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Manga Lima

Manga Lima

31
Out20

Foi ontem

Manga Meia-Loira

Ontem foi o exame. O primeiro exame. Comecei com energia, saí de lá a cair de cansada. A última parte foi de tal maneira difícil que era para arrasar connoco. Segunda temos outra oportunidade. Estou confusa, não sei o que fazer nem que exame escolher. Estou confusa e cansada, e o meu corpo ainda está um bocado abananado. Pedi uma opinião. Deram-ma. Vai um bocadinho de encontro à minha intuição. Mesmo assim, é terrível estar nesta posição de escolher sem saber o que fizemos bem ou mal. Sei perfeitamente que meti a pata na poça, sobretudo na segunda parte. Que resultado é que isso pode dar? Não sei bem. Sei que segunda temos outra oportunidade mas também sei que já chegamos lá cansados. Vamos ver. A partir de agora é esperar. Esperar e esperar. Até que as notas saiam a espera vai ser longa e precisamos mesmo de contar com a boa vontade de quem corrigir. O que me irrita mais é isto: meses de trabalho árduo e cansaço e depois espetam-nos com um exame que em parte é para arrasar connosco (como habitualmente). Se isto correr bem tenho motivos, muito motivos, para agradecer. 

29
Out20

Isto não é normal

Manga Meia-Loira

Eu sou aquela pessoa que, antes de fazer dois exames daqueles exigentes, depois de sete meses de estudo contínuo, anda a ver.... pós-graduações a começar em janeiro. Socorroooo. Eu, que juro a mim própria que nunca mais meto em coisas assim. Aconteceu agora.

16
Out20

Sobre este tempo

Manga Meia-Loira

Hoje foi sexta-feira, a Ordem continua sem me responder, a Ordem continua sem marcar entrevistas, Portugal atingiu mais um número recorde no que respeita aos números da pandemia, Portugal vai provavelmente bater na marca dos 3000 infetados por dia na próxima semana, o sistema de saúde pode começar a entrar em risco de colapso, a economia provavelmente volta a parar abrutptamente e volta tudo a fechar, os empregos assim vão à vida, o meu primo pode estar em risco de estar infetado (ainda que a probabilidade seja baixa), uma amiga minha tem a família toda infetada e por sorte calhou de não estar com ela a semana passada, esta semana decidi com muito custo que não vou jantar fora, nem almoçar, nem tomar café nem conviver com ninguém nos próximos 15 dias.

Hoje foi sexta-feira e senti-me cansada, irritada e assustada. Hoje foi sexta-feira e eu só queria ter a liberdade de viver sem medo, saber que nenhum vírus me impediria de fazer o exame, sair para jantar, sair à noite, sorrir, abraçar e tocar nas pessoas. Hoje foi sexta-feira, tive um dia altamente frustrante e só queria ver materializadas as palavras do virologista Pedro Simas quando disse a Cristina Ferreira que daqui a um ano já lhe poderia, à partida, dar um beijo. Hoje foi sexta-feira, estou cansada, quero descansar mas não posso porque o exame é já aqui, a pandemia está-me a deixar tão ou mais preocupada que o exame, e eu só queria ter saído pela porta de casa para ir jantar a um sítio bonito com pessoas de quem gosto, abraçar, rir, partilhar medos e alegrias, ver a vida a acontecer. Não pude. Só queria marcar já, neste momento, uma viagem para um sítio qualquer porque a seguir ao exame preciso de parar a vida e o mundo e aproveitar o momento. Não me arisco a isso porque a situação pandémica está a ficar ainda mais procupante. Hoje foi sexta-feira e eu só queria avançar no tempo para aquele lugar onde o exame já estará feito e onde já voltamos a ser todos livres de sair, rir e abraçar. 

16
Out20

Sobre este tempo

Manga Meia-Loira

Hoje foi sexta-feira, a Ordem continua sem me responder, a Ordem continua sem marcar entrevistas, Portugal atingiu mais um número recorde no que respeita aos números da pandemia, Portugal vai provavelmente bater na marca dos 3000 infetados por dia na próxima semana, o sistema de saúde pode começar a entrar em risco de colapso, a economia provavelmente volta a parar abrutptamente e volta tudo a fechar, os empregos assim vão à vida, o meu primo pode estar em risco de estar infetado (ainda que a probabilidade seja baixa), uma amiga minha tem a família toda infetada e por sorte calhou de não estar com ela a semana passada, esta semana decidi com muito custo que não vou jantar fora, nem almoçar, nem tomar café nem conviver com ninguém nos próximos 15 dias. Hoje foi sexta-feira e senti-me cansada, irritada e assustada. Hoje foi sexta-feira e eu só queria ter a liberdade de viver sem medo, saber que nenhum vírus me impediria de fazer o exame, sair para jantar, sair à noite, sorrir, abraçar e tocar nas pessoas. Hoje foi sexta-feira, tive um dia altamente frustrante e só queria ver materializadas as palavras do virologista Pedro Simas quando disse a Cristina Ferreira que daqui a um ano já lhe poderia, à partida, dar um beijo. Hoje foi sexta-feira, estou cansada, quero descansar mas não posso porque o exame é já aqui, a pandemia está-me a deixar tão ou mais preocupada que o exame e eu só queria ter saído pela porta de casa para ir jantar a um sítio bonito com pessoas de quem gosto, abraçar, rir, partilhar medos e alegrias, ver a vida a acontecer. Não pude.

14
Out20

E então tive medo do covid

Manga Meia-Loira

O desassossego com o exame da Ordem não pára. Se não é uma coisa, é outra. O mais irónico é que até me sinto relativamente preparada. O medo não vem do exame nem de ter de fazer o exame. O verdadeiro medo, o medo maior, vem mesmo de eventualmente não poder fazer o exame, isto porque ainda não recebi o despacho a admitir a exame, e porque pode acontecer de ter covid. Sinceramente, já só tenho medo disso. Neste momento, o meu medo em relação ao covid é só mesmo porque me posso ver impedida de fazer o exame. Já nem é só o facto de estar doente. Quando andamos meses a preparar um exame e depois podemos não o fazer por motivos alheios... só a ideia é demasiado frustrante e angustiante e deixa-me quase sem chão e sem ar. O mais curioso é que fico mais cansada e desgastada com este medo de não fazer o exame do que a estudar. Nunca desejei tanto nem tão profundamente que novembro chegasse rápido. Nem vou acreditar.

10
Out20

Bem-me-queiras

Manga Meia-Loira

Sobre respostas, não sei bem o que pensar ou o que dizer. Às vezes preciso mesmo de respostas, quase de forma urgente. Tenho aprendido que elas muitas vezes não nos acrescentam... o que tiver de ser, será. Para lá disso, tenho esta certeza: no momento em que não procuramos nem precisamos de respostas, no momento em que deixamos que a vida vá fazendo acontecer, então é porque alcançamos a paz. Uma paz que nos deixa viver o que há e o que há-de vir, de forma tranquila e sem precisar de respostas antecipadas. Viva a essa paz! E o que tiver de ser, sempre o será. 

Bem-me-queiras.jpg

(Sobre ontem: mais uma ficha, mais uma volta. Não sei o que vai ser, não sei como vai ser, não sei se vai ser como me disseram ou não. Não sei sequer se quero saber ou não. Acho que nem quero saber. Quero confiar que a vida sabe o que faz, como faz e quando o faz. Quero só esta paz de viver o presente e o futuro com tranquilidade, sem precisar de respostas)

06
Out20

E se tudo falhar?

Hoje é terça e tenho medo. Muito medo.

Manga Meia-Loira

A semana passada recebi uma informação que, não sendo definitiva, pode pôr em causa todo o meu (longo) percurso no estágio. O chão desabou e chorei desalmadamente como já não me lembrava de o fazer.

Hoje, em conversa, lembrei-me (ou relembrei-me) que afinal há questões que podem ser colocadas no teste que não tínhamos equacionado. É uma imensidão de informação que foi despejada devido ao covid e que é impossível dominar. 

Hoje, ao contrário daquilo que diria há duas semanas, a possibilidade de tudo correr mal e eu perder o estágio e todo o esforço que fiz até aqui, é muito real. A possibilidade de não conseguir ir a exame é muito real. A possibilidade de chumbar no exame é tão ou mais real.

Com isto, há uma questão que tenho de colocar a mim própria e que está acima de todas as outras. O que fazer se tudo isto falhar? Não sei, na verdade não é possível antever como vamos reagir, nunca é. Sei que o chão vai desabar, e muito provavelmente vou ficar com a sensação de que o mundo acabou e com uma noção de falhanço enorme. Isso é quase inevitável, não adianta dizer que não. É ainda mais inevitável quando todo o meu percurso até agora foi praticamente em linha reta e sem grandes obstáculos ou falhas. Sobretudo na universidade, tive sempre resultados muito acima daquilo que esperava. Agora é diferente, muito diferente. Antes de tudo, tenho de colocar as coisas em perspectiva. Isto não é uma fatalidade nem se compara à ideia de perder alguém que amamos. Parece uma comparação parva mas não é. À partida vou continuar inteira e com os meus, e isso só por si já vale por tudo. Depois, tenho de racionalizar a questão: posso recorrer ou posso voltar a tentar. A seguir, tenho de ser prática e realista: eu não quero, de todo, exercer esta profissão. Não quero agora e provavelmente não vou querer no futuro, ainda que distante (aliás, eu costumo pensar que, se tudo correr bem, eu não volto a ativar a inscrição). Ou seja, isto não é uma questão de não poder exercer a profissão que quero. É uma questão interior, de mim comigo, que não é menos importante por isso. Se eu não concluir isto, vou ficar com a sensação de falhanço e de fracasso, como aquelas coisas que sabemos que daqui a vinte anos ainda nos vão moer e chatear. Vou ficar com a noção de auto eficácia muito afetada e reduzida. Não queria isso. Muito menos depois de ter trabalhado tanto durante estes dois anos de estágio e de ter trabalhado tanto para fazer os relatórios. Sobretudo depois de ter trabalhado tanto nisto. 

Não sei como vai correr, não sei como vai ser. Sei que hoje tenho medo, muito medo, e provavelmente vou continuar a ter até ao fim. E se tudo falhar? Não sei. Só sei que não será o fim do mundo nem o fim de nada. Assim o espero. 

 

06
Out20

E se tudo falhar?

Hoje é terça e tenho medo. Muito medo.

Manga Meia-Loira

A semana passada recebi uma informação que, não sendo definitiva, pode pôr em causa todo o meu (longo) percurso no estágio. O chão desabou e chorei desalmadamente como já não me lembrava de o fazer.

Hoje, em conversa, lembrei-me (ou relembrei-me) que afinal há questões que podem ser colocadas no teste que não tínhamos equacionado. É uma imensidão de informação que foi despejada devido ao covid e que é impossível dominar. 

Hoje, ao contrário daquilo que diria há duas semanas, a possibilidade de tudo correr mal e eu perder o estágio e todo o esforço que fiz até aqui, é muito real. A possibilidade de não conseguir ir a exame é muito real. A possibilidade de chumbar no exame é tão ou mais real.

Com isto, há uma questão que tenho de colocar a mim própria e que está acima de todas as outras. O que fazer se tudo isto falhar? Não sei, na verdade não é possível antever como vamos reagir, nunca é. Sei que o chão vai desabar, e muito provavelmente vou ficar com a sensação de que o mundo acabou e com uma noção de falhanço enorme. Isso é quase inevitável, não adianta dizer que não. É ainda mais inevitável quando todo o meu percurso até agora foi praticamente em linha reta e sem grandes obstáculos ou falhas. Sobretudo na universidade, tive sempre resultados muito acima daquilo que esperava. Agora é diferente, muito diferente. Antes de tudo, tenho de colocar as coisas em perspectiva. Isto não é uma fatalidade nem se compara à ideia de perder alguém que amamos. Parece uma comparação parva mas não é. À partida vou continuar inteira e com os meus, e isso só por si já vale por tudo. Depois, tenho de racionalizar a questão: posso recorrer ou posso voltar a tentar. A seguir, tenho de ser prática e realista: eu não quero, de todo, exercer esta profissão. Não quero agora e provavelmente não vou querer no futuro, ainda que distante (aliás, eu costumo pensar que, se tudo correr bem, eu não volto a ativar a inscrição). Ou seja, isto não é uma questão de não poder exercer a profissão que quero. É uma questão interior, de mim comigo, que não é menos importante por isso. Se eu não concluir isto, vou ficar com a sensação de falhanço e de fracasso, como aquelas coisas que sabemos que daqui a vinte anos ainda nos vão moer e chatear. Vou ficar com a noção de auto eficácia muito afetada e reduzida. Não queria isso. Muito menos depois de ter trabalhado tanto durante estes dois anos de estágio e de ter trabalhado tanto para fazer os relatórios. Sobretudo depois de ter trabalhado tanto nisto. 

Não sei como vai correr, não sei como vai ser. Sei que hoje tenho medo, muito medo, e provavelmente vou continuar a ter até ao fim. E se tudo falhar? Não sei. Só sei que não será o fim do mundo nem o fim de nada. Assim o espero. 

 

03
Out20

Sobre infertilidade

Manga Meia-Loira

Ontem vi uma reportagem incrível num programa de televisão que me tocou. A Margarida nasceu com uma doença, mais especificamente um síndrome, e soube desde os 12 anos que nunca poderia ser mãe de forma natural. A Margarida cresceu a querer muito ser mãe e convencida de que não o poderia ser. Depois acabou por perceber que existe a doação de óvulos, já bastantes anos depois, encontrou o amor, casou e, à terceira tentativa, conseguiu que os tratamentos resultassem e foi mãe.

Eu não posso dizer que cresci a querer ser mãe, nem perto disso. O meu foco foi sempre muito para a parte escolar e académica. Mas posso dizer que a maternidade é algo que concebo enquanto continuidade do amor, da vida, da família, e que um dia gostaria de a viver. E porquê este texto? Porque eu, por acaso, tenho o mesmo síndrome da Margarida, embora com contornos diferentes e consequências diferentes. Temos pelo menos algo em comum: eu também sei, acho que desde os 7 anos, que não poderei ser mãe de forma natural. Confesso que encarei as coisas de forma diferente da Margarida: não cresci a querer ser mãe, nem penso nisso ou no síndrome na maior parte dos dias, e sempre tive consciência de que há tratamentos e tentativas possíveis se quisermos ser mães (muito dolorosos a vários níveis, muito desgastntes, muito caros, muito duros, muito tudo, e sem qualquer garantia de resultados, sim). Há, contudo, algo que a Margarida referiu que me deixou a refletir. Também eu não sei como é que se conta a alguém que se ama que não poderemos ser mães de forma natural. Nunca tive de o fazer porque não encontrei o tal amor, mas ontem confirmei com todas as certezas que, se aparecer alguém especial, esse vai ser um dos meus maiores medos e obstáculos. Como ela referiu, isto para nós é um dado adquirido e crescemos com esta confirmação, mas para alguém que nem coloca essa hipótese (porque ter filhos ainda é visto como algo natural e inato ao ser humano), deve ser um "choque" receber esta notícia. Deve ser algo difícil de digerir, no mínimo, saber que a pessoa com quem queremos partilhar a vida não pode simplesmente ter filhos de forma natural. Não sei como é que iriei lidar com isso se isso surgir, muito menos sei se isso deve ser dito no início logo de rajada ou se só deve ser dito quando já há uma relação (embora eu tenda mais para a ideia de largar logo a bomba e ficar tudo claro). Não sei sequer se eu vou chegar a esse ponto da vida em que vou querer ser mãe, ou se vou estar disposta a entrar nesses caminhos duríssimos dos tratamentos, ou se vou encontrar alguém disposto a embarcar comigo por esses caminhos. Mas fiquei muito feliz, muito feliz mesmo, pela Margarida, pela sua história e pelo final feliz que ela quis e conseguiu ter. 

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