Um ano e uma pandemia depois
Há um ano decidi que era altura de começar a estudar para o exame da Ordem e fui comprar cadernos e porta-lápis e tudo. O exame ia ser em junho. Pelo meio, comecei mesmo a estudar e as coisas foram correndo normalmente até março. No início de março ainda estava tudo preparado para que os relatórios fossem entregues em abril, a entrevista fosse feita em maio e o exame em junho. Na segunda semana de março a realidade começou a mudar muito rapidamente e de forma abrupta, e de repente estavam os tribunais fechados, o país parado e o estado de emergência decretado. Aliás, eu escrevi aqui um texto no início de março em que dizia que tudo terminaria em junho. O que se seguiu foi uma série de incertezas e angústias, a vários níveis. Primeiro a Ordem deu-nos a informação de que poderíamos, se não nos fosse possível terminar os relatórios, prorrogar o estágio e nada seria adiado. Foi o primeiro embate e ninguém esperava essa decisão. Depois, abriram as inscrições para a entrega dos relatórios como se nada fosse para as encerrarem 30 minutos depois. Uns tempos depois, perante a inevitabilidade de adiar tudo, e por ser de todo impossível entregar os relatórios e fazer a entrevista e o exame naquele contexto, a Ordem decidiu adiar tudo. A seguir, tivemos finalmente datas. Há duas semanas, com o exame marcado para a sexta e a segunda do fim-de-semana de Halloween, veio a proibição de circulação e eu voltei a achar que íamos ver tudo cancelado. Ao fim do dia veio a confirmação de que o exame se iria realizar. De realçar que, pelo meio, entreguei os relatórios todos e recebi um despacho para suprir irregularidades que me deixou a chorar desalmadamente e me fez perder o chão. Foi tudo muito lento, foi tudo feito e decidido em cima do joelho, e a pressão foi absurda, agudizada pela forma como a Ordem geriu tudo. Foi duro, muito duro, de uma forma que nem consigo descrever bem. Agora, um ano depois do dia em que decidi que ia começar a estudar para o exame e uma semana depois do exame, depois desta série de acontecimentos, consegui pela primeira vez dormir bastante e de forma descansada. Ontem e hoje consegui, finalmente, dormir sem pensar no exame e sem pensar em mais nada e descansar. Precisava mesmo muito disso. Não sei se correu bem ou não (e correr bem aqui é passar), não sei quando vamos ter resultados, não sei como vou reagir. Tenho de descansar e preparar o futuro, acreditando que tudo irá dar certo. Vai correr tudo bem. De 2020 fica esta frase.