido os telefones e os e-mails. Um comunicado que não mantém nem adia as entregas dos relatórios, um comunicado que não se pronuncia sequer sobre as entrevistas de maio e os exames de junho. Eu entendo que o órgão que comunica connosco é regional e não tem competência para tomar decisões no que respeita aos adiamentos, mas custa assim tanto tomar uma decisão? As pessoas que foram eleitas e que estão a desempanhar os cargos decisórios ainda não tiveram tempo - 15 dias depois de os tribunais terem encerrado - de tomar decisões? Ainda não perceberam que vai ser impossível juntar pessoas ou maio ou colocar centenas de pessoas a realizar exames escritos em junho? Custa assim tanto e é assim um horror tão grande tomar uma decisão? Custa assim tanto quanto isso decidir que se suspendem os estágios até que os tribunais retomem o normal funcionamento? Não sei o que dizer. Estou cada vez mais estupefacta com esta Ordem que nos trata tão mal. E percebo cada vez melhor que em tempos de guerra é que se vê quem tem capacidade de liderar... e nesse aspeto, está bom de ver que temos em muitos cargos de direção pessoas que não tem qualquer capacidade de tomar decisões ou liderar. Enfim, é esperar e ver. 

23
Mar20

Em quarentena...

Manga Meia-Loira

Estou há mais de uma semana fechada em casa e a cumprir todas as recomendações. Foi tudo muito rápido: numa quarta-feira adiaram-me um julgamento, na quinta-feira os tribunais deixaram de funcionar e nessa sexta deixei de ir ao escritório. No início não me fez confusão. Eu sou a pessoa que gosta de estar em casa, que não tem grande paciência para compras, que já passou dias e dias fechada em casa a estudar. Agora passou uma semana e já me está a fazer um bocadinho de confusão tudo isto. Não posso ir jantar, não posso ir tomar café, não posso ir para uma esplanada, não posso ir passear. A diferença está aí: eu até poderia, antes disto, ficar em casa... mas era sempre livre de sair. Livre de passear, de beijar, de sorrir, de abraçar, de ir lanchar ou almoçar, de ir jantar. Já tenho saudades de pegar no carro e ir, simplesmente ir. Tenho saudades até das rotinas casa-trabalho. Parou tudo e parou tudo muito rápido. Resta-me estar certa de que tudo vai passar. Estar certa de que, no fim, vamos (re)viver todos os abraços, todos os beijos e todos os sorrisos que ficam agora por dar. Estar certa de que vamos voltar a ir lanchar e passear, almocar e jantar, viajar e fazer planos. Estar certa de que vamos todos voltar à nossa normalidade. Por enquanto estou por aqui: em casa, a estudar e à espera de notícias de uma Ordem que se esquece completamente dos estagiários que tem (e os trata tão mal). À espera de tempos mais bonitos. A sonhar com os beijos, abraços e sorrisos que poderei dar depois de tudo isto.

(E a desejar muito e muito profundamente que todos nos possamos reerguer e continuar depois de tudo isto. A desejar muito e muito profundamente que a vida me permita e nos permita prosseguir com os planos e sonhos que neste momento estão suspensos. Sempre.)

14
Mar20

Sobre perder o respeito

Manga Meia-Loira

Eu ao longo do tempo nunca ouvi propriamente coisas boas da minha Ordem profissional. No entanto, sempre quis acreditar que ela existia para nosso benifício e para nos proteger e regular. Acreditei tanto que me inscrevi e estou a fazer o percurso normal. Ontem acabou o meu respeito. Ontem acabou qualquer consideração ou qualquer apreço que eu pudesse ter... isto por causa de um comunicado que foi emitido e que eu ainda não percebi se é para rir ou para chorar. Então vamos lá ver: o país para, os serviços param, as instituições param, as universidades param, as escolas param e para tudo o que pode parar. Para tudo e a dita Ordem incentivou inclusivamente a que parasse. No meio de tudo isso, os estagiários, porque precisam necessariamente de trabalhar para acabar o estágio, consideraram que a posição da Ordem seria, naturalmente, suspender os prazos do estágio até que a normalidade fosse retomada. Ontem tivemos finalmente uma resposta. Uma resposta que deixa uma esmagadora maioria de estagiários prejudicados, só para resumir. E eu quando li aquilo só senti uma profunda vontade de entregar na hora a minha cédula e só consegui perder completamente qualquer respeito ou consideração que pudesse ter pela instituição. Eu já tinha decidido, por várias razões, que no final do estágio quero suspender a inscrição para fazer outra coisa. Mas qualquer réstia de dúvida ou de questão que eu pudesse ter sobre continuar nesta profissão desapareceu ontem. Não, eu não quero esta profissão por vários motivos, muitos deles até pessoais, mas também não quero porque temos uma Ordem que nos desrespeita, que nos desregula e que não nos protege. Temos uma Ordem que não dignifica a profissão e que trata mal - tão mal - os seus profissionais.

 

Não temos uma Ordem: temos uma (des)Ordem que não protege os seus, temos uma (des)Ordem que não respeita os seus, temos uma (des)Ordem que ignora completamente os interesses dos seus estagiários, temos uma (des)Ordem que ignora completaemente o sentido de justiça e o princípio da igualdade, entre tantas outras coisas. Temos uma (des)Ordem que só nos desordena a vida e a profissão. Temos uma (des)Ordem que ontem perdeu todo o respeito, dignidade e consideração, pelo menos para mim (e para muitos outros colegas).

Ontem tive muita vontade de entegar a minha cédula. Ainda não o posso fazer agora, mas vou fazê-lo daqui a uns tempos e nesse dia e nesse momento não vou olhar para trás nem vou pensar dois segundos. E não, eu não queria nada sentir isto. Queria sentir que fiz parte de uma Ordem honrada, digna e que respeita os seus. Queria sentir que fiz parte de uma Ordem que protege os seus com tudo o que tem. Queria sentir que fiz parte de uma Ordem que contribui para que os seus e a sua profissão tenham o respeito e a dignidade que merecem. Queria sentir que fiz parte de uma Ordem que torna a vida dos seus profissionais melhor. Queria sentir que fiz parte de uma Ordem que contibui para que a profissão seja socialmente respeitada e reconhecida. Queria sentir que fiz parte de algo maior do que eu, que fiz parte de uma profissão que se sacrifica pessoalmente em nome dos direitos dos outros. Queria entregar a cédula e sentir que era uma escolha consciente mas que deixava para trás algo de bom e algo maior do que eu. Mas não. Vou entregar a cédula e não vou sentir nada disto. Vou sentir só um certo alívio por não continuar numa profissão que é cada vez menos valorizada e respeitada. Vou sentir só um certo alívio por não continuar numa profissão onde era deixada à minha sorte em termos de benefícios sociais e onde era ignorada e desrespeitada pela minha Ordem. Vou sentir só um certo alívio por não continuar numa profissão onde sacrificamos os nossos, a nossa vida pessoal, a nossa tranquilidade e o nosso bem-estar em nome dos outros, que tantas vezes desvalorizam isso (e não, não há uma Ordem que faça respeitar isso). Ontem vi colegas a pargilharem o comunicado e a esrcreverem a palavra vergonha... e eu percebi e senti exatamente o mesmo. Lá está. Vou entregar a cédula sem olhar para trás e isso só é motivo para me sentir triste.

13
Mar20

Sobre o Coronavírus

Manga Meia-Loira

Quando se começou a falar no vírus do momento, eu achei simplesmente que seria algo que nos passaria um bocadinho ao lado, ou que seria uma coisinha que não alteraria as nossas vidas. Eu como muita gente. Eu, que estava tão descontraída ao ponto de ter marcado, há já algumas semanas, uma viagem para Barcelona com mais três pessoas agora no fim de Março. Até ao início desta semana eu ainda estava relativamente descontraída.

Depois o número de doentes aumentou a sério. Depois as universidades começaram a fechar, uma por uma. Depois percebeu-se que o número de doentes não vai parar de aumentar. Depois tive um julgamento adiado por causa do corona vírus. Depois fiquei passada e extremamente furiosa porque houve indicação de adiar todos os julgamentos a Norte do país (e só a Norte, prejudicando gravemente os estagiários). Fiquei ainda mais passada porque os estagiários tem de entregar a partir de 6 de abril relatórios de julgamentos. Depois houve um despacho do Conselho Superior da Magistratura que determinou o adiamente de todos os julgamentos no país (à exceção dos processo em que estejam em causa direitos fundamentais) e toda a minha revolta parou ali. Parou ali a minha revolta, a minha fúria e parou ali tudo, pelo menos para mim. Depois veio a OMS declarar que estamos perante uma pandemia. E depois veio o Governo determinar o fecho das escolas e das discotecas em todo o país.

 

Já não vou a Barcelona. Já não vou jantar fora sábado. Já não vou tomar café a sítios fechados. Já tive medo de ir imprimir uns documentos que eram imprescindíveis. Tenho medo de ir ao supermecado. Já não estou sequer a pensar nos relatórios que tenho de acabar para a Ordem. Já não estou fixada nos planos que tinha de entregar os relatórios à Ordem em abril, fazer a entrevista em maio e fazer os exames escritos em Junho. Já me perdi dos planos que tinha para terminar todos os relatórios e estudar incessantememte. Há quatro dias escrevi aqui um texto e, em todo ele, escrevi que no dia 9 de junho estava livre e tinha o exame da Ordem feito, acontecesse o que acontecesse. Em quatro dias perdi todos os planos e todas as certezas. Provavelmente todas as entregas e exames da Ordem vão ser adiados. Provavelmente vamos todos ficar parados em casa. Provavelmente o país vai parar de ponta a ponta. Provavelmente todos os exames vão ser adiados.

Já não estou preocupada com os planos rígidos e desenhados ao milímetro que tinha. Já não estou a sonhar com os dias em Barcelona e com o terraço da casa que já tínhamos escolhido. Já não sei, como há quatro dias sabia, que no dia 9 de junho estarei livre. 

Porque eu no início achava que o vírus não tocaria nas nossas vidas. Porque eu no início achava que não nos trocaria as voltas. Mas depois percebi: o problema não é, definitivamente, só o vírus em si. O problema não se coloca nos termos de podermos morrer todos amanhã por causa do vírus (que não vamos morrer). O problema coloca-se, e isso eu percebi quando vi e ouvi médicos a falar, no plano dos recursos: o problema coloca-se quando podemos atingir um estado em que não há ventiladores, nem camas, nem profissionais para socorrer todos. O problema coloca-se quando se torna humana e física e matematicamente impossível socorrer todos: porque não há equipamentos suficientes, porque pode não haver profissionais suficientes, porque a saúde em si já se vive e já se realiza muitas vezes no limite dos recursos. O probelama coloca-se quando um país se pode ver obrigado a ter de escolher quem vai socorrer, ou quem vai socorrer primeiro. E eu não quero sequer imaginar um país assim, e não quero sequer pensar que isso poderá vir a ser uma realidade. 

E não, eu não estou preocupada propriamente por mim. Eu muito provavelmente até terei capacidade para recuperar do vírus se for contaminada. Os meus em princípio também. Mas depois há os outros: os que não tem idade nem capacidade física para resistir e os doentes de todas as idades que também não tem possibilidade de resistir ao vírus. E esses outros poderíamos ser nós. Esses outros poderiam ser a nossa avó ou o nosso avô, o nosso pai ou a nossa mãe, a nossa irmã ou irmão, o nosso amigo ou amiga. 

 

E eu posso ficar sem poder sair de casa, posso ficar sem jantar fora, posso ficar sem ir a Barcelona, posso ficar sem cumprir com o calendário que já tinha planeado e posso ficar sem fazer os relatórios ou exames da Ordem. Com isso vou eu viver bem. Mas não posso viver sabendo que possivelmente contribui para que alguém frágil ficasse infetado e morresse. Não posso viver sabendo que fui irresponsável e que viajei e jantei fora e, com isso, contribui para que o vírus se propagasse. Não posso viver sabendo que contribui para que os hospitais colapssassem. Não posso viver sabendo que contribui para que a saúde fosse obrigada a ter de escolher quem cuida primeiro. Não, isto não é só uma brincadeira. E eu agora só quero chegar a 9 de junho com a certeza de que, de forma responsável e calma, conseguimos controlar a pandemia e lentamente retomamos a normalidade. Só quero chegar a 9 de junho e, de consciência tranquila e num país calmo, saber que posso ir a Bacelona quando quiser, saber que vou cumprir com todo o calendário planeado quando tudo retomar e que a vida continua (sempre sempre continua). Isto só depende de nós, e cada um tem que fazer a sua parte. Fazer a sua parte e esperar que a saúde consiga responder a todos os que precisarem.

 

09
Mar20

É segunda feira e faltam três meses

Manga Meia-Loira

Quando eu comecei a licenciatura, já no longínquo ano de 2013, não sabia o que a vida me tinha reservado. Então veio a licenciatura, de 4 anos, depois veio o mestrado porque eu queria assim muito fazer mestrado, depois no segundo ano de mestrado veio o estágio da Ordem e a tese, e depois acabei a tese e apresentei-a, há duas semanas. A licenciatura e o mestrado estão fechados, falta acabar o estágio da Ordem.

Hoje é segunda-feira e faltam três meses para acabar a Ordem e, com ela, para fechar a bela da tríade a que me propus. Às vezes pergunto-me em que altura da vida é que eu achei boa ideia meter-me nisto (e eu até sei quando foi) e tenho vontade de bater (assim devagarinho) com a cabeça na parede. Outras vezes sorrio muito e sinto-me extremamente feliz e realizada por já ter percorrido tanto caminho. Mais de seis anos, uma licenciatura, um mestrado e um estágio depois... estou quase a fechar tudo. Nem acredito. Mas por que é que eu estou a escrever isto? Porque é segunda feira, faltam três meses e parece fácil. Só que não.

Nestes três meses tenho que acabar 30 relatórios, tenho que ficar dias e semanas fechada em casa a estudar, tenho que rezar a todos os anjos e santos e ao meu trabalho para que tudo seja aceite na Ordem, tenho que rezar a todos os anjos e santsos e ao meu trabalho para que me admitam a fazer exame, e tenho que passar por uma entrevista com um júri de três pessoas e por dois exames escritos. Faltam três meses e parece pouco. Faltam três meses e ainda falta tudo. E depois sinto-me cansada e preguiçosa, e preciso de arranjar motivação e vontade. E depois tenho que estar preparada para tudo. E depois tenho que estar preparada para haver alguma falha e não ser admitida a exame. E depois tenho que estar preparada para fazer exame e poder chumbar. Porque isso pode acontecer, é um facto, e se acontecer a vida continua (como diz a música, sempre sempre continua).

Claro que estou aqui por inteiro e disposta a dar tudo para que tudo corra bem. Claro que estou aqui pronta para o que der e vier, até porque não pode ser de outra maneira. Mas pelo meio já tenho andado mais irritada, pelo meio vou achar muitas vezes que vai sempre haver alguma falha, pelo meio vou ser chata e vou-me sentir cansada, pelo meio vou ter vontade de gritar e de bater com a porta, pelo meio vou perguntar-me algumas vezes em que altura da vida é que eu achei boa ideia meter-me nisto e pelo meio vou respiarr fundo muitas vezes. Não conheço outra forma de ser ou de fazer as coisas. Dou tudo até ao limite, fico irritada e cansada, sempre cansada porque o cansaço é inevitável, respiro fundo, faço as coisas e no fim nem me lembro do cansaço e sorrio muito. Foi assim até agora e espero que agora seja igual. Escrevi este texto para me lembrar que já só faltam três meses. Escrevi este texto para me lembrar que está na altura de continuar os relatórios. Escrevi este texto para me lembrar que a minha vida tem sido feita disto: de me meter por caminhos duros e fazer sempre o esforço de chegar até ao fim. Escrevi este texto para me lembrar que, embora de forma diferente, esta é só mais uma das vezes em que tenho que trabalhar a sério e dar tudo para conseguir algo que quero muito.

Hoje é segunda feira e faltam três meses. No dia 9 de junho volto aqui e, aconteça o que acontecer, já tudo passou. No dia 9 de junho, depois de ter recuperado a energia e de ter dormido, no dia que vai ser o dia do pós-exames, volto aqui e conto como foi. Até lá faltam três meses, muito trabalho, muito estudo, muito cansaço e muitos momentos de respirar fundo três vezes. 

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