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Manga Lima

Manga Lima

29
Jun21

Sobre (não) valer a pena

Manga Meia-Loira

Hoje estive a pouco, muito pouco, de simplesmente não comparecer numa entrevista de seleção. A vaga é um bocado longe de casa, não estou certa de querer muito aquela vaga, não sei se será bom para mim ou se faço melhor ficar na profissão em que estou agora, a entevista que fiz anteriormente para o mesmo local (mas para outra vaga) não correu bem, na última que fiz estava super ansiosa e não sei como correu... enfim. Dúvidas e descrenças mais dúvidas e descrenças. Devo mesmo tentar ficar com uma vaga neste concurso? Devo antes deixar-me ficar como estou e apostar nesta profissão? Antes da entrevista estive a mílimetros de não entrar no zoom e não aparecer simplesmente. Achei convictamente que não valeria a pena. Entretanto, ou não tivesse sido eu uma apaixonada pela disciplina de Português, e não fosse eu uma amante de livros em geral e de livros de autores portugueses em particular, lembrei-me daquela passagem de Fernando Pessoa na "Mensagem" em que é escrito "Tudo vale a pena se a alma não é pequena". E aí tive de fazer a entrevista. Valerá sempre a pena, ainda que o resultado seja não entrar. Valerá sempre a pena desde que a alma não seja pequena... e a minha é tudo menos pequena, disso estou certa. Aliás, tudo naquele poema da Mensagem faz sentido. Sobretudo a segunda parte. Faz sentido e ainda mais porque a minha vida tem sido muito feita disto. 

Ainda sobre hoje: não sei nem faço ideia do resultado da entrevista, só sei que é bastante difícil conseguir uma vaga, mas estou certa - mais que certa - de que valeu mesmo a pena. Valeu tanto a pena que uma das pessoas relembrou-me de algo que eu vou esquecendo... dos prémios de excelência que recebi. Hoje isso fez-me sorrir , fez-me bem e fez-me voltar àquela parte mim que é feita de luta e que não para enquanto não corta a meta. Hoje isso foi das melhores coisas do meu dia. Valeu a pena, valeu muito a pena. Já valeu. 

(Mas às vezes passar além do Bojador também cansa, que isto não são só flores. Cansa e não é pouco. Passar o perigo e o abismo para ver o céu custa e cansa. Se no fim vale a pena? Sim, sempre acreditei e quero muito acreditar que sim, claro.)

"Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu."

Posto isto, se por um acaso do destino eu até vier a ficar com uma vaga resultante desta entrevista de hoje, terei que agradecer a Fernando Pessoa. Não a mim, não aos meus, não ao meu percurso, não à minha universidade, não aos meus amigos, mas a Fernando Pessoa. Hoje, sentada naquela beira da cama e com o cérebro e o coração a darem-me um não, foi aquela frase que um dia, há muitos anos, Fernando Pessoa encaixou num poema que me fez comparecer. Foi aquela frase que me impediu de ser eu a deitar a toalha ao chão. Foi aquela frase que me obrigou a, pelo menos, tentar e deixar que seja a vida a decidir. Foi aquela frase que levou a que, uns minutos depois, eu sorrisse quando o senhor se referiu à minha excelência académica. Já valeu a pena. Aconteça o que acontecer.

 

28
Jun21

A palavra regressar

Manga Meia-Loira

Captura de ecrã 2021-06-28, às 01.08.11.png

 

Diz-nos o dicionário que regressar significa "voltar; tornar ao ponto de partida; fazer voltar". A palavra pode ser entendida em muitos sentidos, mas há um em particular que me toca muito: o regresso definitivo a Portugal de quem foi viver para fora... Ou não fosse eu a pessoa que tem os pais a viver do outro lado do oceano. Nunca quis viver noutro país e nunca quis que os meus tivessem ido, mas a vida aconteceu e eles foram, sempre contra a minha vontade. Passaram-se oito anos e meio, quase nove. Entretanto eles planearam voltar, desenharam um projeto para tal, começaram-no, e pelo meio ficou tudo em suspenso, em grande parte por causa da pandemia. Não há data nem previsões, há apenas uma vontade de ferro da minha parte e também da parte deles. Preciso disso e preciso de visualizar o meu aeroporto no momento do regresso deles. Regresso definitivo, porque idas e voltas só servem para nos esfrangalhar ainda mais o coração, a alma e a vida. Neste momento eu faço-lhes pressão, mas a incerteza da pandemia e o facto de isso afetar o projeto deles está a atrasar os planos.... e há dias em que eu fico mesmo farta. Ontem quis muito ver o filme "A Gaiola Dourada": já o vi algumas vezes, uma das vezes com eles, e está ali quase tudo. Embora noutro país e noutro contexto, muito do que está lá retrata o que significa viver fora e retrata aquilo que tem sido a vida dos meus pais. Aliás, revi muito os meus pais nas hesitações todas que o José e a Maria do filme vão sentindo na hora de mudar tudo. Revi também muito a vida dos meus pais no drama que é querer trazer a filha adolescente para um país que acabou por não ser o dela. Ontem precisei de me sentir mais próxima do dia em que eles voltarem e revi o filme. Parei, e parou tudo em mim e à minha volta, no momento em que o José e a Maria recebem a carta que lhes diz que precisavam de voltar para Portugal para herdar a casa e o negócio de vinho da família. Parei e parou tudo em mim nesta cena e neste momento, quando eles acabam de ouvir o que diz a carta e realizam que vão mesmo voltar. Quando a Maria processa o que está a acontecer e diz "Nós vamos regressar". Regressar. A palavra mágica e a palavra de todas as palavras. O sonho, diria. O regresso dos meus é um sonho para mim. E é também um sonho do meu pai regressar aqui, da minha mãe nem tanto. Não sei se pode acontecer daqui a um mês ou daqui a um ano. Só sei que queria muito que acontecesse o mais depressa possível. Só sei que preciso mesmo e preciso muito que isso aconteça. Aliás, a minha perspetiva é a de quem está aqui mas tem os seus fora. Mesmo assim, arrisco dizer que voltar é um sonho de todos os que vivem fora (ou quase todos, vá). Que ninguém diga o contrário quando temos tudo aqui: o melhor clima, a melhor comida, a melhor bebida, as melhores paisagens, as melhores gentes.. e podia continuar por aqui fora. Só quem está longe sabe a dor que é e o quanto custa, porque há sempre um preço a pagar e geralmente é alto, muito alto. Perde-se muito: as faltas aos aniversários, as ausências nos natais, o não se estar na páscoa, não se poder ir aos jantares ou aos convívios, não se estar nas comemorações e não se estar nos funerais, não poder estar com (e para) os nossos. Podia continuar e falar ainda daquilo que se calhar ainda é mais duro: não se estar no dia-a-dia e não ser parte do dia-a-dia dos nossos. Perde-se muito, mesmo muito. Paga-se um preço muito alto, ainda que pareça que se vai ganhar mais dinheiro... até porque, lá está, tudo o que se perde tem um preço. Não sei quando é que vai acontecer o regresso dos meus, mas espero que seja o mais brevemente possível e que seja aquilo que eu espero e quero. Foi o maior e mais difícil desafio de toda a minha vida. Nunca quis nem nunca soube ser filha à distância. Aliás, sou muito má de distância. Sempre fui. Com os anos (e com muita terapia e muito drama e lágrimas em cima) fui vivendo de forma realtivamente tranquila com isto, mas que ninguém me lixe: o meu primeiro e último pensamento é sempre que eles deveriam estar aqui. Sempre que algo acontece, seja bom ou mau, o que me ocorre antes de tudo é que eles deveriam estar aqui. Nos últimos anos passei por muito - ou por quase tudo - sem eles. Vivi muito, demasiado, e naquilo que foi duro, a ausência deles foi ampliada e mil vezes mais dolorosa. Não sei quando, não sei como, mas sei: sei que quero muito viver esse regresso e que ele há-de acontecer. 

24
Jun21

O Euro continua. O sonho também.

Manga Meia-Loira

Durante vários anos, talvez influência do nosso desaire na final do Euro 2004, a verdade é que nunca tive grandes sonhos ou esperanças quanto à seleção. Ficávamos sempre (ou quase sempre) pelo caminho e pouca História se fazia. Mesmo no último Euro, pouco consegui acreditar no sonho. Na final entusiasmei-me a sério e fiquei coladona e a acreditar... até que Ronaldo sai de maca e eu sento-me no sofá a beber água com açucar e a dar por terminada a caminhada. O que se seguiu todos sabemos e muito bem: Éder marca, o jogo termina e somos campeões. E então eu saltei para a música e deixei todo um café a gritar ao som de "We are the champions". Foi lindo, foi intenso, foi vivido, foi mágico, foi especial, foi tudo. Foi um país inteiro a viver o sonho maior do futebol: sim, um país inteiro a viver aquele que era o sonho maior...porque nunca tinha acontecido e porque éramos um por todos e todos por um. A magia está aí: não é só um clube nem é só uma competição, é um país inteiro unido na esperança e no sonho, um país inteiro a vibrar em conjunto. Não há magia que supere isso, por muito bom que possa ser ver o nosso clube a ganhar uma champions ou um campeonato.

Este ano não sei o que nos espera, mas sei que depois daquilo que aconteceu em 2016 tudo é possível. Acreditar é possível. Já levámos três jogos e eu ando coladona e a torcer com tudo o que tenho (e a sofrer desalmadamente). O Euro continua. O sonho também. Domingo há mais e a partir de agora é o tudo ou nada. Se formos campeões, a loucura nacional vai ser tão grande ou maior do que na última vez. E eu, já noutro tempo e espeaço, vou voltar a ouvir "We are the champions". Caramba...às vezes até tenho medo de sonhar assim... mas se já o fizemos antes, porque não outra vez? Vamos e vamos com tudo. É um país inteiro na torcida e a querer muito sonhar.

23
Jun21

Vai ficar tudo bem

Manga Meia-Loira

Vai ficar tudo bem. Algum dia. Em breve.

Hoje? Hoje foi assim:

Um café com amigos depois de jantar. 

Uma amiga triste com o dia e com o trabalho.

Sorrisos.

Futebol.

Planos de futuro próximo que não me agradam no coração.

Fome. 

Um menu Burger King à meia noite.

A música "Trem bala" no final do menu porque nunca é demais é lembrar a essência da vida.

E então, naquele momento tardio e sentada a acabar o meu hambúrguer, enquanto Ana Vilela cantava na rádio que "Não é sobre chegar no topo do mundo, saber que venceu / É sobre escalar e sentir que o caminho te fortaleceu", eu acreditei. Tudo bateu certo e eu acreditei, por entre a comida, a música e a noite avançada, que vai ficar tudo bem. Algum dia. Em breve.

Amanhã vendemos o café e fica tudo bem. Amanhã eles voltam e fica tudo bem. Amanhã eles terminam a obra, inauguram e fica tudo bem. Amanhã eu cresço no trabalho e fica tudo bem. Amanhã eu consigo uma vaga num curso e fica tudo bem. Amanhã eu tropeço em alguém especial, vivo o amor e fica tudo bem. Amanhã eu tenho o coração em paz, já não há cicatrizes e fica tudo bem. Amanhã eu alcanço uma meta profissional e fica tudo bem. Amanhã eu sou pedida em casamento, caso e fica tudo bem. Amanhã eu engravido, sou mãe e fica tudo bem. Amanhã eu sou filha, mulher, mãe, profissinal, amiga e fica tudo bem. 

Vai ficar tudo bem algum dia. Se possível em breve.

Até lá vamos viver, sorrir e sonhar. O amanhã é já aqui.

Vai ficar tudo bem algum dia. Se possível em breve.

21
Jun21

Hoje é verão (será?)

Manga Meia-Loira

Hoje é dia de solstício. O dia em que começa o verão. A norte está a chover e o céu está cinzento. Noutros tempos, esta altura seria de início de férias. Este ano, pelo menos para mim, não é altura de férias nem de trabalho. É uma mistura estranha, tal como este ano tem sido. Gostava que este verão fosse de mudanças. De decisões. De concretizações. De futuro. De esperança. De sonhos até, se não for pedir demais. Gostava de viajar e de poder visitar os meus. Gostava de assinar a escritura de venda do café. Gostava de ajudar os meus a planear o regresso definitivo. Gostava de preparar a casa e o carro para os receber. Gostava de mudar de casa. Gostava de ter uma oportunidade ou surpresa profissional que me fizesse feliz. Gostava de planear com os meus a finalização da obra do restaurante, e de escolher cores e decorações e materiais. Gostava de aproveitar o tempo com os amigos, de celebrar os aniversários e de combinar almoços e jantares e festas. Gostava de aproveitar piscinas e praias. Gostava de conhecer alguém especial. Gostava de sorrir. Gostava de beijar. Gostava de abraçar. Gostava de sonhar. Gostava de ter o coração em paz e a alma leve. Gostava de ver a vida a tomar os caminhos de mudança que eu desejo. Gostava (muito) de chegar ao próximo solstício e perceber que o mundo girou e a vida mudou. Muito. Gostava muito de chegar ao próximo solstício e de estar noutro tempo e espaço da minha vida. Na família, no trabalho e no amor. Vamos a isso, verão. Mesmo que chova e o céu esteja cinzento. 

17
Jun21

Um restaurante e as memórias

Manga Meia-Loira

Desde criança que há um restaurante que tem um lugar especial no meu coração. Era o sítio onde os meus pais mais iam comigo, fica perto da praia e tem umas tostas e uns croquetes que eu adoro. Os meus pais dizem que foi o primeiro restaurante a que eu fui, com poucas semanas de vida, e sempre gostei muito dele. Não é nada de especial: é antigo, simples, despretensioso, barato e tem os mesmos funcionários e donos há muitos anos. Teria tudo para ser só mais sítio e, no entanto, é um sítio especial onde eu só tenho memórias bonitas e só vejo momentos felizes. Hoje está a chover, estou longe da praia e do restaurante, e os meus pais não estão cá. E eu vou fazendo tostas em casa a pensar naquele lugar e naquele espaço. E pelo meio vou desejando sol, dias mais bonitos e mais felizes, os meus pais comigo, um amor e aquele restaurante. E que ninguém me torça o nariz só porque não é um local com cozinha de autor, não tem decoração xpto e não tem um menu de alta cozinha. Não tem isso mas tem tudo: tem praia perto, memórias doces de infância, momentos felizes guardados, família, amor e as tostas de sempre mais os croquetes que adoro. É mais do que suficiente. É felicidade na comida e na memória e isso (muitas vezes) é tudo.

15
Jun21

No Portugal-Hungria como na vida

Manga Meia-Loira

Vi o jogo de hoje desde o minuto 10. Cheguei a casa e colei. Sofri os primeiros 80 minutos porque estivemos muito bem (que estivemos), mas no final o que conta é o número de golos... e nesse aspeto a outra equipa até conseguiu que a bola entrasse na nossa baliza primeiro. Acontece que depois, num golpe de genialidade e sorte, marcamos o primeiro golo e depois veio o penalti e a seguir o terceiro golo. Foram 80 minutos em que trabalhamos muito, bem e muito bem mas não chegávamos ao golo. Acontece que eu na vida sinto-me assim. Parece que tenho feito tudo certo em vários aspetos mas, lá está, está-me a faltar chegar ao golo. Tenho trabalhado muito, bem e muito bem mas depois é preciso resultados. Hoje conseguimos e, depois de muito esforço e mérito, chegamos lá. Espero que na vida seja igual. Até pode fazer falta sofrer durante o início e o meio, mas se no fim houver um resultado que compense está tudo certo. Que seja assim. Na vida como no jogo. Na vida como no futebol.

14
Jun21

Aeroportos, idas e vindas

Manga Meia-Loira

Tenho os meus a viver do outro lado do oceano há oito anos e meio. Com a pandemia já não os vejo há uma imensidão de tempo, tanto que nem quero estar a contabilizar. Hoje vi um post de uma blogger sobre uma amiga que vai viver para o outro lado do mundo e só me apetecia largar as lágrimas quando ela fala dos abraços, das visitas, daquilo que é estar perto e dessa proximidade. É verdade que há as videochamadas e as mensagens, é verdade que há 20 ou 30 anos era ainda mais difícil, é verdade tudo isso. Mas que ninguém me lixe: nada se compara a estar com (e perto) dos nossos. Nada. E eu, que nunca quis que os meus fossem, que nunca quis nem quero viver longe de casa, que tenho pressionado os meus a voltarem definitivamente, fiquei aqui com o coração um bocadinho mais apertadinho. Os meus hão-de voltar definitivamente e a sua jornada lá fora há-de terminar em breve (assim quero e espero). E eu só quero projetar e imaginar o regresso deles e o dia em que eles vão entrar no meu aeroporto cheios de malas.... cheios de malas para ficar. Sem data de regresso. De volta a casa. Tanto que só me apetece pegar no carro e ir agora mesmo ao aeroporto. Não vai ser agora nem hoje. Não sei quando será. Mas há-de ser. Em breve. E eu vou saltar, vou gritar, vou sorrir, vou chorar e vou-me agarrar a eles como se não houvesse amanhã. 

13
Jun21

Quatro anos, um mês (e muitos sonhos) depois

Manga Meia-Loira

Ai, a vida anda a fazer-me rever certos momentos. Ontem estive no sítio onde soube as notas dos meus exames do 11 ano. Hoje à noite fiz a estrada que vai do restaurante onde celebrei a minha festa de finalistas até casa. Passaram-se quatro anos, um mês e muitos (muitos mesmo) sonhos até hoje. Não consigo não me emocionar. Naquele dia, naquela época, eu estava a emanar felicidade, esperança e sonhos por todos os lados. Nada mas nada me conseguia fazer duvidar nem abalava. Eu era feita de certezas. Tinha a certeza que os meus pais iam voltar logo. Tinha a certeza que ia viver aquele amor e ser feliz com ele. Tinha a certeza que ia para o mestrado e ia ser tudo bom. Tinha a certeza que ia ser muito feliz no trabalho e ia ter todo o sucesso que quisesse. Naquele dia, naquela fase, naquele tempo, eu estava no topo do mundo e só podia correr bem. Nestes quatro anos tudo aconteceu e (quase) nada daquilo que eu queria aconteceu. Passaram-se quatro anos, um mês e muitos sonhos. Os meus pais (ainda) não voltaram. Aquele amor nunca foi amor e foi (ainda é ?) a maior dor de coração da minha vida. Fiz o mestrado mas o primeiro ano foi horrível. Fiz o estágio. Estou um bocado (para não dizer muito) perdida na profissão e não tenho sido propriamente feliz aí. Não. Os meus pais não voltaram, o amor não me aconteceu, a felicidade é o sucesso na profissão também não me aconteceram. Gostava que este "não aconteceram" fosse mesmo um "ainda não aconteceram". Mas o que mais me deixa triste e nostálgica em tudo isto é saber que dificilmente algum dia vou conseguir acreditar na vida, nos sonhos e no amor como naquele dia. Como naquela época. Hoje fiz o mesmo caminho e senti uma mistura de sentimentos que nem sei explicar bem. Quatro anos depois onde ficaram os sonhos? Não sei bem. Sei que continuam cá. Continuam mesmo. Quero muito que os meus pais voltem, que quero. Quero muito viver o amor, que quero. Quero muito ser feliz e bem sucedida no trabalho, que quero. Mas naquela altura eu sabia que isso ia acontecer. Hoje, por mais que eu seja racional e saiba que até pode acontecer, por mais que eu queira acreditar, por mais que me digam que o amor há-de chegar, eu já não consigo acreditar propriamente. Hoje fiz o mesmo caminho e acho que, por momentos, quis voltar àquela noite de 2017, àquela época. Quis muito, também, estar no futuro e poder (re)fazer aquela estrada sabendo que os meus pais voltaram, que o amor afinal aconteceu e que é possível ter felicidade e sucesso no trabalho. Fiquei num limbo entre o passado que foi bom e o futuro que quero muito que seja melhor que o presente. Aguardemos.Aguardemos e preservemos os sonhos. 

11
Jun21

No mesmo sítio

Manga Meia-Loira

Estou, hoje, no sítio onde estava quando saíram as minhas notas dos exames nacionais do 11 ano. Foi há quase 10 anos, faz agora em julho. Na altura estava de férias com os meus pais no nosso sítio de sempre. Hoje vim sozinha apanhar ar e sol. Passaram-se 10 anos e muita coisa aconteceu. Daquele dia fico com a alegria enorme e a surpresa imensa que foi quando vi, naquela mensagem, as notas que tinha tido. Nestes 10 anos aconteceu de tudo. Acabei o secundário. Os meus pais foram viver para outro país. Fui com eles mas voltei rapidamente. Cresci e sofri como nunca na vida tinha imaginado ser possível. Fiz amigos espetaculares. Fiz a licenciatura. Fiz o mestrado. Fiz o estágio da Ordem. Quis deixar a profissão para a qual fiz estágio. Fui trabalhar para a empresa onde queria e fui profundamente infeliz. Saí. Voltei à profissão. Ponderei o CEJ. Pondero fazer vida nesta profissão. Pondero concursos públicos. Apaixonei-me desalmadamente. Sofri ainda mais. Perdi o coração, a alma e muito mais no meio de um desamor que afinal ainda deixou marcas. Consegui livrar-me do negócio de família mas ainda não o vendemos. Os meus pais ainda não voltaram. É isto. 10 anos depois é isto. Houve de tudo. O que quero dos próximos tempos? Gostava muito de voltar aqui daqui a um ano (e que não seja preciso esperar 10) e poder voltar a escrever que muito aconteceu. Gostava muito de poder voltar e escrever que os meus pais voltaram, que encontrei o meu caminho na profissão, que me apaixonei e o amor acontece, que vendemos o negócio de família, que eles criaram o negócio deles.... era isso. Gostava muito que os próximos tempos se escrevessem dessa forma. Muito. Daquele dia de há 10 anos fica a vitória enorme e a recompensa que foram aquelas notas. Fica a doçura das férias em família. De hoje fica a vontade de que o futuro se escreva de outra forma nos próximos tempos. 

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