A semana passada recebi uma informação que, não sendo definitiva, pode pôr em causa todo o meu (longo) percurso no estágio. O chão desabou e chorei desalmadamente como já não me lembrava de o fazer.
Hoje, em conversa, lembrei-me (ou relembrei-me) que afinal há questões que podem ser colocadas no teste que não tínhamos equacionado. É uma imensidão de informação que foi despejada devido ao covid e que é impossível dominar.
Hoje, ao contrário daquilo que diria há duas semanas, a possibilidade de tudo correr mal e eu perder o estágio e todo o esforço que fiz até aqui, é muito real. A possibilidade de não conseguir ir a exame é muito real. A possibilidade de chumbar no exame é tão ou mais real.
Com isto, há uma questão que tenho de colocar a mim própria e que está acima de todas as outras. O que fazer se tudo isto falhar? Não sei, na verdade não é possível antever como vamos reagir, nunca é. Sei que o chão vai desabar, e muito provavelmente vou ficar com a sensação de que o mundo acabou e com uma noção de falhanço enorme. Isso é quase inevitável, não adianta dizer que não. É ainda mais inevitável quando todo o meu percurso até agora foi praticamente em linha reta e sem grandes obstáculos ou falhas. Sobretudo na universidade, tive sempre resultados muito acima daquilo que esperava. Agora é diferente, muito diferente. Antes de tudo, tenho de colocar as coisas em perspectiva. Isto não é uma fatalidade nem se compara à ideia de perder alguém que amamos. Parece uma comparação parva mas não é. À partida vou continuar inteira e com os meus, e isso só por si já vale por tudo. Depois, tenho de racionalizar a questão: posso recorrer ou posso voltar a tentar. A seguir, tenho de ser prática e realista: eu não quero, de todo, exercer esta profissão. Não quero agora e provavelmente não vou querer no futuro, ainda que distante (aliás, eu costumo pensar que, se tudo correr bem, eu não volto a ativar a inscrição). Ou seja, isto não é uma questão de não poder exercer a profissão que quero. É uma questão interior, de mim comigo, que não é menos importante por isso. Se eu não concluir isto, vou ficar com a sensação de falhanço e de fracasso, como aquelas coisas que sabemos que daqui a vinte anos ainda nos vão moer e chatear. Vou ficar com a noção de auto eficácia muito afetada e reduzida. Não queria isso. Muito menos depois de ter trabalhado tanto durante estes dois anos de estágio e de ter trabalhado tanto para fazer os relatórios. Sobretudo depois de ter trabalhado tanto nisto.
Não sei como vai correr, não sei como vai ser. Sei que hoje tenho medo, muito medo, e provavelmente vou continuar a ter até ao fim. E se tudo falhar? Não sei. Só sei que não será o fim do mundo nem o fim de nada. Assim o espero.