Entre as nuvens e os sonhos
2021 tem sido, pelo menos até agora, um ano a atirar para o bastante nublado. Começou muitíssimo bem, mas logo desde o início que se tem revelado muito confuso. Logo em janeiro o ano começou por me derrubar certezas. Depois de ter andado, durante anos, convicta e certa de que queria sair da profissão para a qual me preparei e na qual fiz estágio, tive uma experiência que veio colocar tudo em causa. Que me colocou a mim em causa e às minhas certezas. Aquele plano certinho e direitinho de ir para uma empresa já nunca mais vai ser como foi. Com isso vem mil interogações. Vem a inevitabilidade de me perguntar se afinal não estou destinada a ficar na profissão da qual me quis desviar. Vem a necessidade de perceber aquilo que afinal existe de bom no caminho que eu não queria (e há mesmo coisas boas!). Vem muitas outras dúvidas: será que o caminho é afinal ficar? Será que é ficar de forma diferente? Será que é, em vez disso, voltar a tentar um caminho certinho e direitinho mas que seja melhor para mim? Será que é embarcar num desafio enorme, que profissionalmente até poderia ser bom, e mandar-me pela primeira vez na vida para longe de casa? Não sei. Não sei e tenho andado à procura dessas respostas. Espero que o tempo, os conselhos que tenho recebido e a calma me vão ajudando o traçar o caminho. O que for melhor para mim. Depois há o amor, sempre o amor, que tem sido a última das minhas preocupações. Achava eu que estava tudo na paz do senhor comigo, e afinal, de repente, veio mais uma série de nuvens e dúvidas para baralhar tudo. O que me espera, o que é melhor para mim, o que pode acontecer... e mais uma vez a resposta é não sei. Não sei mesmo. Mais uma vez, espero que o tempo, os conselhos e a calma me ajudem a traçar o caminho.
No meio de todas estas nuvens e todo este nevoeiro de incertezas, a verdade é que tem de haver espaço para os sonhos. Espaço para sonhar. Então eu tenho que me permitir sonhar. Sonhar e ver. Sonhar, ver e viver. O regresso dos meus pais. O aeroporto à chegada deles. A minha redescoberta como filha. A nossa redescoberta como família do dia-a-dia de todos os dias. A minha (re)descoberta como irmã. A profissão e o trabalho. Acordar com vontade de trabalhar. Gostar do que faço. Não saber bem os dias nem as horas porque trabalhar é bonito, é importante e faz-me feliz. Trabalhar é bom e então o domingo não dói, a segunda não dói e a sexta não é (só) um alívio. O amor. Ter um colo com a certeza de que ele está lá sempre para mim, incondicionalmente. Partilhar a vida, a alma, o coração, o amor, os sonhos, os medos, as alegrias, as incertezas, o segredos, tudo. Partilhar a família, os amigos, o passado, o presente, o futuro. Saber que a vida e o destino nos escolheram aquela pessoa. Entregar-me e descobrir-me como namorada. O futuro. Caminhar pela vida, planear e sonhar o futuro. Crescer na profissão. Ser pedida em casamento. Ser noiva. Casar. Ter a minha casa com piscina. Ter uma casa de férias para onde fugir sempre que me apetecer. Estar sempre, sempre, perto dos meus. Planear ser mãe. Lutar pelo sonho com tranquilidade. Ser mãe. Ver os meus a acompanharem o crescimento do(s) meu(s) filho(s). Ser feliz. Sempre. Aconteça o que acontecer.
Sonhar. E então eu estou a passear a pé na marginal da praia. É de manhã, é fim-de-semana, estou descontraída, estou feliz. Com o meu amor, a sorrir e a partilhar uma qualquer piada. Com a minha filha (ou filho, mas neste caso é filha) que vai à frente num triciclo. E então sei, naquele exato momento, que nem é justo pedir mais à vida. Está ali tudo. Esta imagem é real nos sonhos. Se um dia for real na vida, então eu cumpri-me da forma que quis e a minha vida cumpriu-se como eu gostaria.