Ai, 2021 está a ser um ano estranho. Não posso dizer mau, mas está a ser bastante confuso e estranho. Comecei o ano a concretizar aquele que era o meu plano a nível profissional e fiquei feliz. Estava na empresa onde queria estar. O estado de graça não durou sequer duas semanas e fui profundamente infeliz. Perdi o sono, a fome, a felicidade, a alegria, perdi anos de vida e quase que me perdia de mim. Saí ao fim de quase três meses por vontade minha e saí arrasada. Voltei ao meu escritório, onde fiz estágio, num recomeço lento, natural, calmo e feliz. Pelo meio continuei com os concursos públicos, mas já não estava a contar com isso. Estava pronta para continuar e ficar, a solo e relativamente feliz. Tanto que me tinha inscrito numa pós-graduação sabendo que ia continuar neste registo. Há menos de uma semana recebi uma mensagem que me assustou e um telefonema completamente inesperado. Tinha um lugar à minha espera no setor público. Disse que sim porque também não tive tempo para refletir e fiquei aqui, baralhada mais uma vez com estas voltas todas da vida e deste ano. Primeiro fiquei feliz e assustada, agora está-me a custar este sentimento de "despedida". Está-me a custar saber que vou outra vez embora. Está-me a custar ainda mais, acima de tudo, sentir que um dia posso olhar atrás e arrepender-me ou pensar que deveria ter ficado aqui. Ai, está a ser difícil. Estou aqui com um nó porque não queria nada ficar com a sensação de que não tentei ficar aqui, não tentei cosntruir aqui carreira, não tentei ser eu a solo. 

Não sei o que me espera a partir de sexta-feira, nem sei o que aí vem. Acho que vou gostar do trabalho em si e acho que vai ser bom. Tenho a certeza que, com o tempo, me irei provavelmente cansar de tantas viagens diárias e longas. Não sei muito mais. Estou aqui a torcer para que seja tudo calmo e pacífico, e para que eu me vá sentindo tranquila, mas se me perguntarem não sei. Será o que tiver que ser. 

Mais uma vez aqui estou. Mais uma vez a atravessar sozinha o oceano em nome da família e do amor da família. Mais uma vez à espera, sempre à espera do regresso final deles. Mais uma vez sem datas, sem planos, sem (quase) nada. 

Enquanto houver estrada para andar a gente vai continuar

Enquanto houver ventos e mar

Quando há cinco anos escrevi esta frase nem eu imaginava que tanto tempo depois ainda iria precisar dela.

Ainda à espera do regresso final. Sempre.

Hoje aconteceu-me e já não me lembrava, ou talvez nunca me tivesse acontecido assim. Hoje, aquele "You wish" que ouvi atravessou-me como uma espada o coração, a alma e a vida. Naquelas duas palavras estava uma espécie de granada destruidora de sonhos. Naquelas duas palavras, em tom de desafio, estavam muitas outras mensagens. Estava a destruição de muitos sonhos, crenças e objetivos. Estava a dor toda daquela menina que viu o chão fugir-lhe dos pés aos 18 anos e ficou sozinha. Estava a força da coragem que ela teve para se reerguer e reconstruir. Estavam todos os momentos difíceis e de dor que ela teve de enfrentar sozinha. Estavam todas as promessas e todos os planos. Estava toda a esperança, toda a fé e toda a crença. Aquele "You wish", hoje, voltou a lembrar-me de todo o longo e duro caminho que já percorri sozinha. Pior, rasgou-me sem dó nem piedade toda a fé, esperança e sonhos. Fez-me sentir de forma muito crua e dura que não posso nada. Sou eu contra o mundo, sou eu contra a realidade, sou eu contra eles. Continuo a ser. Há 90% de probabilidade de se realizar o desejo dela porque tudo lhe está favorável. Há muito pouca probabilidade de se realizar o meu verdadeiro desejo. É assim que a vida tem acontecido. Não sei o que vai acontecer, nem como nem quando. Só desejo profundamente e espero verdadeiramente que a vida a obrigue a percorrer sozinha e em ferida alguns dos caminhos que eu tive de percorrer. Não lhe desejando mal, só espero que ela seja obrigada pela vida a engolir o que disse hoje e seja obrigada a viver aquilo que me fez sentir. Que a vida a faça crescer, sofrer e aprender e lhe ensine pela dureza aquilo que eu também fui obrigada a aprender. Hoje é isso. Ela não poderia ter dito aquilo assim. Ainda assim, acho mesmo que aquelas duas palavras me deram o impulso exato de que eu precisava para ter a conversa que faltava. Hoje senti- me rasgada e enganada. Hoje só quero e espero que a vida me dê razão e lhe ensine à força da chapada que não se brinca com os sonhos dos outros nem com a dor dos outros.