Um mês (e muitos quilómetros) depois
Há um mês abracei um novo desafio profissional. Abracei salvo seja.
Foi tudo muito rápido e, posso dizer, inesperado. O concurso já tinha decorrido há vários meses, o procedimento de recrutamento também, entretanto muito aconteceu e eu já me tinha praticamente esquecido daquilo. Já me tinha quase convencido que não viria nada dali. Estava noutra vida. Até que um dia, estava eu sossegada a trabalhar no escritório ao fim da tarde, me tentaram ligar de um número que eu não conheci e eu não atendi. Logo a seguir uma mensagem a identificar a instituição e a pedir para devolver a chamada logo que possível. Fiquei com o coração a mil e sem saber o que fazer ou o que viria dali. Esperei o tempo necessário para me acalmar, defini que pediria um prazo razoável para dar uma resposta e liguei de volta. De repente, e depois de uma breve introdução, dizem-me que "gostaríamos que viesse assinar contrato amanhã". Pedi um prazo para refletir e explicam-me que o contrato, se eu aceitasse, teria de ser assinado no dia seguinte ou dois dias depois. Caiu-me tudo.
Eu sabia, que no fundo bem sabia, que estava a precisar de um novo desafio e que isso me ia fazer bem a vários níveis. Mas também tinha apanhado uma deceção com outro concurso uns dias antes, e já me tinha convencido há algum tempo que não seria por ali o caminho (ou que tal não me estaria destinado e não aconteceria). Estava relativamente tranquila e consciente de que o meu caminho seria onde estava e seria feliz assim. Haveria de ser, com certeza, e tinha muitas coisas boas onde estava. Depois, a verdade é que este concurso e esta vaga implicariam trabalhar longe de casa e fazer longas viagens todos os dias... e isso fazia-me logo dar um passo atrás.
Pesando tudo, conclui rapidamente que a qualquer altura posso retomar o caminho que estava a traçar e voltar a ele, e conclui também que aquela oportunidade era bastante difícil de conseguir e eu poderia não a voltar a ter nas mãos. Então tinha que responder com um sim e ir, e foi o que fiz.
No dia seguinte assinei contrato e tive praticamente uma semana para preparar tudo até começar.
Foi difícil, bastante difícil, despedir-me de tudo e deixar tudo o que tinha em mãos. Custou-me bastante e questionei-me muito. Fui sem grandes expectativas, com medo e bastante reticente. Até porque a última experiência que tive fora do sítio onde estava foi muito má, custosa e deixou-me marcas dolorosas.
Cheguei, passou-se um mês e o resultado é positivo, só pode ser positivo.
Até ver gosto do sítio, das pessoas, do trabalho e de tudo em geral. Começo a sentir-me parte do grupo, do trabalho e da instituição. Começo a querer ficar. São viagens longas e é bastante tempo perdido em viagens, mas até ver isso é a maior queixa que tenho e, enquanto for essa a grande reclamação, acho que está tudo bem.
Queria muito, mesmo muito, que tudo corresse bem. Podia e posso nem ficar muito tempo, pode nem correr tudo bem, mas depois do trauma por que passei na outra experiência precisava muito - por vários motivos - que agora corresse tudo normalmente. Confirma-se até agora. Não estou em pânico, não vivo angustiada com o trabalho, não me sinto incapaz e incompetente, não estou exausta, não conto os dias até ser razoável decidir sair, não fico doente ao domingo. Aquilo que aconteceu não está a acontecer outra vez e isso era tudo o que eu mais queria no início.
Não sei o que me espera daqui para a frente. Só quero que tudo decorra normalmente e que a experiência vá sendo positiva no geral. Se for assim, está tudo bem. Agora só tenho de estar grata, muito grata, por tudo: pela oportunidade (que sim, mereci e lutei por ela, mas poderia não ter acontecido) e por poder fazer um balanço positivo.
Venham mais meses e mais quilómetros, bastantes mais meses e quilómetros. Enquanto assim for é porque tudo está bem.