Covid, aeroportos e abraços
Há um aspeto desta pandemia que toca especialmente quem vive fora e quem tem os seus lá fora. Não poder voltar a casa e ao país, ou não poder ir a outro país visitar os nossos, é uma das coisas difíceis desta pandemia. A mim toca-me especialmente porque tenho os meus pais e irmã a viver do outro lado do mundo. Num país que agora apertou ainda mais as restrições e me impede de ir lá, impedindo-os também de sair de lá e depois poder voltar. Já não vejo nem estou com o meu pai há um ano. Já não vejo nem estou com a minha mãe há um ano e meio, desde agosto de 2019. Estou sem esse abraço, sem esse colo e sem essa luz de família há mais de um ano. Estava previsto eles terem estado cá o verão passado. Já não estiveram. Eu também não consegui ir lá no verão porque tinha o exame da Ordem e tive medo de ficar retida. Se no ano passado consegui lidar muito bem com isto, e aceitar muito bem, tenho de dizer que agora me está a doer. Se calhar porque já sei ao que vou. Se calhar porque já não é a primeira vez. Se calhar porque estou numa fase bastante mais frágil. Agora sim, precisava de estar com eles. Já li tudo, já pensei em todas as hipóteses e não é possível. Até que as restrições do país onde eles estão sejam levantadas vai ser impossível eu ir lá. Assim como vai ser quase impossível eles virem cá. Tenho saudades deles. Eles tem saudades minhas, saudades de casa e saudades do país. Estamos há praticamente um ano nesta incerteza. E não é possível fazer nada. Quando há uma semana a Mariza cantou a música "Gaivota" no aniversário da TVI, vi que ela fez uma referência aos portugueses que estão longe, separados pelo mar e impedidos de voltar a casa. Aquilo comoveu-me mesmo e tocou-me. Só quem já esteve fora imagina a dimensão da palavra saudade. Só quem tem os seus lá fora e não pode estar com eles entende este tipo sentimento. Tenho até evitado pensar nisso, mas este lado da pandemia (a par de muitos outros) também não pode ficar esquecido. Os meus pais não podem regressar a casa. Eu não posso ir ter com eles. As restrições que já existiam onde eles estão agravaram-se ainda mais. E eu só queria um abraço. Seja aqui no meu aeroporto ou no aeroporto do país onde eles vivem. Só quero poder voltar a entrar num avião para correr para os braços deles. Só quero poder ir ao meu aeroporto recebê-los a eles e ao abraço deles. Em 2020 aceitei e acreditei em tempos melhores. Agora está-me a doer. Há-de acontecer. Isto há-de passar. Eles irão voltar a casa, se não voltarem antes eu irei ter com eles. Mas a pandemia dói. Dói a todos os que não podem ter o abraço e o colo dos pais, e dói ainda mais quando o pai e a mãe estão do outro lado do oceano e não é possível estar com eles. Alguém tem que falar nisto. Na saudade, na distância e naqueles que não podem ver nem estar com os seus há mais de um ano. Eu cá continuarei. À espera de dias melhores. À espera, sempre, de voltar a um aeroporto. Seja para os receber ou para ir ter com eles. Que seja rápido, breve e leve.