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Manga Lima

Manga Lima

08
Nov20

Um ano e uma pandemia depois

Manga Meia-Loira

Há um ano decidi que era altura de começar a estudar para o exame da Ordem e fui comprar cadernos e porta-lápis e tudo. O exame ia ser em junho. Pelo meio, comecei mesmo a estudar e as coisas foram correndo normalmente até março. No início de março ainda estava tudo preparado para que os relatórios fossem entregues em abril, a entrevista fosse feita em maio e o exame em junho. Na segunda semana de março a realidade começou a mudar muito rapidamente e de forma abrupta, e de repente estavam os tribunais fechados, o país parado e o estado de emergência decretado. Aliás, eu escrevi aqui um texto no início de março em que dizia que tudo terminaria em junho. O que se seguiu foi uma série de incertezas e angústias, a vários níveis. Primeiro a Ordem deu-nos a informação de que poderíamos, se não nos fosse possível terminar os relatórios, prorrogar o estágio e nada seria adiado. Foi o primeiro embate e ninguém esperava essa decisão. Depois, abriram as inscrições para a entrega dos relatórios como se nada fosse para as encerrarem 30 minutos depois. Uns tempos depois, perante a inevitabilidade de adiar tudo, e por ser de todo impossível entregar os relatórios e fazer a entrevista e o exame naquele contexto, a Ordem decidiu adiar tudo. A seguir, tivemos finalmente datas. Há duas semanas, com o exame marcado para a sexta e a segunda do fim-de-semana de Halloween, veio a proibição de circulação e eu voltei a achar que íamos ver tudo cancelado. Ao fim do dia veio a confirmação de que o exame se iria realizar. De realçar que, pelo meio, entreguei os relatórios todos e recebi um despacho para suprir irregularidades que me deixou a chorar desalmadamente e me fez perder o chão. Foi tudo muito lento, foi tudo feito e decidido em cima do joelho, e a pressão foi absurda, agudizada pela forma como a Ordem geriu tudo. Foi duro, muito duro, de uma forma que nem consigo descrever bem. Agora, um ano depois do dia em que decidi que ia começar a estudar para o exame e uma semana depois do exame, depois desta série de acontecimentos, consegui pela primeira vez dormir bastante e de forma descansada. Ontem e hoje consegui, finalmente, dormir sem pensar no exame e sem pensar em mais nada e descansar. Precisava mesmo muito disso. Não sei se correu bem ou não (e correr bem aqui é passar), não sei quando vamos ter resultados, não sei como vou reagir. Tenho de descansar e preparar o futuro, acreditando que tudo irá dar certo. Vai correr tudo bem. De 2020 fica esta frase.

03
Nov20

Vai correr tudo bem

Manga Meia-Loira

Ontem foi o dia do último exame e o dia de esolher o exame que ia ser corrigido. Escolhi o anterior e não o de ontem. Não que o anterior tenha corrido propriamente bem, que não correu, não que o de ontem fosse pior, que provevelmente não era. Escolhi um bocadinho pela intuição e pelos conselhos que recebi. Não sei se vai correr bem, não sei se vou passar, não sei como vai ser. Agora é tempo de descansar. Tempo de dormir, de comer, de não ter horários rígidos de estudo. Tempo de olhar para o sol, de ver séries, de ler, de acompanhar notícias. Tempo de ir preparando o futuro, que é já aqui. Pelo meio, é claro que os exame foram angustiantes, a escolha foi angustiante e acho sempre que falhei muito. Isso é duro, é difícil e é uma incerteza que só acabará daqui a várias semanas, quando saírem as pautas. Mas depois o meu pai diz-me que vai correr tudo bem, os meus amigos dizem-me que vai correr tudo bem, a minha restante família diz-me que vai correr tudo bem, o meu explicador diz-me que vai correr tudo bem... e eu só tenho que acreditar. O meu pai não sabe se vai correr bem, os meus amigos não sabem se vai dar tudo certo, o meu explicador não sabe se vai correr bem... mas dizem-me. E eu tenho de acreditar em mim, no meu esforço e no meu trabalho. Tenho de descansar, recuperar peso, recuparar da vida contada ao segundo e do estudo intenso dos últimos meses. Não sei se vai correr bem e os meus também não sabem. Mas eles dizem-me e eu tenho de acreditar. Vai correr tudo bem. Vai dar tudo certo. 

31
Out20

Foi ontem

Manga Meia-Loira

Ontem foi o exame. O primeiro exame. Comecei com energia, saí de lá a cair de cansada. A última parte foi de tal maneira difícil que era para arrasar connoco. Segunda temos outra oportunidade. Estou confusa, não sei o que fazer nem que exame escolher. Estou confusa e cansada, e o meu corpo ainda está um bocado abananado. Pedi uma opinião. Deram-ma. Vai um bocadinho de encontro à minha intuição. Mesmo assim, é terrível estar nesta posição de escolher sem saber o que fizemos bem ou mal. Sei perfeitamente que meti a pata na poça, sobretudo na segunda parte. Que resultado é que isso pode dar? Não sei bem. Sei que segunda temos outra oportunidade mas também sei que já chegamos lá cansados. Vamos ver. A partir de agora é esperar. Esperar e esperar. Até que as notas saiam a espera vai ser longa e precisamos mesmo de contar com a boa vontade de quem corrigir. O que me irrita mais é isto: meses de trabalho árduo e cansaço e depois espetam-nos com um exame que em parte é para arrasar connosco (como habitualmente). Se isto correr bem tenho motivos, muito motivos, para agradecer. 

14
Out20

E então tive medo do covid

Manga Meia-Loira

O desassossego com o exame da Ordem não pára. Se não é uma coisa, é outra. O mais irónico é que até me sinto relativamente preparada. O medo não vem do exame nem de ter de fazer o exame. O verdadeiro medo, o medo maior, vem mesmo de eventualmente não poder fazer o exame, isto porque ainda não recebi o despacho a admitir a exame, e porque pode acontecer de ter covid. Sinceramente, já só tenho medo disso. Neste momento, o meu medo em relação ao covid é só mesmo porque me posso ver impedida de fazer o exame. Já nem é só o facto de estar doente. Quando andamos meses a preparar um exame e depois podemos não o fazer por motivos alheios... só a ideia é demasiado frustrante e angustiante e deixa-me quase sem chão e sem ar. O mais curioso é que fico mais cansada e desgastada com este medo de não fazer o exame do que a estudar. Nunca desejei tanto nem tão profundamente que novembro chegasse rápido. Nem vou acreditar.

06
Out20

E se tudo falhar?

Hoje é terça e tenho medo. Muito medo.

Manga Meia-Loira

A semana passada recebi uma informação que, não sendo definitiva, pode pôr em causa todo o meu (longo) percurso no estágio. O chão desabou e chorei desalmadamente como já não me lembrava de o fazer.

Hoje, em conversa, lembrei-me (ou relembrei-me) que afinal há questões que podem ser colocadas no teste que não tínhamos equacionado. É uma imensidão de informação que foi despejada devido ao covid e que é impossível dominar. 

Hoje, ao contrário daquilo que diria há duas semanas, a possibilidade de tudo correr mal e eu perder o estágio e todo o esforço que fiz até aqui, é muito real. A possibilidade de não conseguir ir a exame é muito real. A possibilidade de chumbar no exame é tão ou mais real.

Com isto, há uma questão que tenho de colocar a mim própria e que está acima de todas as outras. O que fazer se tudo isto falhar? Não sei, na verdade não é possível antever como vamos reagir, nunca é. Sei que o chão vai desabar, e muito provavelmente vou ficar com a sensação de que o mundo acabou e com uma noção de falhanço enorme. Isso é quase inevitável, não adianta dizer que não. É ainda mais inevitável quando todo o meu percurso até agora foi praticamente em linha reta e sem grandes obstáculos ou falhas. Sobretudo na universidade, tive sempre resultados muito acima daquilo que esperava. Agora é diferente, muito diferente. Antes de tudo, tenho de colocar as coisas em perspectiva. Isto não é uma fatalidade nem se compara à ideia de perder alguém que amamos. Parece uma comparação parva mas não é. À partida vou continuar inteira e com os meus, e isso só por si já vale por tudo. Depois, tenho de racionalizar a questão: posso recorrer ou posso voltar a tentar. A seguir, tenho de ser prática e realista: eu não quero, de todo, exercer esta profissão. Não quero agora e provavelmente não vou querer no futuro, ainda que distante (aliás, eu costumo pensar que, se tudo correr bem, eu não volto a ativar a inscrição). Ou seja, isto não é uma questão de não poder exercer a profissão que quero. É uma questão interior, de mim comigo, que não é menos importante por isso. Se eu não concluir isto, vou ficar com a sensação de falhanço e de fracasso, como aquelas coisas que sabemos que daqui a vinte anos ainda nos vão moer e chatear. Vou ficar com a noção de auto eficácia muito afetada e reduzida. Não queria isso. Muito menos depois de ter trabalhado tanto durante estes dois anos de estágio e de ter trabalhado tanto para fazer os relatórios. Sobretudo depois de ter trabalhado tanto nisto. 

Não sei como vai correr, não sei como vai ser. Sei que hoje tenho medo, muito medo, e provavelmente vou continuar a ter até ao fim. E se tudo falhar? Não sei. Só sei que não será o fim do mundo nem o fim de nada. Assim o espero. 

 

06
Out20

E se tudo falhar?

Hoje é terça e tenho medo. Muito medo.

Manga Meia-Loira

A semana passada recebi uma informação que, não sendo definitiva, pode pôr em causa todo o meu (longo) percurso no estágio. O chão desabou e chorei desalmadamente como já não me lembrava de o fazer.

Hoje, em conversa, lembrei-me (ou relembrei-me) que afinal há questões que podem ser colocadas no teste que não tínhamos equacionado. É uma imensidão de informação que foi despejada devido ao covid e que é impossível dominar. 

Hoje, ao contrário daquilo que diria há duas semanas, a possibilidade de tudo correr mal e eu perder o estágio e todo o esforço que fiz até aqui, é muito real. A possibilidade de não conseguir ir a exame é muito real. A possibilidade de chumbar no exame é tão ou mais real.

Com isto, há uma questão que tenho de colocar a mim própria e que está acima de todas as outras. O que fazer se tudo isto falhar? Não sei, na verdade não é possível antever como vamos reagir, nunca é. Sei que o chão vai desabar, e muito provavelmente vou ficar com a sensação de que o mundo acabou e com uma noção de falhanço enorme. Isso é quase inevitável, não adianta dizer que não. É ainda mais inevitável quando todo o meu percurso até agora foi praticamente em linha reta e sem grandes obstáculos ou falhas. Sobretudo na universidade, tive sempre resultados muito acima daquilo que esperava. Agora é diferente, muito diferente. Antes de tudo, tenho de colocar as coisas em perspectiva. Isto não é uma fatalidade nem se compara à ideia de perder alguém que amamos. Parece uma comparação parva mas não é. À partida vou continuar inteira e com os meus, e isso só por si já vale por tudo. Depois, tenho de racionalizar a questão: posso recorrer ou posso voltar a tentar. A seguir, tenho de ser prática e realista: eu não quero, de todo, exercer esta profissão. Não quero agora e provavelmente não vou querer no futuro, ainda que distante (aliás, eu costumo pensar que, se tudo correr bem, eu não volto a ativar a inscrição). Ou seja, isto não é uma questão de não poder exercer a profissão que quero. É uma questão interior, de mim comigo, que não é menos importante por isso. Se eu não concluir isto, vou ficar com a sensação de falhanço e de fracasso, como aquelas coisas que sabemos que daqui a vinte anos ainda nos vão moer e chatear. Vou ficar com a noção de auto eficácia muito afetada e reduzida. Não queria isso. Muito menos depois de ter trabalhado tanto durante estes dois anos de estágio e de ter trabalhado tanto para fazer os relatórios. Sobretudo depois de ter trabalhado tanto nisto. 

Não sei como vai correr, não sei como vai ser. Sei que hoje tenho medo, muito medo, e provavelmente vou continuar a ter até ao fim. E se tudo falhar? Não sei. Só sei que não será o fim do mundo nem o fim de nada. Assim o espero. 

 

28
Set20

Quando é que chegamos a novembro, mesmo?

Manga Meia-Loira

Eu podia escrever um livro inteiro sobre tudo o que já aconteceu com a (des)Ordem onde estou inscrita e com a saga deste exame que vou fazer. Mas hoje recebi um e-mail que era aquilo que nunca queria ter recebido, fiquei sem chão e estou demasiado cansada, desgastada e revoltada para escrever muito. São mais uns dias de incerteza e muita vontade de cuspir em quem não tem o mínimo de respeito para com o trabalho, o esforço, o empenho, a dedicação e a vida dos outros. É pouco elegante? É, mas é o único pensamento que me ocorre. Depois de todas as informações contraditórias, dos adiamentos por causa do covid, de não haver datas, de toda esta longa história cheia de contrariedades, não há outra resposta que me ocorra se não a vontade de cuspir em quem tomou aquela decisão, que nem sei quem é. Posto isto, quando é que é novembro, mesmo? Vou começar a contar os dias. 

26
Set20

Cansaço e nada de novo

Manga Meia-Loira

Setembro vai quase no fim e o exame é já aqui, pelo que os meus dias são estudar, estudar e estudar. Entre estudar e as aulas, os dias correm e fico sem tempo e sem espaço para muito mais. Quinta-feira tive uma consulta em que também não ouvi nada de muito novo e é só isto. Por cá continuaremos, a estudar e a ter aulas e a prepar o exame de todos os exames. Novembro será já aqui e nunca desejei tanto um mês de novembro como este ano. Aliás, nunca a palavra novembro me pareceu tão bonita. Férias. A parte disponível do meu cérebro diz novembro e férias. É isto. Depois de um verão a escrever a tese e de outro verão a estudar para este exame, nunca a palavra férias me pareceu tão perfeita. Agora vou só continuar aqui com sono e daqui a pouco vou acabar por adormecer, que amanhã é mais um dia. De estudo, pois claro.

13
Set20

O princípio da reta final

Manga Meia-Loira

Foi hoje. Hoje enviei, finalmente, os relatórios e está dado o primeiro passo desta reta final. Hoje foi o princípio do fim e eu só me posso sentir agradecida.

Depois de todas as incertezas. Depois de ter passado janeiro e fevereiro a achar que em abril estavam os relatórios entregues e em junho estava tudo feito. Depois de ter lidado com a angústia de ver o covid a impedir-nos de terminar os relatórios, e de nos informarem que não haveria adiamentos. Depois de ter achado que não ia haver adiamentos e, ao mesmo tempo, consciencializar-me de que não seria possível manter o calendário. Depois de finalmente - porque demorou como tudo e essa espera moeu-nos a cabeça - terem adiado tudo. Depois de não sabermos quando retomaríamos o calendário. Depois de finalmente nos ser possível retomar tudo e termos novas datas, mesmo assim com os constrangimentos das férias a dificultarem-nos a vida. 

Foi hoje. O dia em que, depois de muito esforço e muitos constrangimentos, os números se alinharam e os relatórios foram entregues. 

Ainda falta o resto, ainda falta ter respostas, ainda falta a entrevista, ainda faltam os exames. Mas hoje foi o início. 5 meses depois da data prevista, hoje finalmente foi dado o primeiro passo. O princípio do fim. Foi a sério. E quando se espera tantos meses e no meio de tantas incertezas e informações contraditórias, quase não dá para acreditar. Foi hoje. Aconteça o que acontecer, "tudo vale a pena se a alma não é pequena". Sigamos, então. O fim é já ali e há-de ser o princípio feliz de alguma (muita) coisa.

19
Ago20

Novembro? Novembro é já amanhã

Manga Meia-Loira

Agosto segue e nós seguimos com ele. Um agosto que não tem sido tão agosto quanto isso, por entre o tempo de inverno que se sente no norte e todos os manuais, apontamentos e relatórios que é preciso ler e fazer para concluir a Ordem. A pandemia trocou as voltas a muitos de nós e aos nossos planos, e este agosto deveria ser de férias, de aproveitar o tempo em família e preparar e planear o futuro Não é. As provas da Ordem foram adiadas e com elas arrastou-se tudo para depois do verão. Ainda assim seguimos, firmes e fortes na convicção de trabalhar a sério para concluir tudo isto. Firmes e fortes na convicção de chegar ao fim com a sensação de missão cumprida e dever cumprido. Novembro é já amanhã. Já disse que novembro é já amanhã? Qual setembro, qual quê, novembro será o novo setembro. 

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