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Manga Lima

Manga Lima

24
Nov20

Quando o covid se aproxima

Manga Meia-Loira

Em outubro o meu primo apanhou um susto com o covid porque a mulher de um colega de trabalho dele testou positivo. Aí preocupei-me, aliás preocupei-me mesmo muito, até porque tinha o exame poucos dias depois. Foi só um susto e na verdade nem foi bem comigo, apesar de haver a possibilidade de, se o meu primo estivesse infetado, me transmitir. Ontem foi comigo. Na quarta-feira passada estive a almoçar numa esplanada e uma das minhas amigas ontem começou a ter febre e dores de garganta. Pronto, é isto. Até ao teste dela vou naturalmente fazer as refeições à parte da família e evitar contactos. Se o teste dela der positivo, vou fazer o teste logo. Não que esteja propriamente em pânico: só não quero mesmo infetar ninguém. Agora é isto a nossa vida, quase uma roleta russa em que nunca sabemos bem se o covid está à espreita ou não mas temos a certeza que pode estar. Não sabemos bem se já estivemos em contacto direto com o covid ou não mas sabemos que essa probabilidade existe e é grande. 

E então o que é suposto fazer? Será que é legítimo ir a um dia da semana almoçar com duas ou três amigas numa esplanada? Ou será que isso já começa a ser irresponsável? Será que é possível ir tomar café dentro do horário permitido com um amigo ou com a família, cumprindo as normas? Ou será que já devemos considerar que com isso nos estamos a colocar em risco? Será que podemos ir descansados passear perto da praia, com máscara? E se quisermos ir lanchar com alguém? Começa a ser um equilíbrio muito difícil. Por um lado, estamos com um nível de contágio muito alto e a propagação existe e é um risco real: na rua, na padaria, no supermercado, no restaurante, na escola, em todo o lado. Por outro lado ainda nos é possível, dentro da lei, fazer compras, almoçar, jantar, estar com amigos e com a família (e ainda bem). É complicado: por um lado há um risco real e grave, por outro lado nós precisamos muito de sair de casa, de passear, de contactar com as pessoas de quem gostamos, de visitar sítios, de fazer compras e isso tudo. Mais, a economia e a sobrevivência dos negócios precisa tanto disso como a nossa saúde mental. A palavra precisar não está aqui por mero acaso: é precisar porque nós somos seres sociais e necessitamos do contacto com o outro. Não tenho formação na área da saúde nem da saúde mental, mas tenho a certeza que este medo do contacto e este isolamento que nos é recomendado tem um impacto sério sobre a saúde mental. Além do impacto na economia, que bem conhecemos. Se a nossa saúde e a de quem nos rodeia depender disso, obviamente que tem que se fazer tudo o que for possível para a preservar. Mas que ninguém me pergunte as saudades que tenho de sair livremente para jantar num bom restaurante e depois poder ir livremente dançar a noite toda e só chegar a casa de manhã. Não me perguntem porque quando isso for possível eu nem vou acreditar. 

22
Nov20

E se a felicidade não for uma carreira?

Manga Meia-Loira

Hoje dei de caras com isto num filme fofo de Natal. É verdade que a vida nunca é tão simples como num filme, muito menos como nestes filmes de Natal em que todos encontram o caminho do amor, da família, da felicidade e da realização plena de forma rápida e fácil. Mas hoje li esta frase e já pensei tanto sobre isto que não podia passar em branco. Eu, não fosse a vida ter-me apresentado os caminhos que apresentou até aqui, era pessoa para colocar a carreira acima de tudo e de todos e até para julgar quem pensa de forma contrária. A vida em certos aspetos sabe o que faz, e cedo aprendi que não, uma carreira tem que ser só e apenas uma carreira e não nos pode tirar tudo o resto. Para mim não pode. Aconteça o que acontecer, espero nunca perder esta noção. Porque no final do dia, da semana, do mês ou do ano... no trabalho somos só um número. Somos feitos de trabalho, e quanto mais nos conseguirmos realizar melhor, mas isso tem que ser só uma parte da nossa vida, nunca pode ser o todo. É por isso que não quis ir fazer mestrado para outra cidade. É por isso que não me candidatei sequer às vagas "espetaculares" que toda a gente quer e para as quais tinha média e currículo. É por isso que continuo a não querer ir por esses caminhos que toda a gente considera "espetaculares", "estrondosos", "de sucesso" e outras coisas que tais. Isso ia tirar-me de casa, ia tirar-me da família, ia tirar-me das raízes. Ia roubar-me tempo. Ia roubar-me fins-de-semana e férias. Ia roubar-me o sono. Ia roubar-me a tranquilidade e a paz, e no fim eu seria apenas um número dentro de uma grande sociedade ou empresa multinacional, a abdicar da vida para ganhar um dinheiro que nunca pagaria o esforço, fosse o valor que fosse (e é muito menos do que aquilo que parece à primeira vista, então se dividirmos pelo número de horas de trabalho é escandaloso). A felicidade não tem que ser uma carreira. Pode mesmo não ser e está tudo bem. A felicidade pode ser - para mim é - ter a tranquilidade de estar perto de casa e perto dos meus. Pode ser, e muitas vezes é mesmo, aproveitar as pequenas coisas... que normalmente tem pouco que ver com prémios, promoções, reconhecimentos, salários, títulos e coisas que tal. Espero que esta essência se mantenha. Espero ainda mais, se um dia esta minha crença balançar, ter a capacidade de ler isto e de me (re)lembrar do que importa. Porque no fim, tudo o que guardamos em nós são os beijos que demos aos nossos pais, o colo que demos aos nossos filhos e os sorrisos que demos a quem gosta de nós. Só isso. Só isto. A felcidade é tão simples e às vezes invisível porque está nas pequenas coisas. Está mesmo.

Carreira 1.png

Carreira 2.png

 

21
Nov20

Mar, Amor, Amizade e Sorrisos

Manga Meia-Loira

Hoje voltamos a estar juntos, a sorrir, a conversar, a partilhar histórias, a brincar, a lembrar memórias bonitas, a tentar antever o futuro próximo. Hoje sentámo-nos na mesma mesa, tanto tempo depois, e paramos o mundo e a pandemia por umas horas. Hoje fui muito feliz naquele tempo e naquele espaço, e o resto parou. Era tudo o que eu precisava. Não sei o que se segue, não sei bem o que quero que se siga. Não sei se o meu coração e a razão querem o mesmo, nem sei se o que o coração quer é o mais certo. Também não sei se aquilo que a vida vai fazer acontecer (o que quer que seja) é o melhor para mim. Sei que há mar e mar e há ir e voltar. Hoje isso basta. Aqui e agora basta isso: saber que há mar e mar e há ir e voltar. O que quer que a palavra voltar signifique. 

12
Nov20

Entre a saúde e a economia

Manga Meia-Loira

Estamos, por causa da pandemia, numa espécie de posição "entre a espada e a parede". A verdade é esta e não há milagres nem existe - antes existisse - a possibilidade de escolher o melhor de dois mundos. A vida é muitas vezes, ou quase sempre, feita de trade-offs, e a pandemia traz-nos as escolhas mais difíceis. Se me perguntarem o que deveríamos fazer, ou o que eu faria se estivesse numa posição de tomar decisões ou fosse governo? Não sei, é a única resposta que consigo dar. Neste momento penso que a última coisa que alguém pode desejar é ser primeiro-ministro, ministro da saúde ou diretor-geral de saúde. Por um lado, é preciso proteger o emprego, não destruir as empresas e permitir que as pessoas possam continuar a trabalhar e ganhar dinheiro para pôr comida na mesa para a família. É disto que se trata: continuar a trabalhar e a ganhar dinheiro para comer e pagar contas. Neste aspeto, os mais prejudicados são logo os setores da restauração, da hotelaria e do turismo, das diversões e da cultura, entre outros relacionados. Compreendo isto tudo perfeitamente, tanto que os meus pais viveram, até há poucos anos, da exploração de um espaço de restauração e cafetaria. Tanto que neste momento tenho um primo que vive exclusivamente da exploração de um restaurante. Mas depois, e é aqui que levamos com um murro na estômago, na alma e no coração, se pensarmos que podemos ter um dos nossos em risco de vida numa unidade de cuidados intensivos, tenho a certeza que queremos tudo completamente fechado e queremos todas as medidas possíveis, e a economia passa a ser a última das nossas preocupações. É disto que se trata, de forma pura e dura. Não queremos, de todo, que a economia desabe, nem podemos permitir que os empregos se destruam e que as pessoas deixem de ter o suficiente para colocar comida na mesa. Mas se pensarmos que os nossos podem correr risco de vida - e o risco é real e verdadeiramente assustador - então, meus caros, eu falo por mim, mas quero que se lixe a economia, o emprego e o dinheiro. É isto que se nos coloca neste momento. Obviamente que não há soluções perfeitas nem milgares, e aqui o ideal será sempre uma solução intermédia, até porque não se pode racionalmente deixar que a economia desabe ou que as pessoas morram por falta de assistência e de cuidados. Não sei, de todo, o mais correto a fazer e acho que o governo (com o qual não simpatizo particularmente) tem feito o possível, embora com falhas, como é natural. Espero que as novas medidas levem a uma redução de casos e permitam aliviar o sistema de saúde. Espero sinceramente que se consiga melhorar a situação, mas com a noção de que temos ainda um caminho a percorrer. Até lá... temos de confiar em que toma decisões, entender que neste momento não há soluções perfeitas e fazer a nossa parte. Esperando sempre que tudo corra pelo melhor.

08
Nov20

Um ano e uma pandemia depois

Manga Meia-Loira

Há um ano decidi que era altura de começar a estudar para o exame da Ordem e fui comprar cadernos e porta-lápis e tudo. O exame ia ser em junho. Pelo meio, comecei mesmo a estudar e as coisas foram correndo normalmente até março. No início de março ainda estava tudo preparado para que os relatórios fossem entregues em abril, a entrevista fosse feita em maio e o exame em junho. Na segunda semana de março a realidade começou a mudar muito rapidamente e de forma abrupta, e de repente estavam os tribunais fechados, o país parado e o estado de emergência decretado. Aliás, eu escrevi aqui um texto no início de março em que dizia que tudo terminaria em junho. O que se seguiu foi uma série de incertezas e angústias, a vários níveis. Primeiro a Ordem deu-nos a informação de que poderíamos, se não nos fosse possível terminar os relatórios, prorrogar o estágio e nada seria adiado. Foi o primeiro embate e ninguém esperava essa decisão. Depois, abriram as inscrições para a entrega dos relatórios como se nada fosse para as encerrarem 30 minutos depois. Uns tempos depois, perante a inevitabilidade de adiar tudo, e por ser de todo impossível entregar os relatórios e fazer a entrevista e o exame naquele contexto, a Ordem decidiu adiar tudo. A seguir, tivemos finalmente datas. Há duas semanas, com o exame marcado para a sexta e a segunda do fim-de-semana de Halloween, veio a proibição de circulação e eu voltei a achar que íamos ver tudo cancelado. Ao fim do dia veio a confirmação de que o exame se iria realizar. De realçar que, pelo meio, entreguei os relatórios todos e recebi um despacho para suprir irregularidades que me deixou a chorar desalmadamente e me fez perder o chão. Foi tudo muito lento, foi tudo feito e decidido em cima do joelho, e a pressão foi absurda, agudizada pela forma como a Ordem geriu tudo. Foi duro, muito duro, de uma forma que nem consigo descrever bem. Agora, um ano depois do dia em que decidi que ia começar a estudar para o exame e uma semana depois do exame, depois desta série de acontecimentos, consegui pela primeira vez dormir bastante e de forma descansada. Ontem e hoje consegui, finalmente, dormir sem pensar no exame e sem pensar em mais nada e descansar. Precisava mesmo muito disso. Não sei se correu bem ou não (e correr bem aqui é passar), não sei quando vamos ter resultados, não sei como vou reagir. Tenho de descansar e preparar o futuro, acreditando que tudo irá dar certo. Vai correr tudo bem. De 2020 fica esta frase.

03
Nov20

Vai correr tudo bem

Manga Meia-Loira

Ontem foi o dia do último exame e o dia de esolher o exame que ia ser corrigido. Escolhi o anterior e não o de ontem. Não que o anterior tenha corrido propriamente bem, que não correu, não que o de ontem fosse pior, que provevelmente não era. Escolhi um bocadinho pela intuição e pelos conselhos que recebi. Não sei se vai correr bem, não sei se vou passar, não sei como vai ser. Agora é tempo de descansar. Tempo de dormir, de comer, de não ter horários rígidos de estudo. Tempo de olhar para o sol, de ver séries, de ler, de acompanhar notícias. Tempo de ir preparando o futuro, que é já aqui. Pelo meio, é claro que os exame foram angustiantes, a escolha foi angustiante e acho sempre que falhei muito. Isso é duro, é difícil e é uma incerteza que só acabará daqui a várias semanas, quando saírem as pautas. Mas depois o meu pai diz-me que vai correr tudo bem, os meus amigos dizem-me que vai correr tudo bem, a minha restante família diz-me que vai correr tudo bem, o meu explicador diz-me que vai correr tudo bem... e eu só tenho que acreditar. O meu pai não sabe se vai correr bem, os meus amigos não sabem se vai dar tudo certo, o meu explicador não sabe se vai correr bem... mas dizem-me. E eu tenho de acreditar em mim, no meu esforço e no meu trabalho. Tenho de descansar, recuperar peso, recuparar da vida contada ao segundo e do estudo intenso dos últimos meses. Não sei se vai correr bem e os meus também não sabem. Mas eles dizem-me e eu tenho de acreditar. Vai correr tudo bem. Vai dar tudo certo. 

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