Quando o covid se aproxima
Em outubro o meu primo apanhou um susto com o covid porque a mulher de um colega de trabalho dele testou positivo. Aí preocupei-me, aliás preocupei-me mesmo muito, até porque tinha o exame poucos dias depois. Foi só um susto e na verdade nem foi bem comigo, apesar de haver a possibilidade de, se o meu primo estivesse infetado, me transmitir. Ontem foi comigo. Na quarta-feira passada estive a almoçar numa esplanada e uma das minhas amigas ontem começou a ter febre e dores de garganta. Pronto, é isto. Até ao teste dela vou naturalmente fazer as refeições à parte da família e evitar contactos. Se o teste dela der positivo, vou fazer o teste logo. Não que esteja propriamente em pânico: só não quero mesmo infetar ninguém. Agora é isto a nossa vida, quase uma roleta russa em que nunca sabemos bem se o covid está à espreita ou não mas temos a certeza que pode estar. Não sabemos bem se já estivemos em contacto direto com o covid ou não mas sabemos que essa probabilidade existe e é grande.
E então o que é suposto fazer? Será que é legítimo ir a um dia da semana almoçar com duas ou três amigas numa esplanada? Ou será que isso já começa a ser irresponsável? Será que é possível ir tomar café dentro do horário permitido com um amigo ou com a família, cumprindo as normas? Ou será que já devemos considerar que com isso nos estamos a colocar em risco? Será que podemos ir descansados passear perto da praia, com máscara? E se quisermos ir lanchar com alguém? Começa a ser um equilíbrio muito difícil. Por um lado, estamos com um nível de contágio muito alto e a propagação existe e é um risco real: na rua, na padaria, no supermercado, no restaurante, na escola, em todo o lado. Por outro lado ainda nos é possível, dentro da lei, fazer compras, almoçar, jantar, estar com amigos e com a família (e ainda bem). É complicado: por um lado há um risco real e grave, por outro lado nós precisamos muito de sair de casa, de passear, de contactar com as pessoas de quem gostamos, de visitar sítios, de fazer compras e isso tudo. Mais, a economia e a sobrevivência dos negócios precisa tanto disso como a nossa saúde mental. A palavra precisar não está aqui por mero acaso: é precisar porque nós somos seres sociais e necessitamos do contacto com o outro. Não tenho formação na área da saúde nem da saúde mental, mas tenho a certeza que este medo do contacto e este isolamento que nos é recomendado tem um impacto sério sobre a saúde mental. Além do impacto na economia, que bem conhecemos. Se a nossa saúde e a de quem nos rodeia depender disso, obviamente que tem que se fazer tudo o que for possível para a preservar. Mas que ninguém me pergunte as saudades que tenho de sair livremente para jantar num bom restaurante e depois poder ir livremente dançar a noite toda e só chegar a casa de manhã. Não me perguntem porque quando isso for possível eu nem vou acreditar.