Trabalho, vida e ironia
Tive uma semana de trabalho interminável, ainda mais que a anterior. Aliás, se há coisa que percebi nestas duas semanas é que naquele sítio tudo é interminável: o trabalho, a quantidade de tarefas, a pressão, a falta de tempo, os horários, enfim. Em pouco tempo também percebi, indubitavelmente, que aquele lugar não será para mim porque eu não quero nem aceito esta vida. Fui ao engano. Tomei opções de vida sempre no sentido de ter uma vida calma e com tempo para mim. Candidatei-me a um lugar onde deveria trabalhar oito horas por dia e ter todos os direitos normais. Tudo o que se tem passado tem sido exatamente o contrário. Não sei até quando vou estar lá. Não sei até quando vou querer ou conseguir. Não sei sequer se vou querer chegar até à primeira renovação do contrato. Enquanto for conseguindo estar sem que a minha saúde dê alertas sérios vou estar (ou até que algo surja). Vou pelo menos aprender. Quando tiver que bater com a porta vou bater sem pensar duas vezes. Não quero nem vou aceitar ficar num sítio onde não há qualquer respeito pelos horários, pelo tempo humanamente necessário para desenvolver tarefas, pelo descanso das pessoas, pelas horas extraordinárias de trabalho, pelas licenças de parentalidade e por tudo isso. Venderam-me, nas entrevistas, um local com condições ótimas para trabalhar e para conciliar a vida pessoal e profissional. Não podiam ter dado uma ideia mais errada. E eu, que me recusei a ir para uma grande sociedade ou grande consultora, que não me candidatei a essas precisamente por isso, que me quis desviar da profissão que abracei por isso, acabei num sítio exatamente igual ou ainda pior (sim, que ao menos nessas sempre ganharia melhor). E eu que me recusei sempre a isso tudo, fui sem saber parar a um sítio desses. Espero lembrar-me sempre deste texto e de tudo o que escrevi aqui sobre essa coisa de a vida não ser só trabalho. Espero continuar a entender isto e recusar isto. Espero bater com a porta rapidamente. Não podia estar mais desiludida. Mas quando tiver que sair vou sair. E terei muitas outras hipóteses, felizmente. Serve isto de lição. Não fiquem num sítio sem antes saber como é que é realmente a vida de quem lá trabalha. Enfim. Espero em breve poder bater com a porta e ter ventos positivos de mudança. Hei-de ter.