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Manga Lima

Manga Lima

27
Mai24

Um carro e as memórias

Manga Meia-Loira

Hoje fui ao mecânico buscar o carro dos meus pais, que na verdade é mais meu do que deles no sentido em que fui eu que o usei e sou eu que o uso, e lembrei-me de quantas memórias um carro pode guardar. Eles compraram-no novo quando a minha irmã era pequenina, e três anos depois foram viver para fora. Eu fui com eles, voltei pouco depois, a seguir tirei a carta e aquele carro não foi o meu primeiro carro. O primeiro carro com que andei foi um carro mais antigo que era dos meus avós, e eu tratei-o tão mal que até tenho pena. Não houve ponta desse carro que eu não tivesse raspado, mas penso que faz parte de aprender a conduzir (É certo que eu conduzia muito mal, mas além de ter acabado de tirar a carta devo dizer também que essa fase foi, por motivos familiares, umas das mais difícies da minha vida). Dois anos depois de ter começado a conduzir acabei por ficar com o carro dos meus pais e tornou-se o meu carro de todos os dias. Foram anos, muitos anos, quase sete, em que aquele carro para mim foi um bocadinho casa. Houve ali dentro muitos risos, muitas lágrimas, muitas conversas, muitas viagens com amigos, muitas viagens para saídas à noite, muitas viagens para a praia, muitas viagens em nome da associação de estudantes de que fiz parte na Universidade, muito tudo. Muita vida, muita histórias, sete anos meus e muitos milhares de quilómetros ali dentro.Foi naquele carro que muitas vezes sorri com as minhas conquistas académicas, foi aquele carro que esteve lá sempre que era preciso para as atividades da minha associação de estudantes, foi aquele carro o Uber de serviço em muitas saídas de amigas, foi o carro onde tinha sempre canetas guardadas, foi o carro de muitas saídas às noites com os meus amigos de sempre, foi o carro que fez muitas vezes as curvas até ao Biba e as viagens de volta. Foi naquele carro que chorei muitas vezes de cansaço e de saudades, foi naquele carro que chorei muitas vezes quando percebi que estava apaixonada e que aquele amor não era possível por várias razões, foi naquele carro que respirei fundo e pedi forças em muitas das vezes em que sabia que tinha de estar com ele, foi naquele carro que tivemos a conversa que foi o princípio do fim, foi naquele carro que chorei praticamente todas as sextas-feiras em que tive aulas de mestrado, foi naquele carro que marquei consultas, foi naquele carro que chorei com a minha família numa tarde de verão a passar em frente à praia, foi naquele carro que me maquilhei centenas de vezes, foi aquele carro que me acompanhou no estágio, foi naquele carro que muitas vezes peguei quando não aguentava estar comigo nem aguentava aquilo que sentia e precisava urgentemente de sair para dar uma volta e apanhar ar, foi naquele carro que depois fiz milhares de quilómetros de autoestrada quando fui trabalhar para mais longe, foi naquele carro que fiz viagens em família para Espanha nos últimos anos. Aquele carro foi muito tudo. Há dois anos teve um problema no sistema de travagem, a peça não tinha previsão de chegada e eu, assustada, acabei por comprar um novo para mim. Este já podia ter sido "despachado", trocado, vendido, o que lhe quisermos chamar. No entanto acabou por não acontecer e eu tenho lá dentro muitos momentos específicos de que me lembro. Em sete anos acontece muita coisa, muita vida, muito de bom e muito de mau. E aquele carro, passem os anos que passarem, vai estar sempre lá quando eu me lembrar de tudo isto. E pronto, nos últimos dois anos vou andando com ele e com o meu, embora mais com o meu, de forma alternada, e hoje quando o tive de volta lembrei-me de quantas memórias minhas estão lá dentro. 

13
Mai24

Fátima, 13 de maio

Manga Meia-Loira

Fátima é luz, paz, esperança, colo, amor, mãe. É tudo isto e muito mais. É oração, reflexão, pedido, agradecimento. É procurar respostas no caminho. Nunca o fiz, mas ir a pé a Fátima deve ser algo avassalador e soberbo. Um dia quero fazer esse caminho. Acredito verdadeiramente que quem tem fé é mais feliz e mais rico em vários sentidos. Ter fé é, acima de tudo, ter esperança. Dar um sentido à vida e ao que de bom e menos bom ela nos traz. Lembro-me também - lembro-me sempre - daquele meu 13 de maio de 2017. Tão especial, tão cheio de amor, tão cheio de motivos para celebrar e de sonhos, tão cheio de tudo. Aquele meu 13 de maio que, entre o centenário de Fátima, a vinda do Papa a Portugal, a vitória de Portugal no festival da canção e a vitória do Benfica no campeonato, foi também o dia da minha festa de finalistas e a celebração de um caminho longo e bem sucedido, por vezes solitário, mas cheio de amigos, relizações e quase sempre muito feliz. Passaram-se sete anos e, na parte académica e profissional, alcancei aquilo que queria e não deixei nada por fazer. Cumpri-me. Falta o resto, falta o regresso dos meus e faltam-me todos os outros sonhos. Se tivesse de fazer um resumo, diria que na família e no amor estes sete anos não foram fáceis. Mas havemos de lá chegar. Como escrevia Saramago "Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam".

Por enquanto volto a deixar aqui, novamente, as palavras do cardeal Tolentino.

Porque Fátima ensina, sempre, como se ilumina um mundo que está às escuras. E não é de luz e de tudo o que ela traz que todos precisamos?

Fátima.png

 

10
Mai24

Olá, maio

Manga Meia-Loira

Os dias correm e de repente estamos em maio. Fazemos uma manicure, pensamos muito nas férias que só chegam em agosto, de repente queremos enfiar um curso intensivo no meio do trabalho e das viagens diárias, e ora achamos que é boa ideia, ora achamos que é uma loucura, e pensamos muito. Às vezes pensamos demasiado naquilo que a vida tem reservado para nós. Se podíamos viver tudo com mais leveza e tranquilidade? Provavelmente sim, mas não era a mesma coisa. Resta respirar fundo e tentar colocar em prática o carpe diem. 

07
Mai24

Sobre (re)começar

Manga Meia-Loira

Hoje faz-me sentido este poema de Miguel Torga:

"Recomeça...
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade (...)".

Que tenhamos sempre a força de começar e recomeçar quantas vezes for preciso.

Que tenhamos sempre a força necessária para levantar depois de cada queda, para sorrir depois de cada lágrima, para respirar fundo depois de cada sufoco, para esperar o arco-irís depois de uma chuvada, para ver o sol depois da noite escura, para acreditar que haverá sempre um novo dia, um novo sorriso, um momento para respirar fundo, um arco-irís, um sol radiante.

Às vezes, muitas vezes, os caminhos que percorremos não são a direito. São caminhos com curvas, desvios, obstáculos e tudo o mais. Li há uns dias uma frase que, embora dita noutro âmbito, me fez pensar. A frase foi dita num contexto em que as pessoas estavam a fazer um tratamento médico em que não acreditavam. Mas uma das pessoas disse "É um caminho que temos de percorrer". Às vezes é mesmo isto. É um caminho que temos de percorrer até chegarmos àquilo que queremos (ou ao sitío aonde nos esperam). O caminho dessas pessoas não foi fácil, mas por acaso esse tratamento até foi um sucesso. Um sucesso conseguido depois de várias tentativas fracassadas. Lá está, foi um caminho que tiveram de percorrer. Muitas vezes não é fácil. Muitas vezes, quando tentamos muito uma vez, duas vezes, três vezes, dez vezes, vinte vezes e acabamos invariavelmente derrotados, não é fácil continuar. Não é fácil recomeçar. Mas recomeçar é, quase sempre, a única hipótese de alcançar aquilo que queremos. Se podia acontecer de um dia tentarmos pela primeira vez e correr logo tudo bem? Podia. Podia mesmo e poupava-se muita coisa pelo caminho. Mas muitas vezes não é assim que acontece. Normalmente, comigo, não é assim que acontece. Resta ir percorrendo o caminho, porque afinal o caminho faz-se caminhando, e resta pedir sempre às nossas estrelas, a Deus, à vida, ao universo e ao divino a força necessária para começar e recomeçar tantas vezes quantas as que for preciso.

Hoje recomeçamos. Se me vou voltar a sentir-me assustada? Provavelemente. Se vou voltar a sentir-me em algum momento triste, derrotada, angustiada? Muito provavelmente. Se vou ter vontade de fazer uma pausa e num momento ou outro de desistir? Provavelmente. Mas sinto, racionalmente e porque já me disseram, que é uma espécie de caminho que tenho de percorrer. Não sei se será longo ou curto, mais atribulado ou mais calmo, nem sei se acabará como eu quero. Sei que ontem quis percorrê-lo, hoje quero percorrê-lo, e enquanto assim for aqui estaremos. Com mais ou menos apetite. Com o desejo de ter a força necessária para começar e recomeçar sempre que for necessário.

 

 

05
Mai24

Dia da mãe

Manga Meia-Loira

Hoje é dia da mãe. É dia de parabenizar as mães e flores das nossas vidas. É dia da minha mãe, da minha tia que também é mãe, da avó que tive e da avó que não cheguei a conhecer. É dia de todas as mulheres que tem colo e alma de mãe, mesmo não tendo filhos, e elas existem e eu conheço algumas. É dia de todas as mulheres que dão sentido à palavra mãe. É dia de todas as mulheres que já viveram perdas gestacionais. É dia de todas as mulheres que lutaram e lutam meses e anos, e se submetem a tratamentos, para conseguirem ser mães. É dia de todas as mulheres que já perderam filhos. É dia de todos aqueles que são mãe, porque há também pais que são mãe, avós que são mãe, tios que são mãe, amigos que são mãe. É também dia de deixar um abraço a todos aqueles que já perderam a mãe. É dia de todas estas pessoas e de muitas mais.

01
Mai24

Destas mini férias

Manga Meia-Loira

Foi bom, foi muito bom. Pouco, mas muito bom. Começamos a lanchar na praia. Houve almoço de picanha, houve espetáculo do Raminhos, houve bruch com a tia, houve o aniversário da Ticha, houve bruch com a Ju, houve crepe na praia e continuam a ser os melhores crepes do mundo, houve visita à praia da minha infância, houve pão com chouriço, houve consulta com algumas boas notícias, houve almoço em família, houve lanche de churros com nutella no centro daquela que continua a ser a melhor cidade do mundo, houve aniversário do Dudu, houve visita à minha Escola e almoço no grill, houve cinema, houve aniversário do tio e um bom almoço, houve muito de bom. Não houve e-mails, requerimentos, processos, arguidos, tribunal, horários, comboios, nada disso. Isso já existe o ano inteiro, e amanhã já voltamos a isso. Em resumo, houve muita (e boa) comida, muitas vezes em boa companhia, houve voltar a sítios onde somos sempre muito felizes e onde em período de trabalho é dificíl ir, houve descontração, houve paz. Muito daquilo que é suposto existir em férias. Valeu. Em agosto há mais...e melhor.

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